O Carnaval de São Leopoldo tem uma
história cujo inicio e surgimento ainda está envolta em certos mistérios, mas
que possui já parte de sua história revelada por alguns testemunhos de
historiadores, pesquisadores e em memórias de alguns de seus participantes já
históricos. Esta história pode ser narrada em algumas etapas que são marcadas
pelos espaços de atuação, modalidades de organizações e relações competitivas
ou meramente recreativas e as instituições envolvidas. Vamos abreviar aqui uma
reconstrução disto, dando ênfase maior aos períodos, às entidades e aos
desfiles para revelar sua importância e mostrar seu potencial.
Nestas diversas etapas que podem
ser arroladas, destaca-se muito o período de 2005 a 2012 em que o carnaval
leopoldense, com apoio e investimento do poder público, com patrocínios e com
intensa produção e participação popular conquistou muito destaque e qualidade,
e, com isto, muita expressão estadual. Após isto houve um período de descenso
do carnaval em que não ocorreu desfile oficial, o que levou a dois desfiles participativos
em 2015 e 2016 em que as escolas se unificaram e realizaram um desfile
integrado em caráter colaborativo e não competitivo.
O desafio em 2017 é resgatar e
retomar esta festividade de forma modesta ainda, mas bem organizada,
intensamente mobilizada e com qualidade e ampla participação da população e das
comunidades carnavalescas e suas agremiações. Por isto o carnaval se constituiu
e sempre foi importante na cidade em virtude de representar e apresentar as
relações sociais, promover incremento cultural e uma dinâmica econômica na
cidade, seja em grandes desfiles e uma grande organização e estrutura, seja em
eventos mais particulares em sociedades ou em pequenos blocos ou cordões.
A união dos carnavalescos em
parceria com o poder público é, porém, um evento recente. Nem sempre ocorreu,
mas hoje adquire importância fundamental e passa a ter, com o apoio da
iniciativa privada, um caminho para a sustentabilidade. Vamos contar um pouco
desta história para exibir o potencial e o desafio de se retomar o carnaval em
São Leopoldo no ano de 2017.
Em seus primórdios era um entrudo
de rua, na última quadra do século XIX passou para a modalidade de bailes de
salão e atraia festeiros de Porto Alegre e que se deslocavam pela viação férrea
pioneira. No início do Século XX, em especial já nos anos 20, haviam desfiles
na Rua Grande em que a população festejava o carnaval com integração social e
de forma mais popular. Conforme registros do historiador Germano Moehlecke (1),
este tipo de desfile teve início em 1923, sempre na Rua Independência – Rua
Grande -, envolvendo dezenas de blocos carnavalescos e atraindo os moradores da
cidade para a festa de forma mais intensa. Haviam cordões e diversos grupos que
cumpriam o papel de organizar a participação dos foliões. Depois, a partir de
1928, os desfiles pela rua mais famosa de São Leopoldo passaram a ser
organizados pelo Clube Recreio Juvenil, contando com eleição da Rainha do
Carnaval. A folia estendeu-se, aproximadamente, até 1943. Os moradores
permaneciam nas sacadas por horas, cantando marchinhas e jogando serpentinas ao
alto, colorindo o chão de pedra. Os blocos costumavam ser formados, em sua
maioria, por cerca de 20 veículos adornados que levavam várias pessoas a bordo.
Carros alegóricos de menor porte em relação aos atuais transportavam os
destaques.
Entretanto, grupos também
participavam a pé. Os foliões se integravam à festa devidamente fantasiados,
incorporando marinheiros, palhaços e pessoas do sexo oposto. “Os blocos
ensaiavam e cantavam duas ou três marchinhas pela Independência” contou
Moehlecke. Isto era combinado com bailes de salão nos clubes sociais de toda a
cidade e também com uma espécie de intercâmbio na região e com a capital do
estado. Entre o final da segunda guerra e os anos 80 surgiram os blocos
carnavalescos que deram grande prestigio e foram formadores de diversos
sambistas, coreógrafos, cenógrafos e que fizeram o carnaval leopoldense chegar
a ser campeão gaúcho através do Bloco Os Cobras nos anos 70.
De meados dos anos 50 até meados
dos anos 90 ocorreu também uma espécie de incremento no tema dos desfiles de
fantasias. Muitos coreógrafos, estilistas, costureiros e destaques em fantasias
atuaram em nossa cidade e daqui disputaram certames estaduais e nacionais. É
importante citar também a nossa razoavelmente continuada escolha, eleição,
seleção e indicação de uma montagem de corte de Rei Momo e suas princesas que
vem de larga tradição no carnaval municipal remontando também aos anos 20 e
prosseguindo até os dias de hoje.
Assim, sobre os blocos, como
relata Ramão Carvalho “É no final dos anos 50 que surgem na cidade dois
importantes blocos, que entremearam a fase do carnaval de salão para o carnaval
de rua. Foram fundados dentro das duas Sociedades mais importantes de São
Leopoldo: na Sociedade Orpheu, surge o bloco vermelho e branco: Os Cobras. Na
Sociedade Ginástica, o bloco azul e branco Os Dragões, que além de abrilhantar
o carnaval de São Leopoldo, traçariam uma disputa de muitas décadas, inclusive
na participação do carnaval fora da cidade, pois competiram nos campeonatos
estaduais promovidos pela EPATUR de Porto Alegre na Avenida Borges de Medeiros,
marcando definitivamente outra “era” do carnaval, e, inclusive inspirando
outros blocos e também inovando nos desfiles e nas disputas do carnaval.” (2)
Em meados dos anos 70 surgem também os cordões e o Cordão Oficial da Sociedade
Orpheu merece destaque por sua longa vida que prosseguiu até o final dos anos
90.
A partir dos anos 80, esta matriz
carnavalesca forma a base para o surgimento das Escolas de Samba que são hoje
as bases das sete escolas de samba em atividade e que são localizadas em
diversos bairros e regiões da cidade. Logo em seguida, em meados dos anos 80, o
carnaval passa, então, a receber atenção efetiva do poder público e a integrar
de forma oficial um calendário e uma programação cultural que no inicio
resumia-se a um desfile e que logo em seguida chega a um desfile oficial com
campeonatos entre as escolas e com a participação de diversas agremiações. Com
apoio e patrocínio de empresas e com intensa participação das comunidades de
praticamente todos os bairros e regiões da cidade o carnaval leopoldense chegou
a ser considerado, no seu ciclo mais positivo de 2005 a 2012, o Terceiro
Carnaval do Rio Grande dos Sul em qualidade técnica, organização e público.
Apesar disto, é importante registrar neste histórico que não ocorreram desfiles
oficiais em 1987, 1988, 2001, 2015 e 2016 (3).
Os desfiles de carnaval tem sido
organizados com parceria do poder público municipal e a Associação das
Entidades Carnavalescas Recreativas e Culturais de São Leopoldo - AECRCSL.
Já as escolas de samba. que vamos
arrolar em seguida, tem tido também muitas atividades e participado dos
desfiles oficiais. A Sociedade Cultural e Beneficente e Carnavalesca Império do
Sol, fundada em 1988, (Campeã em 1994, 2002, 2004, 2006, 2009, 2013 e 2014) e
que foi sede também de um ponto de cultura com formação de ritmistas e
passistas para o carnaval entre 2008 e 2012. Já a Escola de Samba Acadêmicos do
Rio Branco, fundada em 1982, (Campeã em 1985, 1986, 1989, 1990, 1991, 2005,
2008, 2012) do bairro com mesmo nome é a escola mais antiga em atividade na
cidade. Segue a Sociedade Recreativa Cultural Beneficente Imperatriz
Leopoldense, criada em 1995, localizada no bairro Feitoria ( que foi campeã em
1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2003, 2010, 2011). Está, porém, em inatividade a
Escola de Samba Gladiadores da Feitoria, fundada em 1990 ( que foi campeã em
1992,1993, 1995, 2007.) e está inativa desde 2008. Além disso, existem mais
escolas que tem disputado os desfiles intercalando segundos e terceiros lugares
e que merecem constar aqui como a União da Vila (fundada em 2004), a Academia
de Samba da Zona Norte (fundada em 2006), a Imperadores do Sul (fundada em
2006), a Estação Primeira de São Léo (fundada em 2007) e a Sociedade Recreativa
Carnavalesca Beneficente e Escola de Samba Alambique Leopoldense, que foi
fundada em 2008.
O Grupo Cultural Anastácia, que
atua desde 1995, tem também desenvolvido um trabalho de carnaval muito
respeitado e com muita pesquisa e formação.
Já nos últimos dez anos começaram
a surgir também grupos de carnaval aparentemente menores, como o El Gato, Não
cutuca que eu me empolgo, o Grupo Alambique que se transformou já em escola de
samba, e que com a venda de abadas, bom samba e intensos roteiros com trio
elétricos pela cidade tem atraído também foliões.
Esta festa centenária tem se
revelado, então, através das suas realizações uma importância cultural para a
cidade, pois promove a integração e o envolvimento de diversas comunidades,
estimula uma cadeia produtiva semi profissional em alguns casos e profissional
em outros, mostrando um grande potencial de incremento econômico, projeção de
sua marca e expansão em qualidade técnica e cultural.
Outro fato importante é a
participação popular que comparece nos eventos bem organizados e projetados,
onde se conta sempre com um expressivo público, sempre registrado acima de 100
mil pessoas nas noites de desfiles e nos bailes. O que atinge quase a metade de
toda a população da cidade e conta com a presença de uma parte bem
representativa de simpatizantes do carnaval da região do vale dos sinos e da
capital e mantém também intercambio com escolas de renome de outros estados.
Tentamos aqui exibir um bom apanhado porque isto mostra o potencial da promoção
deste evento em nossa cidade.
São Leopoldo, 29 de janeiro de
2017.
Prof. Daniel Adams Boeira
daniel_boeira@yahoo.com.br
P.S.: O presente texto foi
elaborado como contribuição para o projeto de carnaval 2017, é limitado em
profundidade e talvez tenha alguns equívocos e imprecisões, por isto mesmo
aceito sugestões, correções e depoimentos serão bem vindos também. As críticas
também são bem vindas e argumentos mais ainda. Agradeço todas as contribuições
e a compreensão generosa dos amigos e amigas desde já.
NOTAS:
1. GERMANO MOEHLEKE, historiador
recentemente falecido com diversas publicações e pesquisas sobre a história de
São Leopoldo, foi entrevistado em 2009 sobre a história do carnaval para uma
reconstrução da importância do evento pela Diretoria de Carnaval da Secreatria
Municipal de Cultura de São Leopoldo.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_campe%C3%A3s_do_carnaval_de_S%C3%A3o_Leopoldo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Resultados_do_Carnaval_de_S%C3%A3o_Leopoldo
Na FOTO ABAIXO rendo homenagem à minha primeira contribuição ao carnaval. Um Dia num salão dos anos 60 eu já tava na festa...
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