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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

GÊNIOS, AMOR E QUESTÕES DE PROFESSOR

Não há nada neste mundo mais belo e maravilhoso do que ver, observar ou descobrir repentinamente o gênio de alguém em plena ação. Descobrir um traço surpreendente de inteligência e poder observar seus primeiros movimentos é uma bela descoberta e motivação. Mas é importante que o educador não se sinta ameaçado pelo aluno que possui isto. Não se sinta afrontado e que não procure de forma alguma provar que sabe mais ou que é melhor que ele. Você vai aprender algo sobre o ser humano e sobre você  mesmo com cada gênio que for capaz de descobrir entre seus alunos e alunas. E vais compreender que não faz a menor diferença se o menino ou menina sabe isso ou aquilo, mais isso ou menos aquilo. O que faz um gênio não é a quantidade de informação, mas a forma como ele lida com ela. E é um aspecto e momento apaixonante da educação este, quando a gente se dá conta disto. Recomendo a todos que gostam desta profissão observarem mais isto.

Isto acontece em estado bruto às vezes e eu creio que uma parte gratificante, mas muito relevante e importante do meu trabalho como professor é me aperfeiçoar em perceber isto em seus inícios, em seus primeiros momentos. E existem alguns alunos e alunas que fazem a gente aprender mais sobre isto.

Em princípio tenho observado que os gênios se escondem. Poucos jovens daqueles que possuem esta qualidade intelectual que é assombrosa quando vista mais de perto se exibem ou fazem demonstrações disto. A maioria deles tem pouquíssima vaidade e adquiriu uma espécie de senso de proteção do seu gênio que os mantém  meio encolhidos em suas conchas até que um professor faça-os saírem ao sol

É preciso que um professor ou professora faça um ambiente confortável, de confiança, para que estes meninos ou meninas sintam-se confortáveis e à vontade para daí então que alguns deles dêem frutos às suas diferentes formas de talentos e insights. Nem sempre estes talentos aparecem ou se apresentam em uma perfeição ou acabamento pleno. Para percebê-los a gente precisa considerar mais a forma do que o conteúdo do que é apresentado e na forma vemos sempre ou um excesso de simplicidade notável ou um arranjo não trivial de determinado assunto. Mas isto não é tão perceptível assim, porque você precisa manter no seu espírito certa capacidade de surpreender-se para que, só então, ver os frutos de um gênio na sua precocidade. Tenho notado que os gênios fazem com freqüência combinações não triviais, ou combinações e associações cujo raciocínio linear não faz.

Muitos gostam de elogiar os gênios depois que todo mundo já viu sua obra enquanto uma obra de arte. Eu não, gosto mesmo é de ver os gênios em seus primeiros momentos. Alguns deles nos aparecem prontos – estes são os mais raros – e são aqueles que mais obtém nossa atenção, pois parecem brilhar o tempo todo. A maior parte dos gênios, porém, que conheci, brilham em coisas mínimas, brilham aos poucos, comedidamente. E muitos brilham aparentemente envergonhados com seu brilho, como que culpados de serem diferentes dos demais naquelas coisas com as quase se ocupam. E muitos deles são destruídos pelo caminho, muitos não são sequer compreendidos, reconhecidos e aceitos. Nós estamos habituados a olhar para os gênios, mas não imaginamos quantos foram aniquilados no caminho. Nó só vemos aqueles que sobreviveram ou que de alguma forma impuserem sua vontade contra o seu mundo.  

Não tanto a obra final, mas o fazer, a elaboração e todo o processo de constituição de alguma coisa a partir da força de um espírito e da beleza de uma alma. Uso estas palavras pensando sim em Imortalidade e Amor. Imortalidade no sentido de algo que permanece e Amor no sentido de um máximo afeto. Donde o espírito que busca a imortalidade o faz sempre pelas suas obras e pelo modo como faz sua obra. Já a alma procura através de seus afetos deixar um presente para quem ama.

As pessoas gostam de elogiar as mentes, porque só observam os efeitos mecânicos e práticos das mentes. E então tudo parece perfeito, fisicamente perfeito, concretamente perfeito. Mas não é isso que eu fico observando e me admirando.

É um péssimo hábito – na minha opinião um hábito espiritualmente preguiçosos e leniente - este de julgar a inteligência exclusivamente pelos seus efeitos práticos, pois vejo todo valor de uma inteligência não no que é feito mas no sentido do que é feito, naquilo que vem antes, aquilo que corre durante e a finalidade e precisão do que é feito.  Olho para aquilo que é nitidamente o principal e que nem sempre é revelado no que é feito ao olho adestradamente funcional e utilitário destes homens práticos.

O amor é uma das melhores formas de fazer uma bela homenagem à sabedoria mais pura, e a sabedoria é em si mesma uma das formas supremas de amor. Quando se ama alguém pela sabedoria que ela possui ou que ela almeja, se ama também por busca de conhecimento e disposição em reconhecer a sabedoria no outro. Eu - sempre digo isto para os meus alunos e alunas - amo a matemática, pois vejo nela uma das formas mais belas de sabedoria. Entendo perfeitamente a paixão de muitos filósofos pela matemática e me sinto um deles, apesar de não ser nem me considerar um matemático, muito menos um filósofo da matemática.

Na Regina – na minha esposa - eu tenho alguém que me traz isso e que me dá isso. Acompanho algumas aulas particulares da Regina como ouvinte e fico muito feliz em ver nela plenamente a expressão desta bela forma de sabedoria que é a matemática como o Russell diz “semelhante em sua pureza à música e à pintura e que é sublimemente pura”.


Eu não consigo compreender algo assim sem me admirar e sem amar. E, assim, eu amo a matemática e amo a professora de matemática, porque traz consigo esta sabedoria e me dá ela todo os dias.   

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