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sábado, 13 de setembro de 2014

PMDB COMO FIEL DA BALANÇA

Michel Temer deu esta semana ao Jornal O Estado de São Paulo uma entrevista (aquii) cuja manchete tenta forçar a imagem de derrotismo, mas em que ele sinaliza como sempre a posição central do PMDB seja qual for o resultado eleitoral. Gerando certa ansiedade em alguns, revolta em outros e aquelas expectativas de sempre na nave dos desesperados pelo poder.

Não adianta chorar, nem reclamar, nem ranger os dentes. Não adianta esbravejar ou criar uma seita de inocentes e púdicos contra o PMDB.  Pelo menos enquanto as pessoas e o povo votarem neles e os que os criticam ou que criticam quem se alia a eles não assumir alguma posição política mais consistente e militante, é isso mesmo, o PMDB vai estar no poder e será sempre uma espécie de fiel da balança.

A importância dos partidos no Brasil é, em geral, muito neglicenciada e diminuida e algumas pessoas continuam pensando a política sob a ótica de personalidades, da moralidade individual de personalidades, sem perceber que estas estão relacionadas e estruturadas sobre organizações. O PMDB é um típico partido de centro. Foi criado por uma certa concessão dos militares e numa forma de resistência bem comportada à ditadura – salvo as exceções conhecidas, cresceu muito na transição como opção moderada no colégio eleitoral, ampliou seu poder elegendo diversos governadores com a redemocratização e o Governo Sarney e se mantém no poder elegendo e reelegendo uma forte bancada de senadores, deputados, vereadores, mantendo prefeituras e sendo sempre opção eleitoral na maioria dos municípios brasileiros. O PMDB que alguns falam contra, mas que não militam contra efetivamente, conquista uma média razoável de governos estaduais e sempre se mantém como opção de governabilidade.  É um partido que possui uma grande estrutura nacional com inserção em todos os poderes e em todas as carreiras dos serviços públicos federais, estaduais e municipais. É muito difícil você entrar em uma repartição pública e não encontrar um elo de ligação com este partido.   

Ao ser um partido de centro ele preserva sua serventia e funcionalidade na mais resistente estrutura da institucionalidade e mantém  seus votos em toda a sociedade, pois representa camadas sociais e representa e atende, através dos serviços públicos diversos interesses sociais e por isso se preserva historicamente. Ao contrário do que ficar batendo na mesma tecla – os seus vícios e o seu fisiologismo -  eu creio que é preciso compreender a suas virtudes, mas isso também exige mais respeito e a construção de alternativas que não acabem somente se fragmentando e reproduzindo um espírito de seita. Não creio que uma facção esquerdista tenha a mínima capacidade de desbancar o PMDB em lugar algum deste país. Se você observar mais de perto o PMDB não tem movimento social, somente movimento no setor institucional, nos órgãos de classe e também entre intelectuais estáveis na maior parte das universidades e empresas públicas. É um partido que dialoga diretamente com os interesses da elite brasileira, faça chuva ou faça sol e tem ampla permeabilidade aos reclames de diversos setores. Isso significa que é um partido que tem escuta na sociedade e canais de comunicação muito azeitados.  

Hoje, passados alguns muitos anos já de refregas como militante petista com o PMDB, eu entendo mais o velho Ulisses Guimarães e os quadros políticos que criaram este partido sobrevivendo aos dissidentes que se despregaram deles para formar os demais partidos na redemocratização. E respeito, apesar de manter muitas divergências, esta história, porque este partido com todas as suas diversas facções e idiossincrasias, feudos e currais eleitorais, garantiu a estabilidade política do Brasil.

Para quem tem fantasias de superar o PMDB, derrotar o PMDB e tirar dele os eu lugar, eu vou avisando para tirar o cavalinho da chuva, pois que só com uma reforma política que atenue a interferência excessiva do poder econômico nas eleições , o PMDB deixará de ser a opção moderada ao empresariado nacional, mas mesmo assim ele vai sobreviver muito tempo ainda, pois já está na quinta geração de políticos, considerando-se que foi criado a partir da ditadura, está enraizado na sociedade e no estado e penso que é inextrincável o seu vínculo com as classes médias brasileiras. E a única possibilidade de superá-lo, para mim, será o deslocamento de um outro partido para o centro. Os candidatos a ser um grande partido de centro, além do PTB e do PDT que já estão ali, são, é preciso admitir,  o PT e o PSB (se sobreviver a esta tempestade interna e programática da Marina), mas não creio mesmo quês esta mutação irá ocorrer com o PT que preserva sua relação com a esquerda ideológica e com os trabalhadores e movimentos sociais, atendendo-os através de suas políticas públicas. O PSDB que queria mesmo ocupar o centro do espectro político não tem mais jeito mesmo, pois com suas adesões ao Neoliberalismo e às teses de redução do estado brasileiro, o PSDB se desloca definitivamente para a direita sucedendo o velho PFL, DEM e provavelmente se fusionando com o PP.

Mas uma coisa para mim é a mais certa de todas nesta matéria, não é a nossa opinião, mas sim o voto dos eleitores e as escolhas dos eleitores que vão mudar ou reconfigurar isto. Então, quem quiser transformar esta realidade vai precisar militar muito ainda e de forma orgânica e construindo um pensamento coletivo. O PT vai continuar lutando para mudar o Brasil e não seria racional a recusa ao apoio do PMDB ou a transformação do PMDB num inimigo da política e das propostas políticas do PT. O PMDB sempre estará presente na mesa de negociações e, apesar de toda alegada crise de representatividade, possui representação da sociedade, de uma sociedade que está em mudança, mas que não parece renunciar a estabilidade política e econômica, por mais agitação e passeatas que a gente faça.


Este é um trunfo considerável para a estabilidade da nossa democracia, mas que também é uma precondição para se avançar nas mudanças. E qualquer exame nos indicadores sociais do Brasil precisa ser balizado e reconhecer que de fato o PMDB contribui dando governabilidade aqueles do PT que tentaram mudar esta realidade e que efetivamente realizaram avanços neste pais nos últimos 12 anos. Por fim, eu não tenho dúvida alguma que o PMDB é um partido que pode contribuir e muito com o nosso propósito histórico de colocar o estado cada vez mais sob controle da sociedade e do nosso povo.        

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