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quinta-feira, 23 de julho de 2015

CURSO DE FILOSOFIA E HISTÓRIA DA ARTE DE MÁRIO DE ANDRADE – RIO DE JANEIRO - 1938


"O curso de Filosofia e História da Arte ministrado por Mário de Andrade na Universidade do Distrito Federal nasceu de um golpe da "imaginação, essa doida", como contava. Veio-lhe a ideia de fundir as duas disciplinas numa só. Com isso teve de trabalhar mais duro, sob pressão do ritmo intenso de aulas, quatro por semana. Não sabia se iria aguentar, tanto se gastava em estudos e pesquisas, mas saiu-se bem. A vantagem é que, com essas aulas, repensava o problema da estética, e o definia tanto para os alunos como para si mesmo.

Era o seguinte, em resumo, o pensamento exposto na aula inaugural. A arte não se aprende: daí a diferença fundamental entre o artista e o artesão. Nos processos de elaboração dos eu material básico, a arte quase se confunde com o artesanato, o artefazer. Portanto, o artista há de ser também artesão, dono dos segredos e das exigências do material. O artesanato não se confunde com a técnica; é parte essencial dela. A outra parte é a objetivação de uma "verdade interior" do artista, que obedece a imperativos e caprichos da objetividade. O artista será, no entanto, mero imitador se se limitar ao exercício da habilidade própria. A técnica envolve a solução do artista, que integra o "talento"; é um elemento imprescindível e inensinável. Pela "inflação do individualismo", a arte foi afastada de suas fontes legítimas. Deve voltar a elas. "Só então o individuo retornará ao humano. Porque na arte verdadeira o humano é a fatalidade" - concluía o mestre.

Tal, em linhas gerais, o ensinamento a ser desenvolvido nas aulas subsequentes.

Eram aulas entremeadas de exemplos, caos metáforas, sempre cheias de vivacidade e interesse. O professor, muito metódico, vinha com fichas preparadas e seguia um esquema seguro, sem se desviar. Passava trabalhos para casa e dava notas. Era brincalhão, mas ao mesmo tempo exigente. Os alunos o achavam "desacatante" (um termo em voga na época); continuavam a conversar e A fazer perguntas pelos corredores e no café, alguns iam ao seu apartamento para consultar livros e álbuns de arte."


CASTRO, Nelson Werneck de. Mário de Andrade: O Exílio no Rio. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1989. pp. 27-28.

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