"Quando da morte de George
Gershwin, com quem Schoemberg gostava de jogar tênis, o exilado (em Los Angeles
nos EUA) saudou o amigo mais jovem e mais bem-sucedido como um igual. "Um
artista é para mim como uma macieira", disse Schoemberg, referindo-se a
Gershwin e a si próprio. "Quando chega a sua hora, queira ou não queira,
floresce e começa a dar frutos. E, como a macieira não sabe nem pergunta que
valor será atribuído a seu produto pelos peritos do mercado, também o
compositor não pergunta se seu produto irá agradar aos peritos(...)."
In: FRIEDRICH, OTTO. A Cidade das Redes: Hollywood nos anos
40., p.44.
Uma passagem maravilhosamente
evocativa para mim. Porque gosto muito de música. Porque gosto de Gershwin e
Schoemberg. Porque lembro o quanto gostava das minhas inesquecíveis partidas de
tênis com meu pai - sim meu pai era um eletricista que sabia jogar tênis -
assim como lembro desta expressão que Schoemberg usou saindo da boca de meu
pai: "quando chega a sua hora, queira ou não queira" aplicada a
toneladas de situações inexoráveis, imprevisíveis, imponderáveis e que me
advertiam basicamente que o que é para ser, vai ser e o que não é, jamais será,
sobre também a força da natureza, do destino e também de um talento ou gênio.
Assim, como ele mandava também
dar pouca pelota para os que não te entendem e não esperar entendimento ou
acolhida mesmo quando se tem razão ou se é sincero. E ela também é evocativa
para mim porque me lembra do ponto de vista que tenho como aluno e professor
sobre o tempo de cada coisa e cada pessoa, que cada um tem seu tempo e que só
nos resta estimular, apoiar, reconhecer e apostar em quem atrai nossa atenção e
merece nossa estima.
George Gershwin morreu aos 38
anos de um tumor no cérebro no auge de sua carreira. É considerado o compositor
mais bem sucedido e rico de todos os tempos pelo Guardian. Escute Porgy and
Bess, se nunca ouviu nada dele ou a mais popular Rhapsody in Blue. Já de
Schoemberg recomendo ouvir Pierrot Lunaire, que foi caracterizado como arte
degenerada pelos nazistas. Compartilho aqui a fala de Schoemberg sobre Gershwin,
com a sugestiva imagem em que Gershwin pinta Schoemberg - quem vai gostar desta
é minha mãe ao ouvir estas palavras em alemão, sendo aqui um claro laço de reciprocidade
e tranquilidade e da paciência que temos que ter com o tempo e o talento próprio
de cada um:
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