Não há nada neste mundo mais belo
e maravilhoso do que ver, observar ou descobrir repentinamente o gênio de
alguém em plena ação. Descobrir um traço surpreendente de inteligência e poder
observar seus primeiros movimentos é uma bela descoberta e motivação. Mas é
importante que o educador não se sinta ameaçado pelo aluno que possui isto. Não
se sinta afrontado e que não procure de forma alguma provar que sabe mais ou
que é melhor que ele. Você vai aprender algo sobre o ser humano e sobre você mesmo com cada gênio que for capaz de descobrir
entre seus alunos e alunas. E vais compreender que não faz a menor diferença se
o menino ou menina sabe isso ou aquilo, mais isso ou menos aquilo. O que faz um
gênio não é a quantidade de informação, mas a forma como ele lida com ela. E é
um aspecto e momento apaixonante da educação este, quando a gente se dá conta
disto. Recomendo a todos que gostam desta profissão observarem mais isto.
Isto acontece em estado bruto às
vezes e eu creio que uma parte gratificante, mas muito relevante e importante
do meu trabalho como professor é me aperfeiçoar em perceber isto em seus
inícios, em seus primeiros momentos. E existem alguns alunos e alunas que fazem
a gente aprender mais sobre isto.
Em princípio tenho observado que
os gênios se escondem. Poucos jovens daqueles que possuem esta qualidade
intelectual que é assombrosa quando vista mais de perto se exibem ou fazem
demonstrações disto. A maioria deles tem pouquíssima vaidade e adquiriu uma espécie
de senso de proteção do seu gênio que os mantém meio encolhidos em suas conchas até que um
professor faça-os saírem ao sol
É preciso que um professor ou
professora faça um ambiente confortável, de confiança, para que estes meninos
ou meninas sintam-se confortáveis e à vontade para daí então que alguns deles dêem
frutos às suas diferentes formas de talentos e insights. Nem sempre estes
talentos aparecem ou se apresentam em uma perfeição ou acabamento pleno. Para
percebê-los a gente precisa considerar mais a forma do que o conteúdo do que é
apresentado e na forma vemos sempre ou um excesso de simplicidade notável ou um
arranjo não trivial de determinado assunto. Mas isto não é tão perceptível
assim, porque você precisa manter no seu espírito certa capacidade de
surpreender-se para que, só então, ver os frutos de um gênio na sua
precocidade. Tenho notado que os gênios fazem com freqüência combinações não
triviais, ou combinações e associações cujo raciocínio linear não faz.
Muitos gostam de elogiar os
gênios depois que todo mundo já viu sua obra enquanto uma obra de arte. Eu não,
gosto mesmo é de ver os gênios em seus primeiros momentos. Alguns deles nos
aparecem prontos – estes são os mais raros – e são aqueles que mais obtém nossa
atenção, pois parecem brilhar o tempo todo. A maior parte dos gênios, porém,
que conheci, brilham em coisas mínimas, brilham aos poucos, comedidamente. E
muitos brilham aparentemente envergonhados com seu brilho, como que culpados de
serem diferentes dos demais naquelas coisas com as quase se ocupam. E muitos
deles são destruídos pelo caminho, muitos não são sequer compreendidos,
reconhecidos e aceitos. Nós estamos habituados a olhar para os gênios, mas não
imaginamos quantos foram aniquilados no caminho. Nó só vemos aqueles que
sobreviveram ou que de alguma forma impuserem sua vontade contra o seu
mundo.
Não tanto a obra final, mas o
fazer, a elaboração e todo o processo de constituição de alguma coisa a partir
da força de um espírito e da beleza de uma alma. Uso estas palavras pensando
sim em Imortalidade e Amor. Imortalidade no sentido de algo que permanece e
Amor no sentido de um máximo afeto. Donde o espírito que busca a imortalidade o
faz sempre pelas suas obras e pelo modo como faz sua obra. Já a alma procura
através de seus afetos deixar um presente para quem ama.
As pessoas gostam de elogiar as
mentes, porque só observam os efeitos mecânicos e práticos das mentes. E então
tudo parece perfeito, fisicamente perfeito, concretamente perfeito. Mas não é
isso que eu fico observando e me admirando.
É um péssimo hábito – na minha
opinião um hábito espiritualmente preguiçosos e leniente - este de julgar a
inteligência exclusivamente pelos seus efeitos práticos, pois vejo todo valor
de uma inteligência não no que é feito mas no sentido do que é feito, naquilo
que vem antes, aquilo que corre durante e a finalidade e precisão do que é
feito. Olho para aquilo que é
nitidamente o principal e que nem sempre é revelado no que é feito ao olho
adestradamente funcional e utilitário destes homens práticos.
O amor é uma das melhores formas
de fazer uma bela homenagem à sabedoria mais pura, e a sabedoria é em si mesma
uma das formas supremas de amor. Quando se ama alguém pela sabedoria que ela
possui ou que ela almeja, se ama também por busca de conhecimento e disposição
em reconhecer a sabedoria no outro. Eu - sempre digo isto para os meus alunos e
alunas - amo a matemática, pois vejo nela uma das formas mais belas de
sabedoria. Entendo perfeitamente a paixão de muitos filósofos pela matemática e
me sinto um deles, apesar de não ser nem me considerar um matemático, muito
menos um filósofo da matemática.
Na Regina – na minha esposa - eu
tenho alguém que me traz isso e que me dá isso. Acompanho algumas aulas particulares
da Regina como ouvinte e fico muito feliz em ver nela plenamente a expressão
desta bela forma de sabedoria que é a matemática como o Russell diz “semelhante
em sua pureza à música e à pintura e que é sublimemente pura”.
Eu não consigo compreender algo
assim sem me admirar e sem amar. E, assim, eu amo a matemática e amo a
professora de matemática, porque traz consigo esta sabedoria e me dá ela todo
os dias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário