O riso é uma das atividades mais
nobres e simplórias do homem, visto que é facultado a todos e mesmo àqueles que
tem manifestamente alguma dificuldade para gracejar, o fazem silenciosamente
com a boca cerrada, na certeza de ampla impunidade, mas de duvidosa e
aparentemente insuspeita desconfiança dos demais, posto que sei sintoma
emocional se apresenta também nos cantos da boca e no movimentar cintilante de
alguns olhos graciosos. Sua superioridade ou inferioridade pode porém ser
apenas ilusória. E isso, este riso, ocorre ou como sinal de satisfação ou como
uma espécie de desafogo perante a tristeza.
Bergson percebeu em seu famoso
ensaio que ele é sempre intensional e que contrasta com a realidade que
enfrentamos, nos diferenciando e destacando do mundo das coisas e dos demais
seres incapazes disto. Neste último efeito, assim entendo, o vemos já como uma
estratégia da consciência ou do que alguns chamam do limiar entre consciência e
inconsciente cujo traçado irônico inclui e exclui certas coisas a medida que
evoluímos moralmente o que passamos a encarar tudo aquilo que se passa em nosso
pensamento como objeto de juízo, aprovação, reprovação, correção, negação ou
afirmação com mais ou menos palavras segundo nossa inspiração e imaginação nos
ajudam a refertar. Freud tratou o riso sob o nome e a forma de chistes e dizia
em uma obra sua que ele é um mecanismo pelo qual liberamos impulsos socialmente
reprimidos, frequentemente relacionados ao sexo e à agressividade. Isso nos
leva, então, ao meu ver e poupando vocês que me lêem de detalhes e exemplos que
corroborem isso a dois motivos do riso: um primeiro que é o não poder dizer e
um segundo que é apenas substituir as palavras por um gesto.
Numa das passagens que mais me
emocionou ao ler e ao assistir no livro e no filme O Nome da Rosa, de Umberto
Eco, ocorre aquela revelação decisiva e surpreendente aos leigos e inocentes de
riso fácil de porque certas obras de Aristóteles e outros gregos e romanos eram
proibidas: porque causavam intenso prazer e colocavam seus leitores às
gargalhadas, revelando, dos homens que as lêem, facetas pouco sérias e verazmente,
na opinião da moralidade elevada e altamente repressiva, muito diabólicas e de
altíssima ou baixíssima, seria melhor dizer neste caso, periculosidade. E assim
o riso foi enquadrado na categoria de um mal e de um mal maior.
Devo reconhecer que me aborreço
com o riso cínico e irônico, desrespeitoso e debochado á qualquer preço ou por
qualquer coisa, porém, devo admitir que mesmo em mim que me pretendo sério – e
que poderia dizer – tento me levar muito a sério, me ocorre todas as formas de
riso do mais singelo ao canto da boca – tal qual uma Mona Lisa levemente
graciosa e eternamente gracejante – às gargalhas mais histriônicas. E ainda
tenho o terrível e malévolo defeito de falar rindo, que me foi e é
repetidamente apontado por alguém muito próximo e que nem sempre consigo
impedir ou corrigir, de tal modo que alguns sofrem para entender o significado
do que digo, pois minha pronúncia e dicção prejudicada de vocábulos, silabas
inteiras, palavras e frases fica ininteligível e seu sentido passa a ser
impensável por meus interlocutores, ainda que eu tenha em meu sentido interno a
mais ampla convicção de estar apenas a temperar com graça minhas palavras e rir
de mim e das coisas que digo.
Isso, porém, não significa que
minha auto-ironia não seja limitada, nem que eu aceite piadinha de mau gosto
todo o tempo em que decorre meu dia, meu mês, meu ano, décadas e minha vida.
Espero poder rir também do que
reúno aqui...
Nenhum comentário:
Postar um comentário