Powered By Blogger

sábado, 6 de junho de 2015

SENTIDO, VERDADE E ADESÃO À CRENÇAS FALSAS



SENTIDO, VERDADE E ADESÃO À CRENÇAS FALSAS

- - - - X - - - -

CRENÇA INDIVIDUAL ATÉ A MORTE

Eu estava agora mesmo escrevendo sobre uma questão bem básica e filosófica: Como é possível acreditarmos em proposições falsas? E a esquiva de resposta que achei no meio do cesto de possibilidades dizia o seguinte: simplesmente porque é a verdade que preferimos, nos habituamos a aceitar e que faz parte da vida da gente. E daí me aparece aqui a notícia da morte de um general brasileiro com nome de Leônidas que foi um daqueles que sustentou por extrema crença e convicção um regime tão ilegal e tão corrupto como aquele que eles julgavam combater...tá fácil não amigo! Veja a entrevista e se pergunte quantas proposições falsas eram para ele crenças verdadeiras e convicções irrefutáveis...

- - - - X - - - -

VERITAS TEMPORIS FILIA


Esta semana, enquanto dava a primeira aula sobre a história da filosofia analítica e do logicismo para meus alunos de um terceiro ano noturno, ao avançar de Frege para Wittgenstein, ao explicar que na análise lógica da linguagem se passou da análise lógica das linguagens formais para as linguagens naturais e se procurou investigar quais as exigências formais e materiais ou condições semânticas e sintáticas do sentido de uma proposição  me toquei de algo.

Que quando se está investigando ou expondo a investigação sobre a relação de antecedência entre compreensão do sentido e a determinação da verdade de uma proposição, ou seja, que, segundo Wittgenstein, compreender o sentido de uma proposição é saber sob que condições ela é verdadeira, podemos tocar também no problema da nossa aderência à certas crenças como verdadeiras. Isto é, que algumas vezes acreditamos que uma crença é verdadeira simplesmente porque lhe compreendemos o sentido e não propriamente porque lhe verificamos a veracidade.

E, em meio a aula me lembrei que esta operação que chamo de “aderência à crenças” faz parte da história pessoal dos indivíduos e que é através dela que compomos um cabedal de opiniões, crenças e convicções sobre as coisas deste mundo, sobre as pessoas, os saberes, valores e interpretações da história e de milhares de aspectos que nos dão certa base pessoal de crenças. Entendi que, por conta disto, apesar de não haver nenhuma verificação de sua veracidade, estas crenças passam a fazer parte do que poderia ser chamado de quase uma identidade subjetiva da pessoa e que por conta disto todo confronto a esta crença ou suas similares e em alguns casos crenças derivadas ou mais basais relacionadas à sua crença original servem bem para gerar forte resistência quando são confrontadas com opiniões completamente opostas ou parcialmente opostas.  

Assim, no meio de uma aula, me lembrei de uma pitadinha da minha suspeita sobre possíveis respostas à pergunta: porque acreditamos em crenças que não são verdadeiras? E recuei na análise encontrando, então, certa pista derivada de um insight de filosofia que talvez seja mais importante nesta grande luta, sob uma camada mais profunda de porque temos certas convicções sobre certas crenças e opiniões.

Se é fato lógico ou verdade que compreendemos uma proposição antes de saber que ela é verdadeira, porque lhe compreendemos o sentido, então também deveria soar como certa advertência de prudência às nossas disposições e adesões à certas crenças de que todos nós vez ou outra corremos o risco de tomar como verdadeira uma proposição, sentença, crença ou opinião, simplesmente porque a compreendemos, porque compreendemos o seu sentido, sem verificar sua verdade ou falsidade. Um problema que poderia ser posto aqui contra esta posição estaria relacionado aos casos em que cremos em coisas que são implausíveis, improváveis ou meros delírios do nosso desejo ou do nossos impulsos de interpretar o desconhecido e o mundo, sem verificação. Neste caso, portanto, preciso reconhecer que o que chamo de sentido aqui não é construído a partir do comércio tradicional ou habitual de sentido ao qual estamos adaptados por analogia. Então, o que chamamos de sentido aqui em crenças delirantes, por exemplo, de que “há um só Deus” ou que “Ogum é de fato meu santo de cabeça” é somente a possibilidade que nossa imaginação nos fornece de combinar determinadas coisas em certa imagem do mundo, mesmo que nenhuma imagem do mundo nos tenha sido conhecida e verificada antecipadamente. 

E, ao lembrar disto, então, me ocorreu dizer aqui agora que talvez uma parte bem importante dos problemas que temos são de mera atribuição excessiva e desmedida, indevida e irrefletida de algum valor de verdade a proposições que compreendemos e que em alguns casos - por força do hábito, da cultura, por força do meio e da nossa tessitura social para apontar alguns motivos cuja condição cognitiva é anulada pelos hábitos e práticas sociais – atribuímos verdade a certas proposições sem verifica-las simplesmente porque preferimos que elas fossem verdadeiras e temos por assim dizer razoes ou convicções pessoais para crer nelas. Longe de estar tentando justificar a ignorância de determinadas verdades ou a negação de determinadas provas ou demonstrações, temos aqui uma questão de vontade, disposição e, portanto, deliberação – ainda que sem todo peso da deliberação sistemática e refletida, é uma escolha entre crenças.

Ora, mais uma vez não custa lembrar que podemos estar errados. Que nossa compreensão de uma proposição ou simpatia por uma proposição não a torna verdadeira e tentar ir com mais calma na reprodução de maldades, mentiras e outras ignorâncias. Assim, seria tão bom que alguns amigos meus desistissem de postar certas coisas ou opinar sobre assuntos, temas e problemas cuja especialidade deles é mínima, para produzir opiniões mais lastreadas em suas crenças e convicções arraigadas do que propriamente em um estudo da realidade, dos fatos ou de alguma ciência dos fatos que não seja mero jornalismo informativo, opinativo ou distorcido..


Ou seguir aderindo a crenças falsas e emitindo opiniões com base nelas pelo resto da vida, sem desconfiar ou saber que está enganado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário