Revendo alguns textos, pensamentos e lições, fui assaltado por uma velha questão ontem. Quando digo questão quero dizer que é algo que precisa ser perguntado, mas que nem sempre precisa ser respondido.
Tá muito em voga por ai a adoção de uma perspectiva crítica. Isso é bom e pode inspirar até mais reflexão nas pessoas - um ponto a mais talvez - se ultrapassar a mera perspectiva de um criticismo superficial e sem muita auto-reflexão. O qual não passa de um senso comum revestido de retórica e com um vocabulário ilustrado.
Já há também uma demanda de impor auto-crítica aos outros, é uma espécie de saída e revoada das patrulhas ideológicas para a esfera pública. Vejam só como o vocabulário voa amigos (!). Mas eu gosto muita destas questões de autoridade moral porque elas também tem seus solventes teóricos e reflexivos. E o mais nobre e dissoluto destes é o velho método da dúvida. Que sempre conquista sua absolvição nos últimos atos dos debates e ao provar sua boas boas razões para deixar atrás de si soçobradas certas convicções, crenças e outras fés e verdades.
Fico imaginando muitas vezes a luta de resistência e tenacidade entre as crenças e a dúvida - e vejo neste exercício de diálogo com o outro a prova da amizade e da humanidade também.
Após este longo passeio fiquei imaginando como tratamos também nossas próprias crenças, nossas próprias convicções e nossas verdades. Todas elas são baseadas em experiências, vivências, opiniões e conhecimentos adquiridos, desenvolvidos e reconhecidos. Produzimos crenças, reproduzimos crenças e adotamos crenças. E ao fazer isso erguemos elas no altar do verdadeiro, damos-lhe razão e justificação. E nos regozijamos com isto.
Por conta disto tem sido muito ruim quando temos que colocar em questão nossas próprias opiniões sobre estas coisas todas. Sempre é mais fácil ao nosso juízo questionar as crenças do outro do que as nossas próprias ou do que a si mesmo - a não ser que...
Saibamos disso - desta enrascada de crenças - mas para isso ocorrer algo precisa nos alertar, algum sinal precisa aparecer, algum indício de dúvida precisa brotar no panorama e no nosso roteiro de vida e, então, somente então, nos apercebemos prisioneiros disso.
Bem, dai começamos a pegar um certo gosto disso, um certo gosto por esta liberdade. E em especial algumas crenças nos aliviam em muito ao partir, ao desocuparem suas guaritas por se mostrarem desnecessárias. Quando descobrimos isso deixamos de precisar de certas providências, de certos salva-vidas da razão ou da fé.
Mas, porém, não falamos disso para todo mundo não...
Conquistamos uma liberdade que ao fim e ao cabo continua sendo ameaçada pelas razões, juízos e crenças dos outros...
Mas é uma liberdade atingida pela dúvida, pela reflexão e por uma nova coragem de responder à velha questão: Posso estar errado?
Isto é, desconfiar de si mesmo é a velha questão. Não podemos esquecer disso. Ela é um bom remédio nestas outras questões...
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