A imagem da postagem de um amigo
no facebook de um fogão à lenha me fez lembrar o fogão à lenha de meu avô que
eu mesmo tratava de alimentar e manter acesso quando menino. Sendo especialista
nisto e com certo entusiasmo excessivo na execução da tarefa de alimentá-lo e
ficar próximo dele. E de tal modo isso está marcado em minha memória que até a
portinhola da fornalha posso desenhar. Posso desenhar e reconstruir em
perspectiva, aliás, porque me é cara esta imagem na minha memória, a bancada
inteira do fogão sobre tijolo e chapa dentro da cozinha e com as janelas e a
mesinha anexa ao lado. Fogão onde eu podia ou ajudar a fazer desde polenta para
os cães até uma feijoada bem saborosa. Onde eu passava um café que nunca ficava
frio e também onde eu queimei alguns velhos rascunhos de pouco valor e cheios
de garranchos. Mas nada me é mais caro neste cordão de lembranças do que meu
avô sentado naquele lugar aconchegante e passando manteiga e geléia de uva em
pães de centeio que depois eram cortados em cubinhos e digeridos calmamente
entre um gole e outro de café, com um guri lhe fitando e ouvindo suas expressões
em alemão que ficaram guardadas na lembrança, apesar do seu laconismo e idioma
estranho. Poucas expressões de um velho lacônico e espartano que ali ao fogo e que
silenciosamente lembrava até mesmo de alguns combates da primeira guerra
mundial. Dizia, ao meu ver, com aqueles olhos gateados e felinos saber que
estava realmente vivo pelo calor do fogo. E eu pensava em todos aqueles que não
podiam mais ter está sensação do calor do fogo e que deve mesmo ser algo
parecido com a morte e lembrar disso – destas ausências - deve mesmo doer. Como
quem sente a dor e a falta eterna de quem perdeu um amigo, um irmão, um pai, um
avô ou um companheiro.
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