A abertura fenomenal do extraordinário ensaio de Clifford:
“Um armador estava prestes a
lançar ao mar um navio com emigrantes. Ele sabia que o navio era velho, e que
não fora muito bem construído em sua origem; que vira muitos mares e climas, e
que necessitara amiúde de reparos. Foram-lhe apresentadas dúvidas quanto à sua
navegabilidade. Tais dúvidas tomaram sua mente de assalto e o infelicitaram;
ele pensou que talvez devesse vistoriá-lo e repará-lo por completo, mesmo que
isso implicasse grandes despesas para si mesmo. Antes que o navio partisse,
contudo, ele conseguiu superar estas reflexões melancólicas. Ele disse a si
mesmo que o navio atravessara em segurança tantas viagens e suportara tantas
tempestades que era vã a suposição de que não retornaria a salvo também desta
jornada. Ele confiaria na Providência, que dificilmente deixaria de proteger
aquelas infelizes famílias, que deixavam sua pátria em busca de melhor sorte
alhures. Ele buscou tirar da mente todas as suspeitas mesquinhas acerca da
honestidade dos construtores e empreiteiros. Desta forma, ele obteve a sincera
e cômoda convicção de que o seu navio era plenamente seguro e navegável; ele
assistiu à sua partida de coração leve, e desejos benevolentes pelo sucesso dos
exilados em sua futura terra estrangeira; e ele foi apanhar o dinheiro do
seguro quando o navio afundou no meio do oceano e nada mais disse a respeito.”
(tradução de Rodrigo Jungmann de Castro)
"Todos nós sofremos bastante
gravemente com a permanência e o apoio a crenças falsas e com os atos
fatalmente errados que elas produzem, e o mal em que se incorre quando uma
crença dessa natureza é albergada é grande e amplo. Mas um mal ainda maior e
mais amplo se manifesta quando uma atitude crédula é mantida e apoiada, quando
o hábito de crer por razões indignas é fomentado e tornado permanente [...]. O
perigo para a sociedade não é apenas o de crer em coisas erradas, embora esse
perigo seja grande o bastante; mas o de que ela se torne crédula e perca o
hábito de testar as coisas e de examiná-las; pois assim ela haveria de retornar
à barbárie." (idem Clifford)
Grato a indicação do Rogério Lopes...
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