No nervo do meu comentário ao texto de Juan Arias no El Paisaqui,
dica do Renato Janine Ribeiro, com a lembrança final do amigo Alberi Petersen.
MARINA, ARENDT, FUNDAMENTALISMO E
NEOLIBERALISMO
A equação de Marina se completa
agora – para além da controvérsia da inclusão/exclusão da causa LGBT e da
Supremacia do Fundamentalismo, somou-se, nas linhas do programa, a presença
tisnada de algo da filosofia política de Hannah Arendt. Quem nos chamou atenção
para isto foi o professor Renato Janine citando um artigo de Juan Arias no
Jornal El Pais. Eu que sou de longa data um simpatizante e leitor de Hannah
Arendt e que conheço por leituras e investigações alguns brasileiros que se
dedicam ao estudo das idéias dela e que são influenciados por ela vejo uma
causa disto, sem pressupor com isto – que fique claro que Marina seja leiga em
Hannah Arendt ou incapaz de compreendê –la. Mas creio sinceramente que vistas
as coisas no contexto das falas dela: esse componente de “crítica á velha
política “ é em Marina pura retórica, considerando-se suas companhias de
viagem.
Eu não tenho o que dizer contra a
racionalidade e a seriedade de Marcos Rolim que a acompanha e que creio ser o
responsável pelas influências arendtianas em Marina. Mas posso discordar da
aposta e da jogada dele igualmente. Que é como vejo sua adesão à REDE e ao
projeto de Marina. Já tratei dele neste espaço e no meu blog em um texto sobre
suas críticas ao PT. Respeito muito ele pelos eu trabalho e linha de
investigação em geral. Penso, porém, que se ele estiver errado, e Marina for
eleita, será um grandioso erro, um grave erro intelectual e político, por conta
de que ele e outros se prestam a não identificar que o fundamentalismo de
Marina serve como cordinha de salvação do bote salva-vidas do neoliberalismo
que pegou carona com ela agora.
Penso que é mais provável, em
caso de vitória e pela agenda que será implementada com isso, que eles e a
mídia vão iniciar o sacrifício dela e do governo dela assim que obtiverem os
resultados desejados, retumbando mais o fundamentalismo dela no futuro do que
sua adesão ao projeto neoliberal. E na minha visão de esquerda mais generosa e
compreensível possível, cuja partícula compreensiva entende o projeto pessoal dela
e a ambição frustrada dos que a rodeiam que bota água no moinho do sonho comum,
mas que será um triste sacrifício dela e do povo brasileiro ao Deus mercado.
Porém, Marcos Rolim que apóia
Marina não será o primeiro a cometer tal erro na história. Deixo claro também
que discordo, além disto e de novo, das razões erguidas e arrazoadas por ele em
diversos aspectos contra o PT.
E colocar o lastro de Hannah
Arendt contra um projeto que é em essência sem a menor dúvida ainda a maior
defesa da democracia, me parece sim um erro. Principalmente porque vai devolver
de lambuja a supremacia de certos setores na política econômica. Falar de
banqueiros, operadores de mercado, consultores de economia pode hoje ser algo
comum, mas eu sou daqueles que lembra muito bem onde o país parou e o que ele
passou quando estes caras tinham seus canais de influencia céleres nos governos
militares e neoliberais.
Poucos falam ao meu ver – neste
debate - que o governo Dilma sustenta e está conseguindo sustentar as
conquistas do período Lula fortemente ameaçadas pela crise. Que a dívida
interna e tudo que é chamado com grande terrorismo econômico de fracasso pelo
INSTITUTO EMPIRICUS e a turma do MILLENIUM, em seu governo, sustenta isto: o
emprego, o salário e os investimentos atuais do estado brasileiro. E que todas
as mudanças que vem de carona com Marina vão sacrificar mesmo estas conquistas
o que envolve desde programas ao poder aquisitivo e a renda dos trabalhadores.
Então, ratio in res plana...
Creio que posso discordar da
aposta e da jogada deles igualmente por certas razões ligadas ao tipo de marcas
que ela está trazendo junto. O erro de Rolim que é como vejo sua adesão à REDE
e ao projeto de Marina é ressuscitar e dar mais fôlego ao neoliberalismo no
Brasil.
Não quero mesmo o que será um
triste sacrifício dela e do povo brasileiro ao Deus mercado. Mas há que se ter
certa distância destas aventuras e eu prefiro uma modalidade de racionalidade
prudencial e séria que encara as dificuldades, compreende o cenário e que topa
segurar todo o ônus econômico e político para manter o país estável e com
emprego e renda do que esta aventura neste caminho cujo resultado não precisa
de muita edulcoração ou pilulismo, nem de historicismo ou dons proféticos para
ser compreendido.
Se a coisa continuar deste jeito
vamos ter que fazer campanha pelo voto útil em Dilma!
Vou terminar dizendo que não é o
medo da velha política que depõe contra ela, mas sim o sonho de mais democracia
e mais igualdade social, o sonho de redução da miséria e a certeza de que isso
não será realizado por submissão ao Deus mercado, às gazelas especulativas e
aos banqueiros e banqueiras deste país.
Se ela não se cuidar em sua
racionalidade delirante não lhe sobrarão moedas para apor aos seus olhos na
travessia do Stige e o barqueiro não lhe dará nem passagem, nem conforto.
CAPITCHE?
UMA LEMBRANÇA AQUI
Intelectuais, Artistas,
"ativistas sociais", etc.
Por Darlan Montenegro:
"Em 1994, no seminário
Pós-Neoliberalismo, na Uerj, na mesma mesa em que Perry Anderson apresentou seu
famoso "Balanço do Neoliberalismo", Francisco de Oliveira foi
aplaudido seguidas vezes, durante uma intervenção sobre a conjuntura que,
então, vivíamos, no Brasil.
O momento mais efusivamente
ovacionado foi aquele em que ele disse que a candidatura de Fernando Henrique
Cardoso oferecera o pretexto que muitos intelectuais brasileiros sempre haviam
buscado para aderir à direita sem passar vergonha.
Aplaudimos de pé, por uns bons
cinco minutos.
Marina está proporcionando a
mesma oportunidade a um monte de intelectuais das novíssimas gerações. E é de
se esperar que a adesão seja recompensada da mesma forma que a adesão a FHC o
foi. Vêm aí os novos Franciscos Weffort.
Só que não. Porque Marina não
passará."
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