Alguém já deve ter dito isto em
algum lugar, mas fiquei pensando hoje, enquanto pesquisava algumas imagens e me
lembrava das reações de pessoas de diversas gerações frente à imagens antigas
ou históricas, frente à exemplares e objetos culturais antigos ou primitivos, e
pensei como é incrível o potencial do patrimônio histórico de seu tema e de
seus objetos de aproximarem gerações. Os
mais velhos e muitos jovens são vistos em toda parte fazendo turismo cultural e
apreciando isso e em tudo quanto é tipo de foto, imagem, selfie ou conjunto
arquitetônico, em pleno convívio, alegria e se deleitando com prédios,
monumentos, estruturas estéticas e objetos.
Sei que não se deve subestimar,
porém, o desprezo de alguns por este tipo de coisa. Tenho visto isso bem mais
do que desejaria. A razoável facilidade com que os interesses econômicos e
materiais passam por cima do patrimônio histórico, suas leis - e aqui se
mascaram também interesses políticos e jurídicos que os representam. sei que
não devemos nem muito menos desprezar o fato de que algumas pessoas não estão
absolutamente interessadas e nem se sentem sensibilizadas com isto. Nem sempre
o ditame na destruição de um prédio antigo é a necessidade, muitas vezes é só a
vontade e a possibilidade de poder fazer que orientam esta ação. E estas
pessoas estão no nosso meio e de nós desdenham com ar jocoso e jubiloso. Temos
que lidar e compreender isto, fazendo frente e resistência a isto com nossa
inteligência, mas também com algumas descobertas e expressando percepções que
estas pessoas não tem, mas que poderiam assentir.
Porém, quando olho para cidades
brutalizadas, quando vejo violência e diversas formas de desumanização nas
cidades, nas praças, nos parques, ruas, alamedas eu sinto também uma intuição.
Esta intuição - que pode parecer bem pueril para alguns - me diz que certas
coisas parecem incompatíveis coma forma lógica da beleza. Creio que a beleza
tal como uma forma lógica não violenta imuniza contra a violência sim, ou seja,
que ao contrário do que muitos podem depreender de certos filmes, em um
ambiente estético, em um lugar onde a beleza é incrivelmente imponente, o que
faz nossa percepção e sensibilidade ficarem aguçadas ou serem despertadas, deve
ser pouco provável e subjetivamente censurado qualquer impulso perverso ou para
o mau.
O patrimônio histórico, assim
como uma arquitetura portadora de beleza deve mover nossa sensibilidade, assim
como uma cidade limpa, uma calçada em bom estado, uma pintura de fachada e a
redução da poluição visual devem tornar o homem e a mulher menos suscetíveis a
mercantilização da vida, aos ditames do útil e do descartável e, portanto, nos
fazer viver melhor entre jovens, adultos e idosos.
Vi uma foto de um seminário em
que um idoso - provavelmente um arquiteto - estava a relatar a jovens estudantes
determinada história de edificações. Via ali uma plêiade de jovens com brilhos
nos olhos e alegria compartilhando do mesmo prazer que o narrador comunicava.
Havia ali claramente uma sintonia de gerações;
Assim, como na semana passada,
após a reunião do Fórum Livre de Cultura, eu e minha filha subíamos a Rua
Grande e ela parou em frente a uma Fachada antiga preservada, cujo conjunto das
aberturas foi alterado e exclamou: que coisa bem feia isso ficou! Sem mais
seguimos andando e eu fiquei pensando que esta expressão de impacto, patética,
porque envolve uma sensação - pathos - passiva nossa e uma resposta a isto,
pode em outros jovens acusar outras reações. E eu sempre lembro que quem não
tem palavras, quem não pára para pensar, acaba simplesmente agindo ou reagindo
a um mundo que lhe impõe desprazer.
Obs.: a foto abaixo é de uma
imagem que está como quem não quer nada dentro do Hospital Centenário na ante
sala da clínica SIDI. Trata-se de um desenho a bico de pena que reproduz uma
imagem bem antiga da Casa do Imigrante. A mesma que desperta nossas preocupações
atuais com seu estado de conservação e que consta na Carta em Defesa da Cultura
e da História de São Leopoldo.
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