PORQUE STEVE JOBS
QUERIA FALAR COM SÓCRATES?
“I would trade all of my technology for an
afternoon with Socrates.”
Steve Jobs, CEO, Apple Computer Co. (Newsweek,
Oct. 29, 2001)
Quando em 28 de outubro de 2001,
foi publicada uma entrevista com Steve Jobs e outros especialistas sobre o uso
das novas tecnologias na educação, provavelmente nós estávamos todos discutindo
aqui no Brasil como aplicar as tecnologias da informação na produção, em
governança e em sistemas de gestão e produção.
A internet existia praticamente
para muito poucos. Banda larga estava longe de ser pensada em caráter público.
E eu ainda me lembro de uma matéria maluca sobre pontos de conexões, ou nós
digitais, no Fantástico nos idos dos 90. Eles tratavam – ora essa - de
determinados locais que permitiam na cidade, a gente se conectar a uma grande e
misteriosa rede de computadores.
A SALA DE AULA DO FUTURO
Numa entrevista de 2001, inserida
em uma matéria especial da revista Newsweek, sobre a Sala de Aula do Futuro
(The classroom of the future), com diversas opiniões sobre como seriam as salas
de aula do futuro ele disse a frase que vamos usar aqui em nossa análise
exploratória e inventiva.
"Trocaria, se pudesse, toda
minha tecnologia por uma tarde com Sócrates."
Steve Jobs em entrevista à
Newsweek (2001).
Esta expressão de Steve Jobs me
fez gerar uma pergunta intrigante aos alunos e alunas e para mim mesmo. Logo
após a greve, optamos por retomar as aulas fazendo uma certa problematização -
ainda que introdutória e em esboço ainda - sobre a relação entre novas
tecnologias e educação e, em especial, filosofia. Usamos como guia para esta
reflexão a expressão de Steve Jobs em que ele afirma que “Daria toda a minha
tecnologia em troca de passar uma tarde conversando com Sócrates.” Interrogamos
o porque disto e aproveitamos esta deixa para valorizar e fazer pontes entre
tecnologias e ciências humanas.
E esta foi, ao meu ver, a
pergunta mais intrigante que eu apresentei neste ano aos meus alunos e que não
foi provocada pela filosofia, nem por um filósofo, nem mesmo por uma
investigação filosófica, mas sim por uma expressão de Steve Jobs que merece
nossa reflexão e interrogação. Porque ele gostaria, afinal, de passar uma tarde
com Sócrates? Ou porque ele gostaria de conversar com Sócrates? E porque daria
toda a sua tecnologia em troca disto?
É um conjunto de perguntas que
fazem frente a uma explicitação de Steve Jobs de porque ele dedicava parte do
seu tempo a desenvolver tecnologias e porque ele acreditava - de uma forma bem otimista
- que as novas tecnologias e equipamentos que ele estava desenvolvendo iriam
revolucionar e transformar a educação.
Vejamos o texto integral da
resposta otimista de Steve Jobs sobre o uso educativo das novas tecnologias à
entrevistadora onde se insere no final este apelo à uma conversa com Sócrates:
"Um dos nossos problemas
como sociedade daqui para frente é ensinar as crianças desta geração a se
expressarem nas mídias atuais. Durante a maior parte do século passado, a mídia
era a página impressa, seja um jornal ou um romance. Hoje as pessoas não podem
somente consumir; elas podem ser autoras Quando as pessoas lêem romances, elas
escrevem cartas. A principal mídia do nosso tempo é o vídeo e a fotografia, mas
a maioria de nós ainda é de consumidores em vez de serem autores...”
“Nós estamos vendo as coisas
mudarem. Estamos fazendo mais e mais coisas com filmes e DVDs. (…) Achamos que
isto é um poder tremendo. Você deveria ver os filmes que as crianças e os
professores estão fazendo agora. Eles fazem filmes para vender uma ideia e
liderar um time. Eu posso mostrar a você um filme feito por uma professora de
6ª série e os seus alunos sobre como aprender os princípios da geometria de uma
maneira que você nunca vai se esquecer. (…) Quando os próprios alunos estão
criando, eles acabam aprendendo. E os professores serão o epicentro disto.
Qualquer um que pensa diferente disto nunca teve um bom professor. Eu trocaria
toda a minha tecnologia por uma tarde com Sócrates”.
Neste texto ele apresenta o seguinte problema: como educar os jovens para usar as novas mídias? E a resposta dele,
apesar de oculta no texto, parece ser simples ai: usando as novas tecnologias
sem medo. E diz que basta dar se aos alunos autonomia para que eles criem por
si mesmos as coisas, porque assim, eles acabam aprendendo. E ele diz claramente,
ao contrário do que circula como opinião sobre isto – de que os professores
perdem seu papel com as novas tecnologias; para ele é o caso que eles serão “o epicentro disto”. E
ele diz ao fim que, para pensar isto, “basta ter tido um bom professor”. E daí
surge a chave da questão dele que é passar uma tarde com Sócrates, haja visto
que, para ele, Sócrates representa o bom professor, que é capaz de ser e manter-se
como epicentro mesmo que em uma circunstância como esta, em que se dá aos meninos e
meninas, meios avançados para buscarem, por si mesmos o conhecimento. (Vou, sendo assim,
me preparar para levar as pedradas agora).
Para constar e ir estendendo a
prosa um pouco, vou citar aqui Marcelo Doro (UPF) que se dedicou também tentar
responder esta questão de porque Jobs quer falar com Sócrates. Vejamos suas
teses e anotações para começar aqui.
Por ELITISMO? Porque, na visão de
Doro, ele se cercava de pessoas excepcionais e Sócrates é uma pessoa
excepcional, logo..
Tendo a discordar disso, porque a
atração por Sócrates se deve muito mais a capacidade interrogativa e
investigativa dele do que propriamente a ele poder ser mais uma criatura excepcional no
seu círculo de colaboradores. E também temos que levar em conta o valor de
vivências e experiências iluminadoras e
místicas para Steve Jobs. E ele acreditava pelo visto na capacidade inovadora
de Sócrates também.
Por causa da FINITUDE E
MORTALIDADE?
“Nascemos, vivemos por um momento
breve e morremos. Tem sido assim há muito tempo. A tecnologia não está mudando
muito este cenário”, observou Jobs em fevereiro de 1996.
Esta seria uma boa razão, mas ela
me parece mostrar mais o limite do valor das tecnologias e talvez um valor
superior na sabedoria de Sócrates. O que para nós agora, mostra o valor do bom
professor ou boa professora socrática frente a estas tecnologias limitadas
perante as questões da vida.
Pelos FATOS DA VIDA?
O trecho do discurso que Jobs fez
em 2005 aos formandos da Universidade de Stanford, sobre “não deixar o barulho
das opiniões abafar a voz interior” é um equivalente à resposta de Sócrates de
porque seguia seu Daimon. O que isso haveria de explicar aqui sobre o bom
professor. Provavelmente porque para ele o bom professor deve estimular a
confiança dos jovens alunos e alunas em suas capacidades. Este professor quer
inspirar e ser inspirador dos seus alunos. Carmine Gallo comenta em uma
entrevista sobre seu outro livro sobre Jobs, assim:
“Steve Jobs nos deu um dos
discursos mais inspiradores na história contemporânea quando se dirigiu aos
alunos da Universidade de Stanford em 2005. Ele disse: “Seu tempo é limitado.
Portanto, não o desperdicem vivendo a vida de alguém. Não deixe que o barulho
da opinião dos outros cale a sua própria voz interior. E o mais importante:
tenha coragem de seguir seu coração e intuição. Eles de alguma maneira já sabem
o que você realmente quer se tornar.” Acho isso incrivelmente inspirador.”
Então estamos aqui agora na
questão da liberdade de pensamento e a questão da nossa capacidade de pensarmos
por nós mesmos parece ser a chave no núcleo da expressão de Jobs sob re
Sócrates. Ora, é muito isso que Sócrates procurava desenvolver em seus alunos,
ou seja, a capacidade de encontrarem em si mesmo as respostas. Para ele “uma
vida sem reflexão não vale a pena ser vivida” também por conta disto. De que
aquele que não reflete, vive a vida dos outros ou vive a vida a partir da
cabeça dos outros.
PENSE DIFERENTE
Steve Jobs fez também uma proeza
no mundo dos negócios e das novas tecnologias ao voltar para a Apple. Boa parte
do seu êxito se deve posterior em reerguer a empresa – além do esforço e do
novo foco de desenvolvimento tecnológico que ele implementou e das novas
alianças da empresa - se mostrou em algo aparentemente simples, uma solução de
marketing. E ela foi resumida como um slogan de uma grande campanha que
apresentado em um comercial da Apple em 1997: Think different - pensar
diferente.
Este slogan foi concebido de tal
modo a dar a Apple uma marca que a diferenciasse de todas as demais no mercado
e conseguiu. E, ao mesmo, era um símbolo da ousadia da empresa e das pessoas no
mundo moderno. E o texto publicitário CRAZY ONES, que cito a seguir é
representativo deste desafio e de seu foco num caráter de autonomia também.
The Crazy Ones
Original
“Isto é para os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os
criadores de caso. Os que são peças redondas nos buracos quadrados.
Os que vêem as coisas de forma diferente. Eles não gostam de
regras. E eles não têm nenhum respeito pelo status quo. Você pode citá-los,
discorda-los, glorificá-los ou difamá-los.
A única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque
eles mudam as coisas.
Eles inventam. Eles imaginam. Eles curam. Eles exploram.
Eles criam. Eles inspiram.
Eles empurram a raça humana para frente.
Talvez eles tenham que ser loucos.
Como você pode olhar para uma tela em branco e ver uma obra
de arte? Ou sentar em silêncio e ouvir uma música jamais composta? Ou olhar
para um planeta vermelho e ver um laboratório sobre rodas?
Enquanto alguns os vêem como loucos, nós vemos gênios.
Porque as pessoas que são loucos o suficiente para achar que podem mudar o
mundo, são as que de fato, mudam.”
AS STEVENOTES E SÓCRATES
Mas podemos ver nas técnicas de suas
apresentações, que Steve Jobs aplicava também um certo traço socrático ou
assinatura socrática. Ao estabelecer a que as suas apresentações – também
conhecidas como Stevenotes – tivessem que ser a construção e exibição de um
mocinho que antagoniza com certo inimigo para resolver um problema nosso ele
faz uso da dialética, e ao gerar questões que levam a platéia a chegar a uma
síntese já planejada por ele, ele produz uma maiêutica. Então é pouco provável
que ele não tenha se inspirado no método socrático bem apresentado por Platão
em seus diálogos socráticos para estruturar suas apresentações. A melhor obra
sobre isto é de Carmine Gallo, Faça como Steve Jobs e Realize apresentações
incríveis em qualquer situação.
UM TRAÇO MARCANTE DE JOBS
Cito agora o obituário de
Frederico Botrell (em
Adeus Mrs. Jobs. Estado de Minas, 6/10/2011) “Com todas as
revoluções tecnológicas causadas pelo hippie comedor de maçãs, e mesmo com a
fama de mandão, perverso e intolerante, o desejo do papo com Sócrates revela o
que é mais marcante na trajetória de Jobs. Outra frase famosa do genioso e
genial executivo dá a pista: “Nascemos, vivemos por um momento breve e
morremos. Tem sido assim há muito tempo. A tecnologia não está mudando muito
este cenário”.
A saber, ele tinha plena consciência
dos limites da tecnologia perante o mundo da vida e a nossa existência.
Mas era um homem que dedicou sua
vida a desenvolver e produzir um dos maiores avanços tecnológicos da história
da humanidade, a saber, não somente criar tecnologias, não somente criar novos
equipamentos, mas de certa forma, colocá-los nas mãos de pessoas comuns.
Um dos traços mais marcantes de
Steve Jobs foi a sua lendária capacidade de apresentar idéias. Digo isto,
porque os produtos que ele criou, lançou e promoveu são em sua base idéias, são
conceitos e concepções realizadas e que ganharam realidade em parte por
capacidade de desenvolvimento tecnológico e de outra parte por conta de um
design e de uma concepção preliminar que dirigia a sua produção e concepção.
Outra característica muito
conhecida é que ele tinha uma certa capacidade de constituir em volta de si um
CAMPO DE DISTORÇÃO DA REALIDADE, que produzia a proeza de convencer a todos de
que possuía a razão, mesmo que houvessem muitas dúvidas a respeito disto.
Bem, talvez na cabeça dele seria
um bom teste passar uma tarde com Sócrates para ver, afinal, em que pé andava,
qual alcance e qual o poder ou limite de sua CDR.
Mas afinal, porque Steve queria
falar com Sócrates? Responda você de novo a esta questão.
"I
cannot teach anybody anything, I can only make them think." - Sócrates
Feliz Ano Novo aos Meus Alunos,
Alunas, Amigos e Amigas Colegas e Parentes...toca em frente que 2013 acabou!!!!
HASTA LA
VISTA BABY !!!
FONTES DE PESQUISA
COELHO, Ana Maria Magni. De Sócrates a Jobs. Lounge
Empreendedor. 10/10/2011. (http://loungeempreendedor.com.br/2011/10/10/de-socrates-a-steve-jobs/)
COHEN, Otávio.
Frase da semana: “Trocaria toda a minha tecnologia por uma
tarde com Sócrates” (Steve Jobs). BLOGS. SUPERINTERESSANTE. 07/10/2011
DORO, Marcelo. Jobs e Sócrates. UPF. 2009
BOTRELL,
Frederico. Adeus Mrs. Jobs. O ESTADO DE MINAS. 06/10/211. (http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2011/10/06/internas_economia,254457/adeus-mr-jobs.shtml)
RONAI, Cora. Adeus, Steve Jobs. cora rónai | internETC. uma espécie de diário. 05/10/11
CRUZ, Patrick. Entrevista com Carmine Gallo: As Lições de
Inovação de Steve Jobs – E como aprender com elas. PORTAL IG. 21/06/11.
THE 100 GREATEST
STEVE JOBS QUOTES.
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