"NO FINAL DOS ANOS 80 A FILOSOFIA TORNOU-SE UMA ÁREA deprimente na Inglaterra. A política de governo adotada durante os anos conservadores de Thatcher impôs severos cortes nos financiamentos às universidades, o que se traduziu na carência de professores. Isso foi muito desmotivante para os alunos formados que buscavam seguir carreira ensinando filosofia, pois já é difícil o bastante graduar-se em filosofia e, se ainda por cima, você sabe que não haverá emprego no final do curso, não importa o quanto tenha se saído bem nesta situação pode ser um motivo para lhe deixar na pior. O moral estava baixo, portanto. Os encontros com meus alunos graduados com frequência consistiam em lamentações e expressões de desesperança. O pagamento para os que tinham emprego na universidade também era mínimo e havia um sentimento geral de desvalor. A situação também não indicava um futuro muito melhor. Além disso - e parcialmente por causa disso - a qualidade da filosofia que estava sendo produzida na Inglaterra era nitidamente ruim. Oxford, em particular, havia decaído e estava numa fase autocentrada na qual os trabalhos ali produzidos, um tanto medíocres, eram enaltecidos como se fossem grandes revelações. Atribui-se a ilustre filósofa Elizabeth Anscombe, uma mulher autenticamente intimidante, amiga de Wittgenstein, agora já falecida, o comentário de que não há nada pior do que ouvir um filósofo de segunda classe de Oxford falando para um outro filósofo de segunda classe de Oxford o quão brilhante ele é - e isso de certo modo resumiu tudo para mim."
McGINN, Colin. A Construção de um Filósofo: Minha trajetória na filosofia do Século XX. São Paulo: Editora Record, 2004, pp.207-208.
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