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quarta-feira, 24 de junho de 2015

SOBRE DEMOCRACIA E CIÊNCIA: ADVERTÊNCIA DE FEYERABEND


"Mais uma vez, gostaria de defender dois pontos de vista: primeiro, que a ciência pode ficar em pé sobre suas próprias pernas e não precisa de nenhuma ajuda de racionalistas, humanistas seculares, marxistas ou movimentos religiosos semelhantes; segundo, que culturas, procedimentos e pressupostos não-cientificos também podem ficar em pé sobre suas próprias pernas e deveria ser-lhes permitido fazê-lo, se tal é o desejo de seus representantes. A ciência tem de ser protegida das ideologias, e as sociedades, em especial as democráticas, tem de ser protegidas da ciência. Isso não significa que os cientistas não possam tirar proveito de uma educação filosófica, nem que a humanidade não tirou nem nunca vá tirar proveito das ciências. Contudo, tais benefícios não devem ser impostos; devem ser examinados e livremente aceitos pelos participantes da permuta. Em uma sociedade democrática, instituições, programas de pesquisa e sugestões tem, portanto, de estar sujeitos ao controle público; é preciso que haja uma separação entre o Estado e ciência da mesma forma que há uma separação entre Estado e instituições religiosas, e a ciência deveria ser ensinada como uma concepção entre muitas e não como o único caminho para a verdade e a realidade. Não há nada na natureza da ciência que exclua tais arranjos institucionais ou mostre que sejam propensos a conduzir a um desastre."


Paul Feyerabend. Prefácio de 1987. Contra o Método. Tradução Cezar Augusto Morgado. São Paulo: Editora UNESP, 2007, pp. 8-9.

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