A questão de “se faz sentido
dizer que uma parte significativa da nossa vida é sofrimento?” apresentada pelo
Professor Flavio Williges que segue a ela, para justificar e estender o tema,
apontando um rol de “sofrimentos da velhice”, as dificuldades e “ameaças à vida
dos jovens em países pobres”, “as marcas psicológicas permanentes deixadas pela
luta pela sobrevivência”, “perseguições”, “preconceitos” seja por imposição ou
exposição. E o Flavio também aponta para o Budismo como uma forma de reflexão
ou de pensamento que lida com este tema.
Ora, o sofrimento é sim parte de
nossa vida.
Vou tentar ser um pouco socrático
aqui. Para mim este tema que é retirado da experiência de muitos, senão de
todos, é um tema existencial por excelência. O sofrimento é sim uma das
possibilidades sempre presentes e eminentes da nossa existência, seja por
fatalidades, seja por acidentes ou mesmo de forma provocada ou intencional. A
tragédia, o drama, a violência, a iniquidade, a calamidade e diversas outras
situações deste grande elenco de coisas que nos geram sofrimento quando ocorrem
com os outros nos tocam também por mostrarem que podem acontecer com nós. E
quando ocorrem com nós nos lembram bem que somos iguais aos demais, que a dor
também nos alcança e que também somos frágeis. Então, sim ele faz parte de
nossa existência e determina parte de nosso caráter e virtude na relação com o
próximo. E é ele o sofrimento continuo, lento ou repentino e sua sombra - a
morte eminente - o que talvez nos faça ficar tão exultantes ou felizes ao lhe
escapar ou ao sofrer um mal menor, ao superar um dificuldade ou simplesmente
estar vivo ainda "apesar de tudo" o que só tem significado para quem
superou ou ultrapassou uma grande dificuldade. Porém, um certo luto nos acompanha,
pois ainda assim lembramos muito dos que não sobreviveram. Então o sofrimento é
sim um referente permanente de nosso existir e a consciência e certa
consideração dele é o melhor caminho para diminuí-lo em nossas vidas. Então,
penso que ao dizer que o sofrimento é parte significativa de nossas vidas,
devemos pensar o que fazer e como reagir a isso? Pois, ao refletimos sobre isto
devemos então encontrar ai algo que torne nossa vida, em uma vida com maior
valor e que valha a pena ser vivida. Deixo outras considerações a cada um que
quiser fazer...
Penso também que o sofrimento é
uma espécie de par antagônico da vida digna ou da boa vida. E que assim como o
ser se confronta com o nada para definir-se, a vida se confronta com a morte
para ter sua dignidade mínima, nós definimos nossa vida boa por negação ao
sofrimento ou por alguma forma de afastamento do sofrimento e redução da dor e
do mal que ele nos causa.
Nesse sentido, parece ser pela
nossa reação ao sofrimento que desenvolvemos nossa razão.
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