Agradeço ao Jairo Adriano de Mello que com suas
provocações, opiniões e ideias foi o SPARRING mais uma vez sobre a educação
aqui no meu mural...
Quando postei ontem meu texto
sobre o meu orgulho de ser professor e minha esperança numa mudança de
qualidade na educação, o que eu acabo designando em outros textos já por um MOMENTO
DE TRANSIÇÃO NA EDUCAÇÃO ( ou seja, NEM CAOS, NEM CRISE), um amigo meu resolveu me contestar usando um
ou dois exemplos ruins do que anda acontecendo com a educação. Eu resolvi
argumentar contra a opinião dele baseada em exemplos ruins listando uma série
de coisas que considero argumentos e razões como as que seguem. E também
resolvi dar umas bangornadas na concepção que ele esposa sem muita reflexão de
fundo, em minha opinião, e faz isto baseado em suas observações e exemplos. Tomei
aqui partes do texto do diálogo e debate nosso e resolvi transformar em um
texto. Aliás é a segunda vez que faço isso com ele o que só indica a
importância que dou para nossos debates e polêmicas.
Veja-se que trato aqui de
opiniões – tanto na minha posição quanto na dele, ainda que diga que a minha
opinião é forjada por certos argumentos e razões e a dele por observações – o
que significa que elas não tem possibilidade ou a certeza de um conhecimento
comprovadamente fatual. Elas se baseiam em observações pessoais, com uma
diferença de perspectiva entre o professor que eu sou e ele que é o advogado
bem observador, opinativo, polêmico, crítico e curioso. Devo reconhecer,
portanto, desde já que é possível que eu esteja enganado e que de fato a
educação brasileira está virando um caos, está em plena crise e decadente e que
não há possibilidade de reversão deste quadro como afirmam outros observadores,
como interpretam os especialistas baseados em dispositivos de avaliação e
índices que não desconheço. Mas também penso que estes índices que ao meu ver
não mensuram a mudanças que tenho observado, são insuficientes párea uma
análise e para um desenho do desafio. As mudanças que eu vejo da minha
perspectiva se apresentam em um momento de transição a partir da universalidade
do acesso de uma conjuntura de evasão forçada pelo viés econômico da nossa
sociedade – alto emprego e altas taxas de ocupação – e sob o impacto intenso ao
meu ver das novas tecnologias (que mudam mesmo a vida e o pensamento das
pessoas), somando-se a isso uma indefinição sobre os rumos de uma educação cuja
universalidade é aquela que tem ainda as dificuldades e desafios do mundo
inteiro numa definição de qualidade e função social da escola.
Sobre os exemplos eu diria isto
que você pode colecionar comigo muitos exemplos ruins e outros podem colecionar
os bons. Mas eu noto uma certa diferença entre estas coleções. Os exemplos
ruins são os mesmos de 50 anos atrás, mas os bons são muito diferentes. O fato
é que eu faço coleção positiva e tenho percepção disto porque trabalho com
educação e vejo muito mais do que os exemplos ruins. Vejo os exemplos ruins,
enfrento e encaro estes problemas de aprendizagem, déficits de aprendizagem
dentro da escola. Eu vejo estas personagens que você pode selecionar para um
filme sobre a tragédia na educação brasileira na escola. Mas não vejo só elas e
nem vejo elas como definitivas. Até por conhecer elas vejo superações também.
Mas existem outras personagens também. E a vida deles todos é bem dinâmica. Faz
um bom tempo que por conta de adotar atividades e certas disposições de apoio aos
jovens estudantes que eu me compadeço de muito sofrimento cotidiano na escola
sobre eles, mas que também vejo que os mesmos, tem e precisam criar outras
perspectivas e acabam, por isso, tendo outros desenlaces com nosso apoio. Já vi
aluno problema evoluindo muito dentro e fora da escola, na vida, e já vi aluno
ótimo e bom definhando no mundo. Não concordo com leituras estanques. Nem com
avaliações definitivas e fechadas. Mas vejo, assim, a outra ponta deste
processo também e talvez por uma necessidade de me manter alerta, afim e disposto
tenho priorizado a leitura e a observação dos exemplos bons. Aos meus olhos o
que pode parecer pouco para você, é grandioso para mim porque se apresenta
dentro de um cenário cotidiano. Posso me perguntar, apesar disto, será que é
porque vejo mais ou é porque procuro ver? Discuti isto na outra parte do ano sobre
a qualidade da formação universitária tão criticada e eu lembro sempre neste
debate que você e outros podem ficar olhando somente para o que quer ver.
Tenho muitos exemplos de
energúmenos de diversos tempos e diplomados. Mas não creio que isto é coisa que
deva ser atribuída exclusivamente às instituições. E conheço muitos gênios
reprovados, incompreendidos, não assimilados e que não se adaptaram às formas
dos sistemas de avaliação e às nobres expectativas dos demais sobre seus papéis
neste mundo. Quando a gente começa a educar tendo consciência das diferenças
entre as pessoas, dos tempos próprios de cada um, das habilidades de cada um e
a pensar numa perspectiva inclusiva a gente aprende a sair do modelo de
uniformidade educacional tão admirado e normalizado. Estes jovens atuais são
muito diferentes e temos que cuidar para conhecer eles bem melhor antes de
julgá-los ou decretar a sua falência cognitiva ou de aprendizagem. Aliás, estas
são justamente duas coisas completamente irracionais tentar julgar eles a
partir do nosso quadro cognitivo não ajuda e decretar alguma forma de falência,
derrota ou fracasso também não ajuda. É bo ir mais devagar com o andor ai.
Mas um gênio pode não saber pegar
o ônibus também. E pode não saber fazer operações que você julga essenciais e,
no entanto, vai lá e faz aquilo que você é incapaz de fazer. Assim, como um excelente
profissional liberal pode não saber ter uma visão lateral, pode viver
obnubilado ou bitolado pela sua perspectiva e seu cenário funcional ou
operacional. E ele, também, como todos nós sabemos, pode sequer olhar para a
usa própria vida com rigor e clareza precisando de um analista que o
faça..calminha ai com o andor porque as pessoas precisam ser compreendidas e
não espezinhadas..não importando muito se eles te lêem ou não.
O repetido e persistente gosto
pela polêmica, neste tipo de debate, me parece muito arriscado e beirando ao
sofista por sinal. Porque basear-se nos exemplos ruins é julgar a qualidade de
uma empresa no setor de descarte, ou pelo índice de recall que ela produz. A educação não pode
ser medida assim, na minha visão. Até porque neste mundo produtivo não há
descarte, pode haver desistência, abandono do processo, evasão, erro nos juízos,
avaliações incorretas e fracasso, mas a vida continua igual lá no mundo. E Tudo
segue porque as pessoas se adaptam a estas contingências algumas são bem
resilientes e superam qualquer erro ou equívoco no sistema. Assim, para não
reproduzir isto creio que é importante que se seja bem mais compreensivo neste
tema. No meu caso pergunto se tens argumentos em relação ao que descrevi?
Assim, pergunto de outra forma defendes
a Crise ou o Caos na educação? Com este argumento de um exemplo ou mais? Não
cério que seja possível fazer isto. Não creio que vamos avaliar a qualidade da
educação pelos tamanho do queixume ou da incompreensão das pessoas, mesmo
daquelas que fazem parte do processo.
Acho que o exemplo é ruim, também
porque eu conheci os filhinhos que concluíam o ensino médio de elite e que até
hoje não sabem escrever uma linha sequer. E isto com mais de 50 anos de
vantagem em relação aos teus exemplos ruins. A questão, então, não são os
piores exemplos, nem os bons. Eu vejo outras coisas e não vou ficar empanando a
minha realidade cotidiana por ignorância de um passado que foi muito pior que
este haja vista a exclusão geral das pessoas do acesso a educação neste passado
do qual alguns sentem saudade. Discuto aquilo que não é balizado pelo que você
talvez tivesse que fazer uma arguição melhor sobre o que você e outros
consideram os "níveis médios de conhecimento". Penso que este
discurso é muito retórico, porque eu vejo os mesmos que pedem mais preparação
dos profissionais fazendo esforços para contratar pessoas não qualificadas para
baixarem seus custos de folha. E isso é uma bela reprodução de certo discurso
ideológico que vagueia promovendo manada.
A pior parte disto é que
precisamos transformar esta realidade, não somente descrevê-la e que hoje temos
mais ferramentas para isto ainda que alguns se recusem em usá-las. Vim hoje
comentando com minha esposa que é professora e com minha sogra que foi
alfabetizadora um dia – cujos filhos todos tem curso superior e os netos estão
no mesmo caminho - que temos que acabar com o ensino noturno e criar condições
para o ensino integral até o terceiro ano do médio e quiçá promover condições
para acabar com esta terrível educação em jornada de 16 horas
(ônibus-trabalho-almoço-ônibus-universidade-ônibus-Casa) que muitos jovens
universitários tem enfrentado e que foi parar com razão nas ruas em junho.
Que tal pensarmos nisto amigo? -
isso não é não saber ler o ônibus, é hoje estar esgotado com a jornada semanal.
Como é que você aprende algo assim?
Eu não devo e não posso avaliar
os advogados a partir de minhas diversas experiências empíricas e práticas. Se
bem que não posso reclamar disso. Tenho mais depoimentos ruins do que
experiências ruins e tenho muitos amigos neste ofício. Quando avalias a
educação parece julgar isto possível. Mas você sabe como eu que este modelo de
raciocínio não é correto, nem justo, não dá para medir a qualidade pelo default.
Ainda que você precise levantar uma estatística disto, ela precisa ser feita
dentro de um quadro de tempo, com registros iniciais e finais e com todos os
ajustamentos necessários para viabilizar uma interpretação deste processo. No
nosso caso você deverá incluir novas variáveis na avaliação. E são variáveis
decisivas nos últimos 30, 20, 10 anos da educação brasileira.
Há uma dissonância cognitiva ai
amigo quando a gente lê a educação de forma jornalística ou opiniática. Não
gosto, para dar um exemplo bem ilustrativo, de ser expressionista ou
impressionista com a verdade, ou seja, não podemos avaliar a educação por
nossas próprias impressões, nem pro nossa força de expressão. Estou
argumentando aqui, portanto, não contra você, mas contra este método corrente e
pouco correto de julgar as coisas que não observa certos detalhes e nem o
quadro geral. O mesmo jornal que cita exemplos positivos na educação no dia do
professor passa o ano todo dando notícias ruins e só as ruins. Não dá para
julgar as coisas ao bel prazer e como lhe convém para vender jornais ou agradar
o senso comum.
Vejo os problemas da educação há
muito tempo, mas vejo mais soluções hoje, bem mais e coisas bem melhores no
caminho hoje do que há 30, 20 ou 10 anos atrás.
Agradeço tua consideração e tuas
ótimas provocações....
E peço escusas por toda esta
minha retórica....
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