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domingo, 21 de junho de 2009

Como vai a vida professora?

COMO VAI A VIDA, PROFESSORA?

Você, como nós, deve ter umas 60 horas de trabalho por semana. Isso em sala de aula. E já te aconteceu que você disse que deu aula e te perguntaram: Você trabalha?


Você, como nós, deve ter umas 10 ou mais contas para pagar todo o mês e deve economizar muito para dar conta dessas contas. Você, como nós, deve perguntar todos os dias e responder todos os dias aquela questiúncula provocante: Por que sou professora? Deve pensar em outras alternativas de trabalho, como nós, e, se está lendo este texto agora, deve desistir de desistir todos os dias. No sábado e no domingo, como nós, prepara aulas, a programação, as provas; deve corrigir provas, com atenção e rigor e, ás vezes, deve namorar um pouco, ir ao cinema, brincar e pensar, como nós, no sentido da vida.


Você, como nós, deve resmungar um pouco, mas não chora, pelo menos em público, por causa de sua condição. Você, como nós, sabe que os governos passam, os partidos passam, os diretores (as) e coordenadoras passam, tudo passa, mas você, como nós, fica. Continua dando aulas e sendo um servidor público imprescindível para a sociedade. Você, como nós, assistiu muitas mudanças nos últimos anos.


Você viu nos chamarem de Senhor Professor ou Senhora Professora, depois Professor ou Professora e hoje – ultimamente, de Sor ou Sora ou, até, Profi. Você deve pensar que essa diminuição na forma de tratamento foi acompanhada pela diminuição do nosso salário. Você, como nós, deve ter reclamado muito quando ¨alguns¨ ganham aumentos em seus salários e nós, como você, ganhamos migalhas.


Você, como nós, viu nos chamarem de pentelhos, privilegiados, inconvenientes e outras coisas, simplesmente porque lutamos por melhores salários, melhores condições de trabalho, melhores condições de vida. Você, como nós, já perdeu muitas esperanças, mas procura encontrá-las de novo porque sabe que o desespero não é a melhor forma de curar a dor.


Você, como nós, aprendeu a levantar a voz contra tiranias e injustiças, porque sabe que sofrerá mais se não reagir. Você, como nós, deve olhar para os olhos dos seus filhos ou dos seus alunos e pensar no futuro deles. Deve pensar também no seu futuro, no seu presente e no seu passado. Lembranças, pensamentos e esperanças.


Você, como nós, apesar de tudo, deve ficar muito orgulhoso – pelo menos nós ficamos – quando fica sabendo ou encontra na rua aquela rapariga ou aquele rapazola que um dia foi seu aluno e descobre que ela hoje é uma Professora, ele um Professor. Isso mesmo, com maiúsculas! Deve pensar: O que foi que eu fiz? Mas deve lembrar do que fez com boa memória. Você, como nós, trata os seus alunos e alunas pensando no melhor, nas atitudes melhores, nos melhores conhecimentos para a vida, o trabalho e a sociedade.


Você se arrependeu e já mudou muito a si mesmo, mas não desistiu. Você, como nós, já fez greve – pelo menos uma vez na vida – só para sentir o gostinho e continuou a fazer, a lutar e a protestar e não desistiu. Você, como nós, já brigou com sindicalistas, já discutiu o caminho, já discutiu sobre o que fazer ou não fazer e, até mesmo, já pensou no que o sindicato tem feito por você – pensando, no fundo, o que você tem feito pelo sindicato, pela sua categoria profissional. Você já deve ter ficado chateado com a desunião da categoria, mas também já deve ter ficado orgulhoso com a força da categoria.


Você, como nós, deve saber que é parte dessa categoria – os educadores, os funcionários de escola, os aposentados e os trabalhadores – mas uma parte importante que faz a diferença quando está junto às outras partes. Você, como nós, deve olhar para os seus colegas e descobrir com freqüência o quão grandes nós somos quando somos generosos e corajosos juntos e uns com os outros.


É por isso tudo que nós estamos chamando você para continuarmos lutando juntos por uma educação pública de qualidade, por melhores salários, por melhores condições de vida, enfim, por uma sociedade melhor, mais justa e mais humana. Se você, como nós, acredita nisso e aceitar esse convite de novo, para continuar a nossa caminhada incomum, mais uma vez, verá que não foi em vão que escrevemos esta história. Não foi em vão que você leu este texto como muitos outros.


Muito obrigado, por ser, como nós, um professor, uma professora, um educador, pois temos mil coisas, afinal, para fazer ainda.

PS.: texto de 10.06.2005 para os Educadores.

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