"A humanidade permanece de forma impenitente na caverna de Platão, ainda se regozijando, segundo seu costume ancestral, com meras imagens da verdade. Mas ser educado por fotos não é o mesmo que ser educado por imagens mais antigas, mais artesanais. Em primeiro lugar existem à nossa volta muitos mais imagens que solicitam nossa atenção. O inventário teve início em 1839, e, desde então, praticamente tudo foi fotografado, ou pelo menos assim parece. Essa insaciabilidade do olho que fotografa altera as condições do confinamento na caverna: o nosso mundo. Ao nos ensinar um novo código visual, as fotos modificam e ampliam nossas idéias sobre o que vale a pena olhar e sobre o que temos o direito de observar. Constituem uma gramática e, mais importante ainda, uma ética do ver. Por fim, o resultado mais extraordinário da atividade fotográfica e nos dar a sensação de que podemos reter o mundo inteiro em nossa cabeça - como uma antologia de imagens."
Susan Sontag Na caverna de Platão. In: Sobre Fotografia. Trad. Rubens Figueiredo. São Paulo Companhia das Letras, 2004, p. 13.
(Obs. O ensaio Original foi escrito por Sontag (1933-2004), uma das minhas ensaístas preferidas, entre 1974 e 1977 e publicado com este maravilhoso primeiro parágrafo de abertura em livro coletânea de ensaios em maio de 1977. Recomendo muito a leitura destes ensaios para ver aquilo que nesta época da cultura das imagens, algo do que falo desde 1995, ver bem o que fica. Tenho, enfim, uma predileção por imagens em preto e branco e que me parecem também os negativos da história. A imagem que escolhi para ilustrar está no grupo da revista PHOTOGRAPHIZE e é de Rodney Smith (1947---) veja aqui e me pareceu ilustrar de forma bem aberta ao que temos o direito de observar e o que não temos mais direito de observar e que foi devorado pelo tempo, pela moda, pela engenharia e pela marcante violência industrial e social da atual gramática deste nosso mundo. Olhar para o passado deve ser muito assombrador quando nos faz olhar para o futuro também. Para fechar isso me lembra o tema de uma homenagem a um grande mestre Saber é arriscado, e para mim é arriscado sim, pelo menos tanto quanto o não saber também traz riscos, ainda que destes sejamos ignorantes até que...uma imagem nos revela o que é e o que não é mais. E como toda homenagem nos mostra sempre há nelas um exagero do coração e uma ambição de imortalidade na fugacidade deste mundo que hoje é eternizado mais em imagens do que em narrativas.)
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