Meu pai......penso muito em ti......tenho muitas saudades de nossos encontros e reencontros e aquele teu sorriso no olhar ao me avistar e ao me ver....meu filhão você dizia, meu nenê, em certos momentos, teu carinho sobrando e teu gênio de mestre, nossas risadas de nossas competições não declaradas para ver quem era capaz de fazer a maior troça, a piada mais espantosa, criar o apelido mais perfeito, desdenhar do fim, desdenhar e rir dos acidentes, sorrir frente a dor e chorar de alegria..ficar silencioso esperando aquela palavra decisiva ou aquela ideia longamente ruminada e pensada de uma discussão de décadas entre nós..das tuas lembranças de tudo que você viveu...eu estava mesmo lendo a Odisséia hoje e entendendo que a cultura esta ali depositada é toda ela feita numa forma de narrativa quase autobiográfica e me lembrei de tuas lições que combinavam um conhecimento e uma lembrança...uma pitadinha precisa e límpida de cada coisa...lembro da tua concisão, economia de palavras e uma certa preocupação em burilar e limitar a expressão a uma chave....você sabe que eu li fragmentos gregos, você sabe que eu li poesias e vi muitas vezes tuas formas de expressão ali....eu agradeço muito todos os momentos sérios, engraçados, pesados, tristes e trabalhosos que vivemos juntos...e agradeço muito mais ainda a tua virtude, atua forma virtuosa e generosa de julgar os outros e todos a tua volta...fazias ironias que só eu sei das ambições de teus amigos, dos esforços bobos, das vaidades irrelevantes e eras ao mesmo tempo compreensivo quase dizendo para mim com teu olhar: veja isso, ele está pirando com isso, mas ele é legal, ele é assim, tirando esse e aquele defeitinho é um bom amigo uma boa companhia e também alguém com quem a gente pode falar de verdade...você sabia discernir isso muito bem...e eu até imagino que você dividia as pessoas não em simples e complexas, ricas ou pobres, mas em pessoas verdadeiras e pessoas de aparência de ostentação...eu lembro quando você me disse uma coisa que me levou a ser muito mais responsável que foi muito simples e meio assim: a gente vive em meio aos homens e não há nada que a gente possa fazer, dizer ou construir que não possa ser sabido por eles....então...o resto eu conclui como uma lição de certa moralidade e responsabilidade...coitados daqueles que agem, falam e constroem julgando que os demais não saibam exatamente o que eles estão fazendo, dizendo ou construindo...foi você que acabou me dando esta noção tão valiosa de que o espaço público é meio sagrado mesmo de que um homem de verdade precisa ter vergonha na cara e não julgar ou se assoberbar pensando que possa enganar aos demais....e eu também entendi a partir de ti - meu querido pai, meu amado pai - que a dignidade de um home não aparece através da sua força, mas sim através do modo como ele trata suas fraquezas e as fraquezas dos demais...muito obrigado...te amo meu pai...daqui a pouco faz um ano que a gente trocou a última palavra em que só eu falei algo parecido como você me disse várias vezes: pode ir em frente, pode seguir, a gente cuida de todos e tudo vai ficar bem...e eu te prometi isto e continuo tentando ser teu filhão...teu retrato um pouco aumentado e ainda com poucos passos no mesmo caminho...muita saudade...desculpe se escrevo mais e falo mais do que você....mas eu lembro que você gostava de me ouvir e de ler o que eu escrevia, e mesmo quando discordava mandava eu fazer mais vezes isso e tentar mais e nunca desistir de me comunicar ou tentar me comunicar...você mesmo me disse também que uma palavrinha pode ser o melhor remédio em meio a uma grande confusão e que talvez o castelo inteiro caia somente com uma pedrinha...e eu lembrei de Davi ontem.....este nome que nos acompanha sempre na amizade e na coragem...vou parar....espero que tu e o mano possam um dia me reencontrar....
Nenhum comentário:
Postar um comentário