O Professor-Operário
Vladimir Maiakovski
(1893-1930)
Grita-se ao professor:
“Queria te ver numa fábrica!
O que? versos?Pensar? Utopias? Pura bobagem!
Para trabalhar não tens coragem.”
Talvez
ninguém como nós, professores
ponha tanto coração
no trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se chaminés
me faltam
talvez
sem chaminés
seja preciso
ainda mais coragem.
Sei.
Frases vazias não agradam.
Quando serrais madeira
é para fazer lenha.
E nós que somos
senão entalhadores a esculpir
a tora da cabeça humana?
Certamente que a pesca
é coisa respeitável.
Atira-se a rede e quem sabe?
Pega-se um esturjão!
Mas o trabalho do professor
é muito mais difícil.
Pescamos gente viva e não peixes.
Penoso é trabalhar nos altos-fornos
onde se tempera o ferro em brasa.
Mas pode alguém
acusar-nos de ociosos?
Nós polimos as almas
com a lixa do verso, da esperança.
Quem vale mais:
o poeta ou o técnico
que produz comodidades?
Ambos!
Os corações também são motores.
A alma é poderosa força motriz.
Somos iguais.
Camaradas dentro da massa operária.
Proletários do corpo e do espírito.
Somente unidos,
somente juntos remoçaremos o mundo,
fa-lo-emos marchar num ritmo célere.
Diante da vaga de palavras
levantemos um dique!
Mãos à obra!
O trabalho é vivo e, novo!
Com os aradores vazios, fora!
Moinho com eles!
Com a água de seus discursos
que façam mover-se a mó.
PS.: Quem me mandou isto foi o Colega Luis Henrique Becker.
De certa forma aprendi a ler poesia lendo Maiakovski. É o meu primeiro Poeta. Assim como Platão (Sócrates) é o meu primeiro filósofo. Pequena diferença relativa aos bons alunos da escola tradicional. Um desejo de força e sabedoria ao mesmo tempo.
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