"Mais uma vez, gostaria de
defender dois pontos de vista: primeiro, que a ciência pode ficar em pé sobre
suas próprias pernas e não precisa de nenhuma ajuda de racionalistas,
humanistas seculares, marxistas ou movimentos religiosos semelhantes; segundo,
que culturas, procedimentos e pressupostos não-cientificos também podem ficar
em pé sobre suas próprias pernas e deveria ser-lhes permitido fazê-lo, se tal é
o desejo de seus representantes. A ciência tem de ser protegida das ideologias,
e as sociedades, em especial as democráticas, tem de ser protegidas da ciência.
Isso não significa que os cientistas não possam tirar proveito de uma educação
filosófica, nem que a humanidade não tirou nem nunca vá tirar proveito das
ciências. Contudo, tais benefícios não devem ser impostos; devem ser examinados
e livremente aceitos pelos participantes da permuta. Em uma sociedade
democrática, instituições, programas de pesquisa e sugestões tem, portanto, de
estar sujeitos ao controle público; é preciso que haja uma separação entre o
Estado e ciência da mesma forma que há uma separação entre Estado e
instituições religiosas, e a ciência deveria ser ensinada como uma concepção
entre muitas e não como o único caminho para a verdade e a realidade. Não há
nada na natureza da ciência que exclua tais arranjos institucionais ou mostre
que sejam propensos a conduzir a um desastre."
Paul Feyerabend. Prefácio de
1987. Contra o Método. Tradução Cezar Augusto Morgado. São Paulo: Editora UNESP,
2007, pp. 8-9.
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