1. E sabeis vós também o que significa para mim “o mundo”? 
2. Devo mostrá-lo em meu espelho? 
3. Este mundo: uma imensidão de força, sem começo, sem fim;
4. uma firme, férrea grandeza de forças;
5. que não se torna maior, não se torna menor, 
6. que não se consome, mas apenas se transforma;
7. e, como um todo, é de imutável grandeza, 
8. um orçamento doméstico sem gastos e sem perdas;
9. mas, do mesmo modo, sem crescimento, sem ganhos;
10. rodeado pelo “nada” como suas fronteiras, 
11. nada que se desvaneça, nada desperdiçado, nada infinitamente extenso;
12. mas sim, como força determinada, posto em um determinado espaço, 
13. não em um lugar que fosse algures “vazio”, antes como força em toda parte, como jogo de forças e ondas de força;
14. ao mesmo tempo uno e vário, acumulando-se aqui e ao mesmo tempo diminuindo acolá;
15. um mar em forças tempestuosas e afluentes em si mesmas, sempre se modificando, sempre refluindo;
16. com anos imensos de retorno, com vazante e montante de suas configurações, expelindo das mais simples às mais complexas, do mais calmo, mais inteiriçado;
17. mais frio ao mais incandescente, mais selvagem;
18. para o que mais contradiz a si mesmo e depois, de novo, da plenitude voltando ao lar do mais simples, 
19. a partir do jogo das contradições de volta até o prazer da harmonia, afirmando a si mesmo ainda nessa igualdade de suas vias e anos;
20. abençoando a si mesmo como aquilo que há de voltar eternamente, 
21. como um devir que não conhece nenhum tornar-se satisfeito, 
22. nenhum fastio, nenhum cansaço —: 
23. este meu mundo dionisíaco do criar eternamente a si mesmo, do destruir eternamente a si mesmo, 
24. este mundo misterioso da dupla volúpia, este meu “além de bem e mal”, sem fim, 
25. se não há um fim na felicidade do círculo, sem vontade, se não há boa vontade no anel que torna a si mesmo — 
26. vós quereis um nome para este mundo? 
27. Uma solução para todos os seus enigmas? 
28. Uma luz também para vós, ó ocultos, fortes, mais destemidos seres da meia-noite? 
29. Este mundo é a vontade de poder — e nada além disso! 
30. E também vós mesmos sois essa vontade de poder — e nada além disso!
(obs. numeração e subdivisão minha. Nas duas traduções que possuo está como um parágrafo corrido. Cito SAFRANSKI, Rüdiger. Nietzsche: Biografia de uma tragédia. Tradução Lia Luft. São Paulo: Geração Editorial, 2011, p. 268. &, finalmente, NIETZSCHE, Friedrich. A Vontade de Poder. Tradução Marcos Sinésio Pereira Fernandes, Francisco José Dias de Moraes. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008, pp.512-513. Uso ambas as traduções nesta acima - em uma leitura crítica posterior isso será aperfeiçoado, justificado e esclarecido.)

 
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