Vou cruzar um pouco aqui o Case presente com algumas reflexões sobre crenças e liberdade. É só uma pitadinha e não espero convencer ninguém, nem provar um lado certo, quero apenas despertar um diálogo sobre isso que é a forma como ando observando e interpretando certos fenômenos bem controversos. Penso que todos nós temos um quadro de referências herdado e que há uma tendência de que este quadrinho sofra nos próximos tempos mais e mais abalos por intensificação, mais confrontos e testes coletivos entre os nossos sistemas de crenças e os dos demais seres humanos e que me parece que isso está a ocorrer de forma global nas redes sociais. Em diversas escalas, inclusive, continental, nacional, estadual, regional e local. De tal modo que num primeiro momento parece ocorrer uma simplificação e um achatamento de posições coletivas mas à medida que vai passando o tempo começam a surgir certos totens de preconceito e de liberdade que entram então em confrontos, Penso que o escopo que me interessa aqui nisto é que isto possa ser caraterizado como uma luta cultural, como uma espécie de lutas civilizatória também. O nosso conhecimento, nossa formação moral, nosso kit básico de convicções ou aquilo que consideramos certo e verdadeiro, suponho aqui, está absolutamente envolvido por um sistema de crenças adquiridas e desenvolvidas em nosso jogo social particular. Este jogo começou muito cedo na nossa vida e temos muitas coisas que ainda fazem parte dele como roupas, meias, bonés, flâmulas e tênis velhos que ainda estão lá no fundo dos nossos guarda-roupas. Talvez uma das fâmulas mais legais é justamente a de querer ser diferente ou ter uma identidade pessoal distinta e livre da influência de outros. Esta é aquela que nos faz buscar autonomia moral e intelectual e também é aquela parte que nos faz nos encorajar a enfrentar a maioria mesmo quando a maioria pode nos ser toda desfavorável. Mas mesmo isso - este impulso contra a maré - pode ser também apenas a influência de uma mente paranoica ou insegura socialmente. Alguns parecem ter certas crenças entranhadas que as fizeram levar muito à sério à si mesmas..e ficam esgrimindo isso aqui e ali com razoável paixão. Algumas dessas crenças, já observei isso antes, são rígidas e parecem funcionar como guardiões da personalidade. Outras são mais flexíveis e são sustentadas somente ao sabor de um interesse momentâneo. Tudo se passa como se cada um fosse um player em um game, e assim um por um concorresse em um campeonato ao longo da vida e fosse adquirindo com maior ou menor perfeição, de modo formal ou mais informal certas ferramentas, conceitos, crenças, convicções, opiniões e proposições (aqui os jargões e metáforas, tiradas, piadas, analogias, símbolos culturais e gírias, poemas e quotations de diversos tipos devem ter um lugarzinho também). este acervo cultural particular deve espelhar afinidades, preferências e escolhas. Vejo numa imagem em perspectiva vários cruzamentos em nosso encontros então. Nossos diálogos em que os ditos e não ditos, os escritos e não escritos, o que é pensado, confessado, reprimido ou negado jogam também por certa pressão social. Parece sim que há uma ambiência e que é assim que se explica certas adesões voluntárias e involuntárias a certas crenças. Como isso chega a ser refletido pelo sujeito pouco me importa agora, nem o seu nível de cognição, certeza, se isso encaixa num sistema de crenças mais amplo e sólido ou se são somente fragmentos que vez ou outra ascendem à consciência e se expressam quando provocados por algum efeito exterior tipo efeito manada, surto de linchamento, adesão coletiva mecânica ou orgânica a um movimento, e com todos ingredientes possíveis de mais ou menos justificação, mais ou menos racionalização, mais assertividade retórica e mesmo excessiva clareza na expressão não torna estas crenças ou proposições como chaves que suspendem mistérios. Ao contrário, quanto maior a precisão, parece-me que maior fica a dúvida de que não possa ser tão simples assim, porque parece que a clareza toca bem no sistema de crenças, ela parece hierarquizar um tratamento das questões, mas isso não desentranha simplesmente certas convicções. Me aparece aqui uma pista de porque os símbolos nos fascinam tanto, porque talvez dissolvam com mais sutileza a resistência de nossas crenças, como certos brinquedos parecem mais inocentes por serem brinquedos e ameaças quando são reais. Os símbolos parecem jogar com aquela folga no êmbolo que torna possível a nota mais precisa, sem colocar em xeque a perícia do trumpetista. E talvez seja por isso também que uma forma de dissolver certas dúvidas envolve de fato desenhar o esclarecimento para facilitar a compreensão, figurar um esquema ou modelo, mostrar uma imagem ou foto e deixar o nosso interlocutor pensar por si mesmo. Mas é preciso dizer também que deve haver algo de errado, quando ao pensar ele volte apenas a exibir velhos lugares comuns, sem perceber, neste tempo, o que isso significaria agora, para nós aqui e no contexto em que nós vivemos. Aqui, uma percepção coletiva e confrontada com uma ilusão de verdade ou sentido individual que apenas não foi atualizada coletivamente. Pensando nisto, me dei por conta de que alguns ficam alguns tempos fora do jogo e quando voltam não percebem o que foi se acumulando, avolumando aqui e ali e que mobilizou maioria. E não se trata apenas de atualização temática não, isso envolve estabelecer certas relações entre fragmentos aparentemente dispersos no momento anterior. Mas é só isso e isso não é nada demais, enquanto o que estiver em jogo são só crenças e não pessoas, vidas de pessoas, sonhos e a possibilidade de alcançar a felicidade para algumas pessoas que não tem tido uma vida tão fácil assim.
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