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quinta-feira, 4 de junho de 2015

DE UMA ANGÚSTIA POÉTICA DE ÍNDIO QUE TENTA SUPERAR SÓ UM POUQUINHO A FALSIDADE DESTE MUNDO


#eusouafavordacultura

Fico mesmo um pouco angustiado. Porque a mentira e a maldade, seja por ignorância, seja por perversão, me intoxicam, me deixam aborrecido demais. Ocorre que às vezes, só às vezes, me sinto aqui muito intoxicado e sufocado com tanta porcaria por aqui e fico pensando mesmo em cair fora, em nunca mais voltar e sequer cogitar uma volta. Porém, também tem coisa boa e penso assistir à uma certa luta cultural muito árdua entre "qualquer coisa serve" e um "só do bom e do melhor". Não tenho muita ideia estável de que lado estou, porque muitas vezes fico sinceramente duvidando de mim mesmo, mas tento estar com muita dedicação do lado certo, tento estar do lado dos verdadeiros mocinhos - que são, para quem não lembra ou não sabe, para mim, os índios ameaçados de extinção, desterro e  desaparecimento.

E me vejo lutando com minhas poucas flechas aqui, dando alguns sinais de fumaça ali, sopros de flautas e rufar de tambores ali, e vejo o tinir dos metais, outros acordes soltos e grandes acordes juntos, muitos penachos, barbicachos e bandeiras, tatuagens e embalagens, alguns peitos e corpos nús, músculos à postos e até palavras, sim, algumas palavras, em sentenças bem formadas e imperfeitas, cujas referências motivadas e que parecem desfeitas, alguns furtos até de outras ideias e cabeças, e em textos, com gritos, sussuros, assobios, mensagens inbox, nas entrelinhas, e às vezes sozinhas, tento defender o que resta de certa cultura, certa tentativa humana de sobreviver apesar da barbárie enfatiotada, empossada e concursada, bem sentada e entronizada, das elite ou do andara de cima que tenta mesmo acabar com a gente.

Resisto, também, contra mim mesmo, porque sei, ou tenho a crença no saber que tudo passa e que desta sensação de limite, de horror, desta experiência de encarar o guarda da maldade, os cães de aluguel e as mentes vis e mesquinhas algo de bom ainda vai sair para fechar a conta do mundo, mudar a vida e o fundo sobre o qual vivemos. E lembro também que desta sensação do limite, uma sensação que para alguns é muito mais precisa aliás, deste vácuo absurdo que o mundo virtual constrói e de uma corda esticada que parece que vai arrebentar é que tiramos toda nossa força para ir além, para superar, para ultrapassar a miséria deste mundo.

E ontem me lembrei de uma pitadinha de filosofia que talvez seja mais importante nesta grande luta de crenças e opiniões. Se é fato lógico ou verdade que compreendemos uma proposição antes de saber que ela é verdadeira, porque lhe compreendemos o sentido, então também deveria soar como certa advertência de prudência às nossas disposições e adesões à certas crenças de que todos nós vez ou outra corremos o risco de tomar como verdadeira uma proposição, sentença, crença ou opinião, simplesmente porque a compreendemos, sem verificar sua verdade ou falsidade.


E, ao lembrar disto, então, me ocorreu dizer aqui agora que talvez uma parte bem importante dos problemas que temos são de mera atribuição excessiva e desmedida, indevida e irrefletida de algum valor de verdade a proposições que compreendemos e que em alguns casos - por força do hábito, da cultura, por força do meio e da nossa tessitura social - preferimos que fossem verdadeiras. Ora, mais uma vez não custa lembrar que podemos estar errados. Que nossa compreensão de uma proposição ou simpatia por uma proposição não a torna verdadeira e tentar ir com mais calma na reprodução de maldades, mentiras e outras ignorâncias. Assim, seria tão bom que alguns amigos meus desistissem de postar certas coisas, pois eu não haveria de sair daqui ou entrar aqui pensando seriamente na direção para a qual devo dirigir minhas poucas e parcas flechinhas. 

E poderia me dedicar a lançar estas flechinhas no futuro, em minhas lições e revisões, leituras e divulgações, em algo melhor e poder escapar de ter que enfrentar o tempo todo tanta maldade e tanta mentira travestida de verdade pela adesão fácil de alguém a determinada crença, boato, meme ou pseudo-crítica da realidade, seja ela política, religiosa, econômica, cultural, social, histórica ou mesmo moral.            

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