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sexta-feira, 31 de julho de 2015

PATRIMÔNIO HISTÓRICO, ESTÉTICA E GERAÇÕES: A FORMA LÓGICA DA BELEZA



Alguém já deve ter dito isto em algum lugar, mas fiquei pensando hoje, enquanto pesquisava algumas imagens e me lembrava das reações de pessoas de diversas gerações frente à imagens antigas ou históricas, frente à exemplares e objetos culturais antigos ou primitivos, e pensei como é incrível o potencial do patrimônio histórico de seu tema e de seus objetos  de aproximarem gerações. Os mais velhos e muitos jovens são vistos em toda parte fazendo turismo cultural e apreciando isso e em tudo quanto é tipo de foto, imagem, selfie ou conjunto arquitetônico, em pleno convívio, alegria e se deleitando com prédios, monumentos, estruturas estéticas e objetos.

Sei que não se deve subestimar, porém, o desprezo de alguns por este tipo de coisa. Tenho visto isso bem mais do que desejaria. A razoável facilidade com que os interesses econômicos e materiais passam por cima do patrimônio histórico, suas leis - e aqui se mascaram também interesses políticos e jurídicos que os representam. sei que não devemos nem muito menos desprezar o fato de que algumas pessoas não estão absolutamente interessadas e nem se sentem sensibilizadas com isto. Nem sempre o ditame na destruição de um prédio antigo é a necessidade, muitas vezes é só a vontade e a possibilidade de poder fazer que orientam esta ação. E estas pessoas estão no nosso meio e de nós desdenham com ar jocoso e jubiloso. Temos que lidar e compreender isto, fazendo frente e resistência a isto com nossa inteligência, mas também com algumas descobertas e expressando percepções que estas pessoas não tem, mas que poderiam assentir.

Porém, quando olho para cidades brutalizadas, quando vejo violência e diversas formas de desumanização nas cidades, nas praças, nos parques, ruas, alamedas eu sinto também uma intuição. Esta intuição - que pode parecer bem pueril para alguns - me diz que certas coisas parecem incompatíveis coma forma lógica da beleza. Creio que a beleza tal como uma forma lógica não violenta imuniza contra a violência sim, ou seja, que ao contrário do que muitos podem depreender de certos filmes, em um ambiente estético, em um lugar onde a beleza é incrivelmente imponente, o que faz nossa percepção e sensibilidade ficarem aguçadas ou serem despertadas, deve ser pouco provável e subjetivamente censurado qualquer impulso perverso ou para o mau.

O patrimônio histórico, assim como uma arquitetura portadora de beleza deve mover nossa sensibilidade, assim como uma cidade limpa, uma calçada em bom estado, uma pintura de fachada e a redução da poluição visual devem tornar o homem e a mulher menos suscetíveis a mercantilização da vida, aos ditames do útil e do descartável e, portanto, nos fazer viver melhor entre jovens, adultos e idosos.

Vi uma foto de um seminário em que um idoso - provavelmente um arquiteto - estava a relatar a jovens estudantes determinada história de edificações. Via ali uma plêiade de jovens com brilhos nos olhos e alegria compartilhando do mesmo prazer que o narrador comunicava. Havia ali claramente uma sintonia de gerações;

Assim, como na semana passada, após a reunião do Fórum Livre de Cultura, eu e minha filha subíamos a Rua Grande e ela parou em frente a uma Fachada antiga preservada, cujo conjunto das aberturas foi alterado e exclamou: que coisa bem feia isso ficou! Sem mais seguimos andando e eu fiquei pensando que esta expressão de impacto, patética, porque envolve uma sensação - pathos - passiva nossa e uma resposta a isto, pode em outros jovens acusar outras reações. E eu sempre lembro que quem não tem palavras, quem não pára para pensar, acaba simplesmente agindo ou reagindo a um mundo que lhe impõe desprazer.


Obs.: a foto abaixo é de uma imagem que está como quem não quer nada dentro do Hospital Centenário na ante sala da clínica SIDI. Trata-se de um desenho a bico de pena que reproduz uma imagem bem antiga da Casa do Imigrante. A mesma que desperta nossas preocupações atuais com seu estado de conservação e que consta na Carta em Defesa da Cultura e da História de São Leopoldo. 

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