Eu penso sinceramente muito nisso
no risco do aprisionamento de nossa mente.
De que podemos sair de uma
caverna e acabar construindo outra mais confortável com nossas teorias, convicções
e preferências.
Então, repito aqui parte de um diálogo
sobre isto:
NÃO ADIANTA SAIR DE UMA CAVERNA E
CONSTRUIR OUTRA COM MAIS LUXO, POIS VAI CONTINUAR SENDO UMA CAVERNA IGUAL.
A metáfora da caverna de Platão
me ajudou a pensar várias outras dimensões críticas e acabou por se cruzar com
uma velha impressão minha de que nós podemos correr o risco de nos aprisionar
também em perspectivas teóricas e não somente ideológicas ou de fantasias de
percepção. Não somente no domínio da opinião o aprisionamento é possível. Mas também
da ideologia ou – se assim aceitares – de certa forma de compreensão ou
interpretação do mundo. Isso pode envolver tanto aspectos epistêmicos, cognitivos
e fatuais, quanto a aspectos judicativos, valorativos ou morais.
Me abalei ao pensar nisto desta
vez porque tive que manobrar neste estacionamento com escassos milímetros de
ajuste dos veículos com os quais estava lidando. Sem um arranhão entre a ética
e a estética, por exemplo, mas fiquei muito impressionado confesso na coincidência
entre este insight e o que eu havia tido em 1996 sobre o Prisioneiro em Wittgenstein. Como
sabem, muitos hoje sabem melhor que eu, o que Wittgenstein dizia sobre isso, e
que também gostava de metáforas e de aforismos e criou uma idéia de tirar a
mosca da campânula em resposta à sua perspectiva anterior de que batíamos com
nossas cabeças contra os limites da nossa linguagem e do nosso mundo.
A caverna não é o departamento de
filosofia, ou seu paradigma dominante é aquilo que na nossa cabeça nos faz
pensar que isto ou aquilo é o principal, o prioritário e o único modo de ser
feliz ou dar sentido a vida.
Quando usei ironicamente a
expressão: MINHA CAVERNINHA QUERIDA, contra um absurdo que li de determinado colonista
da imprensa local pensei muito nisto e também no fato de que sempre aceitamos
este risco, mas me lembrando de um velho cético, não fará mal algum ficar um
pouco desconfiado e julgar, refletir e pensar na conta inteira de nossas
crenças. E no destino da nossa vida a partir das orientações e conselhos que certas
crenças trazem consigo.
Sempre tentei compatibilizar uma
perspectiva politizada com uma perspectiva libertária. E mesmo hoje prefiro o
dogma libertário do que qualquer outro, mas existem domínios inteiros de
crenças perante os quais não pretendo suspender o juízo. Quais as linhas de
fronteira? Bem, em primeiro lugar penso na nossa responsabilidade neste mundo. Em
sua dimensão social e humana.
Imagino que quem lê estas minhas
digressões deve ter uma impressão de grande confusão, mas eu não me abalo tanto, porque
é apenas meu primeiro ano só dando aulas desde que me formei há 20 anos atrás. Então fico dispondo de mais tempo para ir corrigindo crenças e revendo conceitos com mais frequência do que antes. E
vejo isso sem maiores problemas, porque tenho falado de coisas com muita sinceridade
e sobre isso ser misturado com outras coisas ou assuntos de ordem imediata, de
política, pedagogia, ou local ou de experiências e vivencias pessoais, também não
vejo problema algum.
Repito que penso muito neste tema
do aprisionamento mental e também acadêmico. E
penso também que a vida real é muito melhor. Mas mesmo nela penso que
corremos todos o risco de sermos capturados, encarcerados e engaiolados como
exemplares excêntricos de uma sociedade que tem muita diferença ainda para
aceitar a diferença. A tendência social a julgar pela força do habito, a tendência
das pessoas de seguir um instinto de manada e fazer vala comum de qualidades ou
de situações é muito espantosa. E o jogo do espírito de vira-latas, a falta de um
sentido de precisão e prioridades também me causa ainda espanto. E isso no domínio
político é as vezes arrasador. E eu fico olhando para os aprisionamentos ads
pessoas e suas adesões e reproduções de opiniões e discursos como se estivessem
em um super senso de certezas.
Nós que de certa forma lutamos
muito por liberdade assistimos a captura e o seqüestro das liberdades todos os dias por violências,
grosserias e certas formas de discurso de dominação cujos escravos reproduzem
julgando estar seguindo o melhor, ou o bem ou o justo.
Platão tinha absoluta razão sobre
várias cosias e eu não acreditava nisto até este ano. Eu era um aristotélico
empedernido – e mesmo a pouco tempo num exame de teste somei 93% Aristóteles
nesta minha cabecinha e forma de pensar. Mas Platão tinha razão também que o sentido
desta lição não é dado por escrito, que nada tem tanto poder de libertação
quanto a palavra oral, o diálogo e o debate olho no olho. Assim, tenho escrito tudo
isto e muito mais pesando muito em quando será o diálogo redentor ou libertador,
pois um discurso libertador é muito inferior a experiência objetiva de falar
com o outro e de dizer lhe o que se pensa sobre isto e sobre aquilo.
O velho tinha razão. Aquele
desgraçado e azarado, vejam-se suas dolorosas e tristes tentativas políticas em
Siracusa, é mais sábio que o jovem dos tratados. E a diferença é estrondosa
mesmo. E é a diferença gigantesca entre arquitetura e engenharia. E assim, eu aqui
estou de joelhos para as sutilezas de Platão, mesmo compreendendo os tratados e
a estrutura organizada e sistêmica de Aristóteles que tanto agrada a todos. Olhando
Platão porque tem algo sim que ele diz, sem dizer, e que vale muito mais e faz
muito mais sentido mesmo em metáforas, analogias e no seu uso de outras escadas
para chegar no seu sentido.
E assim, para valer isso aqui e
fechar este texto. O ouro continua nos gregos. E desta forma entendo Hölderlin,
Nietzsche e Heidegger em sua forma muito especial e poderosa de relação com
eles, com a tradição deles. Do que Platão talvez seja mesmo ainda a jóia mais
brilhante.
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