“Quando você
olhar para a lua cheia, lembre-se que esta luz é um reflexo, quase como o nosso
pensamento, cuja fonte é algo sempre maior do que podemos ver. O próprio Sol é
mais do que vemos e menos do que outros sóis, mas nos basta.”
Andei pensando
muito no que eu sinto, no que eu vejo e no que eu penso como sempre sendo um
reflexo menor do que o provoca. Não importando quantas palavras ou quanto
engenho eu dedique a descrever o que sinto, vejo ou penso.
Acabei
lembrando meu querido professor de filosofia, Paulo Faria que relatava em aula
um texto de um físico – Henry Cavendish - sobre o que acontecia na sua frente
naquele instante em uma mesa sob seus olhos, sobre a composição da matéria, a
energia da matéria e a estrutura do átomo, sobre o fato da nossa mesa à nossa
frente e sob nossos olhos ser composta de milhões de átomos e ainda mais longe,
que estes átomos estão me movimento e vivos, e que se não percebemos isso é
somente porque nosso aparelho perceptual que se compõem de visão e os demais
sentidos não foi cunhado e forjado na síntese natural para perceber tais
coisas.
É um exemplo
claro de que nem tudo que é visto e que nossos sentidos refletem para o nosso
pensamento é abarcado como informação ao nosso pensamento. E também de que
devemos pensar nisso qu8e está além dos nossos sentidos não apenas como uma
coisa em si inatingível, intangível e intocável, mas também como algo cujas
nossas antenas, muletas e ferramentas intelectuais, sejam, estes conceitos ou
equipamentos sofisticados nos ajudam a alcançar, descobrir e perceber.
Quando você
olhar para a lua cheia, lembre-se, então, que esta luz é um reflexo, um reflexo
diminuído do sol. E lembre-se também que mesmo o sol que vemos é diminuído ao
nosso olhar perante o imensidão do sol real segundo nossa própria perspectiva
pode vir a adquirir quando se avança no seu conhecimento físico.
Assim, ocorre
quase como no nosso pensamento, cuja expressão é diminuída e cuja fonte é algo
sempre maior do que podemos ver. Penso que esta é uma tese interessante com
amplas aplicações em filosofia, estética, filosofia da ciência e também ética e
metafísica.
Faço
associações imediatas aqui com Goethe e Rousseau, com Walter Benjamin e o segundo
Wittgenstein, cuja percepção instantânea disso parece ser sentida em uma certa
fenomenologia situacional do que o Heliotropismo dos Girassóis é apenas um
efeito, do que as afinidades eletivas é apenas um efeito e poderia deslindar
aqui por diversas cartas e coringas apresentados por estes autores para voltar
ao sentido raso do que poderia chamar de limite ou senso de que há algo além.
Não vou citar mais ninguém aqui para evitar este hábito de eruditismo que creio
ser desnecessário, me calando então sobre as demais idéias e influencias e
sossegando a prosa ao seu objeto.
O próprio Sol
é mais do que vemos e menos do que os outros sóis de outras galáxias. Não é
considerado um sol gigantesco, porém, o percebemos menor do que é, muito menor
é seu reflexo e sua força que para nós se mostra apenas por experimentos. Como
aquele experimento de queimar uma folha de papel com a luz do sol sob uma lupa
ou lente de aumento que parece restaurar a força desta luz e o calor da luz que
o sol produz e que é diminuída por nossa atmosfera e pela distância cuja
variável é constante e mantém um arco médio e que nosso planeta guarda do sol.
As palavras
são menores que os sentimentos que as provoca e também da mesma talvez pudessem
ser restauradas em seu fulgor e força por alguma lupa ou pela ruptura da
redução ou diminuição que as aprisiona e me parece que é justamente isto que os
poetas fazem tão bem. Eles possuem as lentes que fazem nossos sentimentos se
encontrarem e que ajudam a expressar estes sentimentos com mais força.
E no amor o
que sentimos sempre é um pedaço menor e refletido do que realmente nos toca ao
fundo da alma como dizem os poetas. E nossa admiração silenciosa de alguma
coisa, nossa intrigante interrogação sem resposta sobre alguma coisa sempre nos
defronta com o mesmo sentimento de que há algo maior ao fundo ou como base do
que o mero reflexo nos traz aos nossos sentidos. Parte, creio eu, sinceramente,
do grande mistério da natureza está em ver aquilo que outros não viram,
explicar aquilo que outros não compreenderam e considerar de outra forma aquilo
que é visto apenas como banal pelos reles mortais como eu.
Quando você
olhar para o seu amor, lembre-se, então, que este amor que sentes é apenas um
reflexo, um reflexo diminuído do seu objeto. E lembre-se também que mesmo o
objeto deste amor que vemos é diminuído ao nosso olhar perante a imensidão dele
próprio, perante a sua singularidade que inclui aquilo que não percebemos
segundo nossa própria perspectiva e aquilo que colocamos nela ao olhar e ao
sentir.
Eu disse, em
minha primeira anotação sobre isto, que o sentido disto; de que há algo maior
no sol que vemos, no amor que sentimos, na visão que temos das coisas nos
basta. Mas devo reconsiderar estas palavras, pois se isso nos basta ou não, é a
pergunta que fazemos quando não entendemos, simplesmente, que todo nosso
reflexo, pensamento ou sentido, visão ou amor é sempre muito menor que sua
causa, e ainda mais mesmo quando a causa não se limita ao objeto, mas tem parte
em nós e no que nós apenas intuímos por fantasia, imaginação ou paixão.
E isso, enfim,
desafia nossa razão ambiciosa e nosso modesto entendimento a pensar que muito
maior que a intriga, que maior que o enredo, será sempre a mente que o concebeu
e que lhe deu escolhas, assim como a mente que ousa compreendê-lo e que em
parte o compreende ganha ai também alguma grandeza.
{este texto
parece conter somente idéias filosóficas misturadas com palavras delirantes,
mas se enganam e muito, aqueles que acreditam que não há nada de pessoal,
político ou histórico nele – tão grande quanto nosso engano sobre o sol, pode
ser nosso engano sobre o mundo, sobre o nosso país, sobre as pessoas e sobre
aquele modesto jardineiro que em seu jardim cultiva flores que desconhecemos,
não entendemos ou sequer percebemos em sua singularidade o que ele está
realmente a fazer, a não ser que nos aproximemos dele e vejamos mais de perto o
que ele faz e aquilo que ele diz sobre o que está fazendo }
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