SENTIDO, VERDADE E
ADESÃO À CRENÇAS FALSAS
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CRENÇA INDIVIDUAL ATÉ A MORTE
Eu estava agora mesmo escrevendo
sobre uma questão bem básica e filosófica: Como é possível acreditarmos em
proposições falsas? E a esquiva de resposta que achei no meio do cesto de
possibilidades dizia o seguinte: simplesmente porque é a verdade que
preferimos, nos habituamos a aceitar e que faz parte da vida da gente. E daí me
aparece aqui a notícia da morte de um general brasileiro com nome de Leônidas
que foi um daqueles que sustentou por extrema crença e convicção um regime tão
ilegal e tão corrupto como aquele que eles julgavam combater...tá fácil não
amigo! Veja a entrevista e se pergunte quantas proposições falsas eram para ele
crenças verdadeiras e convicções irrefutáveis...
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VERITAS TEMPORIS
FILIA
Esta semana, enquanto dava a
primeira aula sobre a história da filosofia analítica e do logicismo para meus
alunos de um terceiro ano noturno, ao avançar de Frege para Wittgenstein, ao
explicar que na análise lógica da linguagem se passou da análise lógica das
linguagens formais para as linguagens naturais e se procurou investigar quais
as exigências formais e materiais ou condições semânticas e sintáticas do
sentido de uma proposição me toquei de
algo.
Que quando se está investigando
ou expondo a investigação sobre a relação de antecedência entre compreensão do
sentido e a determinação da verdade de uma proposição, ou seja, que, segundo
Wittgenstein, compreender o sentido de uma proposição é saber sob que condições
ela é verdadeira, podemos tocar também no problema da nossa aderência à certas
crenças como verdadeiras. Isto é, que algumas vezes acreditamos que uma crença
é verdadeira simplesmente porque lhe compreendemos o sentido e não propriamente
porque lhe verificamos a veracidade.
E, em meio a aula me lembrei que
esta operação que chamo de “aderência à crenças” faz parte da história pessoal
dos indivíduos e que é através dela que compomos um cabedal de opiniões,
crenças e convicções sobre as coisas deste mundo, sobre as pessoas, os saberes,
valores e interpretações da história e de milhares de aspectos que nos dão
certa base pessoal de crenças. Entendi que, por conta disto, apesar de não
haver nenhuma verificação de sua veracidade, estas crenças passam a fazer parte
do que poderia ser chamado de quase uma identidade subjetiva da pessoa e que
por conta disto todo confronto a esta crença ou suas similares e em alguns
casos crenças derivadas ou mais basais relacionadas à sua crença original
servem bem para gerar forte resistência quando são confrontadas com opiniões
completamente opostas ou parcialmente opostas.
Assim, no meio de uma aula, me
lembrei de uma pitadinha da minha suspeita sobre possíveis respostas à
pergunta: porque acreditamos em crenças que não são verdadeiras? E recuei na
análise encontrando, então, certa pista derivada de um insight de filosofia que
talvez seja mais importante nesta grande luta, sob uma camada mais profunda de
porque temos certas convicções sobre certas crenças e opiniões.
Se é fato lógico ou verdade que
compreendemos uma proposição antes de saber que ela é verdadeira, porque lhe
compreendemos o sentido, então também deveria soar como certa advertência de
prudência às nossas disposições e adesões à certas crenças de que todos nós vez
ou outra corremos o risco de tomar como verdadeira uma proposição, sentença,
crença ou opinião, simplesmente porque a compreendemos, porque compreendemos o
seu sentido, sem verificar sua verdade ou falsidade. Um problema que poderia
ser posto aqui contra esta posição estaria relacionado aos casos em que cremos
em coisas que são implausíveis, improváveis ou meros delírios do nosso desejo
ou do nossos impulsos de interpretar o desconhecido e o mundo, sem verificação.
Neste caso, portanto, preciso reconhecer que o que chamo de sentido aqui não é
construído a partir do comércio tradicional ou habitual de sentido ao qual
estamos adaptados por analogia. Então, o que chamamos de sentido aqui em
crenças delirantes, por exemplo, de que “há um só Deus” ou que “Ogum é de fato
meu santo de cabeça” é somente a possibilidade que nossa imaginação nos fornece
de combinar determinadas coisas em certa imagem do mundo, mesmo que nenhuma
imagem do mundo nos tenha sido conhecida e verificada antecipadamente.
E, ao lembrar disto, então, me
ocorreu dizer aqui agora que talvez uma parte bem importante dos problemas que
temos são de mera atribuição excessiva e desmedida, indevida e irrefletida de
algum valor de verdade a proposições que compreendemos e que em alguns casos -
por força do hábito, da cultura, por força do meio e da nossa tessitura social
para apontar alguns motivos cuja condição cognitiva é anulada pelos hábitos e
práticas sociais – atribuímos verdade a certas proposições sem verifica-las
simplesmente porque preferimos que elas fossem verdadeiras e temos por assim
dizer razoes ou convicções pessoais para crer nelas. Longe de estar tentando
justificar a ignorância de determinadas verdades ou a negação de determinadas
provas ou demonstrações, temos aqui uma questão de vontade, disposição e,
portanto, deliberação – ainda que sem todo peso da deliberação sistemática e
refletida, é uma escolha entre crenças.
Ora, mais uma vez não custa
lembrar que podemos estar errados. Que nossa compreensão de uma proposição ou
simpatia por uma proposição não a torna verdadeira e tentar ir com mais calma
na reprodução de maldades, mentiras e outras ignorâncias. Assim, seria tão bom
que alguns amigos meus desistissem de postar certas coisas ou opinar sobre
assuntos, temas e problemas cuja especialidade deles é mínima, para produzir
opiniões mais lastreadas em suas crenças e convicções arraigadas do que
propriamente em um estudo da realidade, dos fatos ou de alguma ciência dos
fatos que não seja mero jornalismo informativo, opinativo ou distorcido..
Ou seguir aderindo a crenças
falsas e emitindo opiniões com base nelas pelo resto da vida, sem desconfiar ou
saber que está enganado.
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