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terça-feira, 23 de setembro de 2014

SOBRE A EDUCAÇÃO BRASILEIRA E O DEBATE DO ENSINO MÉDIO POR DILMA - MAIS FILOSOFIA OU MENOS?

Meu caro Renato eu creio que este debate a partir dos exemplos postos na entrevista da Dilma sobre Filosofia e Sociologia no ensino médio está atravessado. Esta discussão começa no Pacto pelo Ensino Médio na integração das áreas e também desde os PCNs no planejamento do ensino por objetivos. Creio que Dilma não por não saber, mas por não dominar o tema em detalhe não ajudou ao tratar disto an passant e de forma incompleta assim como foi ao ar nas duas entrevistas - sabatina e matinal - dela. Porém é preciso reconhecer que é o governo dela que está levantando este debate todo em todo o ensino médio brasileiro através do Pacto.O excesso de disciplinas na minha opinião envolve muito mais um problema de organização cognitiva e temporal dos alunos - que precisam ultrapassar o ensino de passagem e pouco integrado e de integração, interface, articulação e relação entre os métodos e os objetivos das diversas áreas (4) de conhecimento, bem como, também uma decisão que devemos tomar em duas frentes uma prática e outra teórica. Na frente prática o tema do ensino integral e da dedicação exclusiva dos jovens brasileiros entre 14 e 21 anos aos estudos, sejam eles técnicos ou politécnicos. E na dimensão teórica o desafio que se impõe de integrar áreas e disciplinas cujos registros são discursivos ou formais. É preciso traduzir orações em fórmulas e fórmulas em orações. Exemplificando, os jovens precisam aprender a calcular e a traduzir em termos descritivos seus cálculos e também precisam aprender a escrever e traduzir em termos formais seus discursos, narrativas e descrições. Quando a gente fala em trabalhar conteúdos mais práticos e aplicados isso também está em jogo e ao contrário do que o senso comum pensa , aquele que sempre tenta simplificar e resumir o conhecimento teórico à meia dúzia de notas, é preciso muita teoria e uma boa base teórica para traduzir adequadamente os conhecimentos. E isso é o que eu creio que anda faltando em algumas formações e carreiras - licenciaturas de humanas e de exatas se ressentem disto. Estamos fazendo a experiência na nossa área de humanas e descobrimos que conseguimos ir articulando, compartilhando e problematizando muito bem os conteúdos e objetivos a partir de um fio condutor histórico nos três anos do ensino médio. Começamos isto no ano passado e já se percebem avanços claros entre muitos alunos em uma compreensão mais integrada e não superficial dos diferentes ramos do conhecimento - Filosofia, Sociologia, Geografia e História. O próximo passo é propor certa forma de integração por um fio condutor histórico às demais disciplinas de modo a se estudar também as ciências, as letras e as artes, em suas linguagens mais formais ou menos também a partir de um ciclo de desenvolvimento do conhecimento do mais simples para o mais complexo. Eu ainda sonho iniciar o ensino de ciências via pré-socráticos até as ciências modernas dos primeiros aos segundos anos de forma articulada com os demais professores. Não para dizer que houve um crescimento linear e ingênuo, sem rupturas, mas justamente para mostrar, debater e avançar nesta história dos erros e dos acertos da história das ciências. Minha esposa é matemática e fazem apenas dois anos que encontramos o primeiro livro de história da matemática escrito em língua portuguesa e você deve saber - como muitos dos demais colegas meus de todas as áreas - o que significa isso. Vou ainda dizendo que a questão não é eliminar disciplinas, mas ganhar mais tempo, organizar melhor e articular melhor os conhecimentos para realizar uma aprendizagem não fragmentada, nem superficial do conhecimento, com tempos para lazer, cuidado e também arte ma escola do futuro. E eu creio que vamos construir isto. Mas, esta fantasia de alguns filósofos e pedagogos de um monópolio do pensamento ou qualquer forma de visão tecnicista anda com certeza na contramão disto e da superação do atual estágio da educação brasileira. Estes dias fiquei conversando sobre o que gerou esta fragmentação toda. Eu creio que foi este período que a educação brasileira namorou com o construtivismo, sem bases teóricas suficientes para brincar na organização dos conteúdos. E, então, uma classe inteira de educadores que já não vinha com uma formação excelente teve o pouco conhecimento organizado, desorganizado completamente. O que faz com que muitas áreas dependam de uma espécie de cátedras oficiais para se manterem organizadas e defesas. E este episódio ainda foi combinado por um profundo namoro de muitos intelectuais com os pós-modernismos, o que é apenas a versão riponga e retardada da visão power flower na educação. E tal acontecimento ainda teve o agravante de ocorrer justamente no período neoliberal em que era preconizado o estado mínimo e a ideologia neoliberal, cuja versão no individualismo é a indiferença e o pouco apreço pela ação coletiva. Como tudo isso bateu na educação, merece maior aprofundamento. Mas eu creio sinceramente que estamos caminhando numa direção oposta com o Pacto e os programas do governo federal, sendo necessário ampliar a escuta e os feed backs para qualificar o debate e avançar mais na recuperação da educação pública brasileira. Disse tanta coisa aqui que provavelmente devo me resguardar um pouco e pedir a generosidade dos demais ao derrame. Nenhuma outra área tem mais provocações a trazer ao panorama atual, na minha opinião, do que as humanas, porque todo o nó se encontra justamente no eixo histórico e numa necessidade de auto-compreensão dos educadores no cenário atual, com bem mais transversalidade entre universidades e escolas e de forma bem mais séria do que apenas cumprir cartelas como alguns fazem hoje em relação aos diversos programas federais. O que os PIBIDIANOS da filosofia tem a dizer sobre isto tudo? Só para ficar num exemplo interno às nossas disciplinas.

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