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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

CALVINO, BORGES – IMAGINAÇÃO E A FANTASIA SOBRE INFERNO, COMODISMO, SOFRIMENTO E RECONHECIMENTO (II)

- novo título meu para um comentário a uma passagem de Italo Calvino -

"No inferno no qual vivemos todos os dias (...) existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço."

CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. São Paulo: Globo, 2003, p. 158.
(op. citatis in: FILOSOFIA: ENSINO MÉDIO. p. 9.)

a citação é, na tradução de Diogo Mainardi, antecedida disto: "O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos." (p. 71 da edição da Biblioteca Folha) talvez isso explique a situação e o estatuto deste inferno melhor que minhas palavras.

E olha que eu não li este livro inteiro ainda. Já o tomei nas mãos umas 4 vezes...em feira do livro e na casa de um amigo...li uns trechos só...mas a citação tem uma serventia nobre aqui que é tratar do reconhecimento recíproco entre certos tipos de almas neste mundo. O que para mim é muito importante haja vista a necessidade de termos boas companhias nesta passagem pro aqui e de compartilharmos coisas em comum, entre atividades, projetos e lazeres e diversões.

Isso se deve ao fato que em meio a todos os caráteres de pessoas que conhecemos deste mundo para não falar do inferno, há aqueles com os quais temos mais afinidades, reciprocidades, compreensão e também convívio e vivências  satisfatórias.

Se quiseres evitá-lo ou julgares que estamos dando existência ao inferno com o pensamento ou a menção a tal coisa, tudo bem. Não considere isto, apenas. Mas tem sim, gente e gente neste mundo. Tem gente que nos dá muito prazer no convívio e existem pessoas que nos trazem desprazer e sofrimento.  A velha expressão de Sartre cabe aqui: o inferno são os outros.

Sobre o livro de Ítalo Calvino, Cidades Invisíveis há muito a dizer ainda.

Ao procurar aqui para ver se já tem em pdf, o encontrei e dei uma lida ligeira.

Conheci ele, é importante dizer e dar a pista, com a leitura de Porque ler os clássicos, ainda na biblioteca da UFRGS – BSCSH à época - depois entrei em outro tipo de transe com "Seis propostas para o próximo milênio", porque eu sempre tive certa admiração por textos elegantes e que nos fazem ler com valores e princípios, que nos ensinam modos e formas de pensar.

Ítalo Calvino é, neste matéria e sentido, um escritor fantástico no seu duplo sentido. Confesso que descobri ele pela primeira vez por uma resenha no caderno Leia da folha de São Paulo, nos anos 80. E só bem depois é que tive acesso aos seus livros. Então já havia uma forte impressão dele vinda da crítica literária brasileira que o recebia e traduzia então.

Não fiz um comentário longo ainda porque é uma forma de expor um pedaço do meu trabalho para mim mais importante que carrega este tema: reconhecimento recíproco e transitividade da compreensão. Esta citação valeria como uma espécie de epigrafe espirituosa de certa parte dele. De um trabalho iniciado em 1995 e que talvez se conclua em 2015.

Ítalo Calvino é um dos grandes mestres da literatura fantástica. Ele e o Borges possuem uma  certa força comum e tem esta coisa de carregar a gente de forma irresistível com os seus textos carregados de imaginação, fantasia e criação. Quando se começa a ler algo deles, você é envolvido, sua imaginação é envolvida, você não consegue largar.

Com eles e alguns outros poetas e escritores, me acontece algo muito bom. Muitas vezes me sinto mais próximo da ficção do que da filosofia. E não porque a poesia ou a ficção me sejam um refresco. E confesso que gosto muito desta parte da minha história em que a minha imaginação corre livre, feliz e insensata pelas páginas da ficção e da criação literária.

O exemplo de Borges neste sentido é marcante. Quando leio ele fico extremamente imaginativo e chego a pensar em variações e outras possibilidades em seus textos. Não por audácia, mas pela fecundidade e erudição dele. Ezra Pound também me causa isso.

Borges é, numa metáfora animada e móvil, um velho motorista de caminhão que ainda dá carona e que sempre tem uma história incrível para contar...e não tem a menor importância saber se ela é verdadeira ou não...a verossimilhança e o efeito distorção da realidade é ótimo para o nosso pensamento....é como uma estação de férias..

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