O CPERS DA VELHA CONJUNTURA E A
ESTRATÉGIA DA JUVENTUDE
Sim, precisamos superar as dores
da conjuntura com uma estratégia de futuro. Então, que tal começarmos pelos
jovens? Transformando a velha guarda em conselheiros e dando espaço para os
jovens? O que nós falta não é sabedoria ou conhecimento, mas sim a capacidade
de nos libertarmos das tradições que nos aprisionam e nos oprimem. Ando
preferindo os erros da juventude às certezas da velhice. Melhor a morte
gloriosa do que uma morte miserável e humilhante. Para a luta que temos pela
frente só a energia da juventude pode vencer. A hora é agora!
Minha intuição fundamental para
esta conjuntura e para a estratégia necessária para superá-la não somente no
CPERS ou nas entidades e movimentos sociais, mas também nos partidos e na
Frente Brasil Popular é de que devemos promover uma renovação geral. E uma
renovação geral que antecipe o processo de tomada de poder e de posições por
parte da juventude militante brasileira. Isso decorre e significa na prática
duas coisas.
Primeiro, a disputa de hegemonia neste
país e no mundo hoje não ocorre mais de forma restrita e principal aos adultos,
aos leitores de jornal, hoje ela se dá fundamentalmente e diretamente entre os
jovens e com os jovens. Uma prova disto pode ser apontada pelas origens do
processo global de reação ao neoliberalismo que marca seu inicio na Batalha de
Seattle, segue até o ciclo que abrimos e vivemos a partir do Fórum Social
Mundial em Porto Alegre e no Brasil em 2001 até as sucessivas reeleições do
projeto do PT e da Frente Popular com Lula e Dilma até hoje. Com acúmulos e
avanços que levaram os jovens á s ruas em 2013 e permitiram frente a um
conflito intenso nas redes sociais em 2014 a derrota do candidato Aécio Neves e
a superação da esfinge Marina Silva. Na minha avaliação a vitória de Dilma foi
garantida por ampla coalizão, mas com grande tomada de posição da juventude
brasileira que foi cevada pelas conquistas. E isso ocorre com resultados cada
vez mais rápidos. Isso ocorre por conta da dinâmica geracional e comunicacional
ter avançado sobre esta faixa etária e também porque os problemas já atacam a
vida dos jovens diretamente. Este processo teve provavelmente diversas etapas
nos últimos 60 anos, mas agora ele é mais intenso de fato porque os jovens estão
sintonizados e tem mais tempo livre do que os adultos. Eles também tem maior
desapego a certas tradições e possuem menos totens e símbolos cristalizados em
suas mentes. Eu diria que o regime de crenças dos jovens hoje é bem mais
instável do que em outros tempos também por conta da diversidade cultural e
social presente nas sociedades atuais. Os jovens são o vetor da história atual.
E são eles que possuem energia e uma perspectiva mais larga que nós para
superar nossos impasses tradicionais.
Segundo, quem não entender isto
está fadado a se manter no poder ou disputar o poder pela esquerda enquanto
estiver vivo, mas passar o poder para seus piores adversários que se dedicaram
a emular os jovens enquanto ele estava ocupado em monopolizar os espaços,
posições e decisões em seitas, frações correntes ou partidos de esquerda. Há
uma geração de velhos militantes que não passa o bastão e sacrifica não somente
uma ninhada partidária, mas a possibilidade de mudar este país por não
compreender o seu lugar neste processo de resistência.
Quanto a primeiro ponto não é
nada difícil observar que a disputa da juventude já ocorre com os facistas e
golpistas e que a mídia percebe isto claramente. Para romper isto é preciso
dirigir nossa atenção aos jovens e abrir espaços para que eles se antecipem aos
ataques. De outro lado é bom dizer que pela dinâmica e velocidade dos conflitos
atuais precisamos muito da energia e vitalidade dos jovens para resistir,
estancar os ataques ao povo e aos trabalhadores e retomar a direção da sociedade
para avançar de forma mais intensa e progressista.
Uma parte da esquerda vive ainda
de discurso e pensamento mágico e uma outra parte cai no discurso do fim do
mundo. E em meio a isto ficam disputando personalisticamente com um discurso
ideologizado em grande parte artificial para manter aparelhos, burocracias,
mandatos sem construir um bloco político estratégico. Chamo isso de
bipolaridade neurótica da esquerda. Parte de uma agenda ou pauta que é sempre
absoluta (tudo ou nada) e inegociável e acaba sempre derrotando as alternativas
e contribuindo para passar o poder para a direita. O problema deste pessoal não
é de sinceridade nem de legitimidade, mas sim de inteligência estratégica. E em
geral chamamos estas posições de esquerdismo...este é para mim o debate mais
crucial para a sobrevivência e o fortalecimento da esquerda brasileira hoje e
ele nos leva diretamente para a discussão e a formação em diálogo e de forma
respeitosa com a juventude e seu papel coletivo no Brasil que está em plena
transição demográfica. Ou faremos isso - unificando e acordando propostas e
compreendendo limites - ou seremos soterrados pelo processo de acomodação
demográfica e geracional.
O tema da urgência de uma unidade
na esquerda – que para alguns significa ter uma frente de esquerda e para
outros apenas ter a esquerda hegemonizada por uma esquerda de verdade, o tema da
chegada da crise econômica do capitalismo no nosso pais e a onda reacionária
que enfrentamos nos mostra que vivemos tempos decisivos. A urgência envolve um
movimento de socorro e uma mudança do método e do nosso padrão de jogo na
esquerda. Chegamos a um limite conjuntural e um desafio estratégico. Precisamos
trazer o futuro o mais rápido possível parar o presente. Precisamos adiantar o
nosso relógio político. Se nós brasileiros continuarmos aguardando a ordem
natural das coisas quando a transição demográfica se realizar os governos já
estarão nas mãos dos reacionários e daí não haverá mais como retomar. E isso
significa que colocar os jovens no poder e nos espaços de poder o mais rápido
possível serve de um lado para ampliar a base que vai construir o futuro que
precisamos e de outro para criar condições de barrar a onda conservadora que
também é efeito da transição etária e demográfica e da acomodação política da
sociedade.
A geração dos jovens de hoje não
pode sofrer a barragem que a minha geração sofreu no acesso aos espaços
políticos por parte da velha guarda, da geração heróica da ditadura, dos
construtores ou fundadores do partido, ou dos mais velhos e mais admirados e
notáveis quadros da história do movimento sindical e político brasileiro. Esta
geração está nos eu limite e a minha geração ou caiu de banda ou resiste com
dificuldades.
Precisa garantir mesmo que os
jovens vão ocupar os espaços e dirigir as coisas para que eles apostem no
processo e também para que os mais experientes comecem a atuar em espaços onde
seus papeis educativos e orientadores terão mais eficácia e resultados.
Nós mais velhos precisamos saber
abrir estes espaços de forma determinada e deliberada. Precisamos acelerar este
processo e parar de monopolizar o poder seja sob qual argumento for. Porque só isso
vai salvar a esquerda, superar os impasse da conjuntura algumas disputas que
não tem construído hegemonia e atrair mais jovens ainda.
Eu creio que os jovens vão
avançar mais rapidamente a agenda progressista. Vão errar sim, mas não vão
errar mais que os maduros ou mais experientes. A margem de erro pode ser
reduzida com mais colaboração e garantindo de fato mais democracia e
participação nas decisões.
Aliás, vejo, por exemplo, que ocorreu
uma razoável renovação dos quadros do magistério estadual a partir dos
concursos públicos do Olivio ( minha geração) e do Tarso (geração atual) e vejo
claramente que todos os jovens no CPERS hoje tendem a avançar mais até mesmo
porque é uma geração bem mais informada que a minha e as anteriores.
Eu achei a fala de alguns velhos militantes
no conselho geral que assisti esta semana muito na linha da moralzinha e de um
velho revanchismo que não constitui nem
proposta e nem solução e só reforça os impasses costumeiros. Isso não
ajuda em nada. Fazer avaliação e crítica é importante quando se chega a uma
proposta não quando se fica só fazendo declaração de intenções ou fazendo
cosquinha em vaidades e velhas intrigas e disputas.
A capacidade de fazer autocrítica
é importante, mas quando a autocrítica se repete é preciso tirar o time e dar
espaço para outros. Mas, então, a única contribuição de que faz excessivamente
auto critica é cair fora.
Quando coloco uma fala sobre isso
quero dizer que não dá pra dirigir sindicato com discurso de derrota – nem a
oposição e nem a situação deveriam fazer isso porque dissolve qualquer
possibilidade de motivar os trabalhadores para a luta e torna mais difícil
ainda mobilizar quando temos um inimigo tão perverso e covarde pela frente.
O que aconteceu no sindicato em
2015 com o governo Sartori foi terrível. Isso é da conjuntura, mas também é
resultado de uma estratégia política estreita produzida no passado. A única
forma de superar deve envolver então uma correção na estratégia.
Superando os ranços dos quadros
que tem passado décadas disputando os mesmos espaços e sustentando os mesmos
métodos e que carregam relações tradicionais e muitas vezes equivocadas sobre a
nossa luta e o nosso projeto.
A avaliação é precisa: estamos
sim colhendo os presentes que nossa ação sindical de um lado plantou e do que
nossa ação política também plantou. E isso não é exclusividade ou
responsabilidade política de partidos ou de correntes sindicais. Nós deveríamos
ser capazes de olhar para a esquerda gaúcha e pensar nos seus resultados e
métodos de relação que nos trouxeram até aqui. E precisamos combinar coisas
neste campo, criar um bloco ou frente com novos padrões de relação e combinar
com respeito e solidariedade a ação e a avaliação. Não tenham dúvida alguma
porque a gente sempre cresce quando cumpre o combinado. E quando o combinado é
coletivo a gente sai do empurra-empurra, porque se estiver errado você sabe
precisamente onde corrigir.
É preciso fazer a leitura de
fundo do processo todo. Desta relação entre o que eu chamo de Dores da
Conjuntura e Estratégia de Futuro. E quando você faz isso supera o puro
ativismo voluntarista ou revanchismo eleitoral sindical que é o que ocorre
hoje. E ganha credibilidade no diálogo com os outros setores.
Estar preso as dores a aos
horrores de uma conjuntura não ajuda na estratégia, não constrói esperança e
nem nos fortalece.
Não dá para ser ufanista nem
derrotista. Não dá para exagerar na avaliação das perdas nem prometer mágicas
na luta sindical. ( A intuição que tem sido apresentada sobre isso é a frase
que muitos de nós compartilhamos em debates já: tá na hora de parar de dividir
a nossa categoria em anjinhos de um lado e demônios do outro. Ou seja, é
preciso parar de prometer o céu e culpar os outros pelo inferno. Este inferno é
de todos nós. E céu será resultado de todos nós e para todos nós também.)
Estou aqui no Araújo vivemos hoje
uma crise de liderança e clareza política. Tem uma geração nova vindo aí que
precisa superar o obscurantismo e a malandragem e ideologização por exagero nos
debates.
Apresentando a contribuição ao
debate sobre a luta de 2015. Precisamos fazer este debate com muita clareza nas
escolas antes da assembléia.
Creio que você e os demais jovens
do CPERS poderiam construir um fórum amplo para superar está confusão que eu
vejo na velha guarda.
E eu creio que isso pode ser
decisivo para construirmos uma estratégia de recuperação das perdas.
A conjuntura será superada com
estratégia não com táticas. Temos no CPERS o mesmo quadro dos partidos de
esquerda do Brasil hoje.
Isso significa que o CPERS tem
que superar o sindicalismo tateador para avançar como movimento político.
DERROTAS NA ASSEMBLÉIA
LEGISLATIVA
Nós perdemos na ALERGS não porque
a direção é ruim, mas porque nossa força enquanto categoria não se traduz nas
bancadas de deputados eleitos. Perdemos já na eleição dos deputados. E não
adianta o esquerdismo ficar a vida inteira disputando as vagas da esquerda.
Nossa vida não vai ser melhor se trocarmos os 13 deputados do PT por 13
deputados do PSOL. Vamos continuar tendo minoria. A questão é como a esquerda e
os educadores que se identificam com ela – e isso inclui muitos de centro e do
esquerdismo vamos combinar – vão eleger uma grande bancada que sustente nossos
direitos. A derrota da assembléia por poucos votos mostra apenas o nosso limite
sindical na fronteira da esfera política. Mesmo sob o prisma posto pela crítica
à direção, nossas derrotas foram no limite e pressionaram muito o governo. Nãos
e pode dizer que a vida do Sartori foi fácil e nem que seus projetos foram
aprovadas sem resistência e sem pressão intensa das nossas categorias. Ver que
o Sartori venceu muitas votações com apenas um voto de diferença mostra isto.
Ver que os projetos forma tirados de pauta e que as votações vieram até 29 de
dezembro mostra isso também.
Então, temos sim a possibilidade
de avançar no terreno político e ousar fazer uma política em que nossas
categorias de trabalhadores e partidos de esquerda tenham maior participação da
juventude e relações políticas estratégicas mais afinadas e concertadas.
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