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sábado, 20 de junho de 2015

O FOGÃO À LENHA DO MEU AVÔ WILHELM



A imagem da postagem de um amigo no facebook de um fogão à lenha me fez lembrar o fogão à lenha de meu avô que eu mesmo tratava de alimentar e manter acesso quando menino. Sendo especialista nisto e com certo entusiasmo excessivo na execução da tarefa de alimentá-lo e ficar próximo dele. E de tal modo isso está marcado em minha memória que até a portinhola da fornalha posso desenhar. Posso desenhar e reconstruir em perspectiva, aliás, porque me é cara esta imagem na minha memória, a bancada inteira do fogão sobre tijolo e chapa dentro da cozinha e com as janelas e a mesinha anexa ao lado. Fogão onde eu podia ou ajudar a fazer desde polenta para os cães até uma feijoada bem saborosa. Onde eu passava um café que nunca ficava frio e também onde eu queimei alguns velhos rascunhos de pouco valor e cheios de garranchos. Mas nada me é mais caro neste cordão de lembranças do que meu avô sentado naquele lugar aconchegante e passando manteiga e geléia de uva em pães de centeio que depois eram cortados em cubinhos e digeridos calmamente entre um gole e outro de café, com um guri lhe fitando e ouvindo suas expressões em alemão que ficaram guardadas na lembrança, apesar do seu laconismo e idioma estranho. Poucas expressões de um velho lacônico e espartano que ali ao fogo e que silenciosamente lembrava até mesmo de alguns combates da primeira guerra mundial. Dizia, ao meu ver, com aqueles olhos gateados e felinos saber que estava realmente vivo pelo calor do fogo. E eu pensava em todos aqueles que não podiam mais ter está sensação do calor do fogo e que deve mesmo ser algo parecido com a morte e lembrar disso – destas ausências - deve mesmo doer. Como quem sente a dor e a falta eterna de quem perdeu um amigo, um irmão, um pai, um avô ou um companheiro.

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