“Medida por medida” no hemisfério
sul também não rola. Mas rola uma outra coisa meio que parecida com a que
rolava na Inglaterra elizabetana de Shakespeare. Aquela coisinha fofa de
unidade imperial de medida que era baseada, toda ela, nas medidas dos corpos dos
reis. Assim, medida por medida, dá no mesmo.
Porque aqui – e um pouco mais ao sul ainda – todas
as medidas são extremas. E a justificativa para isto parece ser um regime
diferente de pesos, padrões e uma certa tabela numérica muito própria que torna certas coisas incomparável e incomensuráveis. Nossas balanças, nossas réguas, metros, pesos e medidas são
todos diferentes entre nós mesmos e do resto do país e do universo. Nossas medidas aqui também tem
contra-medidas e é freqüente – se você ainda não prestou atenção, te sugiro que preste, porque
num sabe o que está perdendo – que as coisas recebam outros nomes também. Por
exemplo, já ouvi a expressão um dedo de prosa várias vezes, sem muita
cerimônia, ser antecedida de uma longa conferência e de um longo e prazeroso
diálogo. Diria-te que é uma arte dos mais velhos e de alguns sábios locais
prometer pouco e dar muito e também de alguns sabidinhos prometer muito e dar
pouco em troca. Mas
isso tudo depende é claro da perspectiva que se usa. Sub specie aternitatis,
tudo é relativo a certa perspectiva divina e nem tudo mede exatamente aquilo
que nós imaginamos sub specie humanitatis.
Mas aqui no sul existe algo como um efeito de distorção, um efeito de desmedidas, semelhante a hübris grega, que torna tudo mais complicado entre nós, mas que é aplicado a todas as medidas possíveis. A gente percebe uma forte perturbação das medidas em que tudo que é pouco é mais e tudo que é mais é menos e a gente fica assim, como um libriano desolado curvado à desmedida e ao desequilíbrio nos pratos de nossas relações. Assim, tal efeito DISTORTION, nos abala, nos desaba e altera até nosso peso físico e de consciência moral e espiritual. E parece mesmo até que é só isso que faz a nossa imaginação mudar de registro da noite para o dia e passar a tentar medir melhor em certo desespero nossas palavras, gestos e ações.
Mas aqui no sul existe algo como um efeito de distorção, um efeito de desmedidas, semelhante a hübris grega, que torna tudo mais complicado entre nós, mas que é aplicado a todas as medidas possíveis. A gente percebe uma forte perturbação das medidas em que tudo que é pouco é mais e tudo que é mais é menos e a gente fica assim, como um libriano desolado curvado à desmedida e ao desequilíbrio nos pratos de nossas relações. Assim, tal efeito DISTORTION, nos abala, nos desaba e altera até nosso peso físico e de consciência moral e espiritual. E parece mesmo até que é só isso que faz a nossa imaginação mudar de registro da noite para o dia e passar a tentar medir melhor em certo desespero nossas palavras, gestos e ações.
E é meio a uma constatação destas que por esta distorção que a gente
vê as pessoas delirando por aqui. Basta dar uma voltinha na cidades pequenas,
médias e grandes e vemos as pessoas medindo tudo de uma forma estranha e
pesando tudo com medidas estranhas. Eu me assusto muito com isso tudo, porque
nem a liberdade tem um preço exato e nem o amor tem uma medida exata e alguns
parecem medir com regra e peso cada coisa por ai, dai que você percebe que é no
hemisfério sul que o impulso agrimensor inventado pelos primeiros escribas e
matemáticos egípcios, se transfere para o homem comum também, mas com uma certa
distorção e erro de aplicação.
Deve ser recomendável também – ou
talvez só plausível – fazer uma comparação imprecisa com aqueles mesopotâmios
que gostavam de contar a história e situar as coisas fazendo referências aos
seus dois rios. Ou as coisas estavam para lá do Tigre ou as coisas estavam para
lá do Eufrates. De tal modo que se sabia que se estavam para o Tigre eram
grandes e se estavam para o Eufrates eram mais pequenas. E a média era o meso:
tudo aquilo que ficava entre os dois.
Eu tenderia a dizer sempre em
relação a todas as medidas, desmedidas, contra-medidas e estes difíceis
procedimentos de comparação: vai com calma. Faça uma coisa de cada vez. Porque a
gente tenta fazer uma coisa de cada vez orientado pela diferença de medidas
fundamentais adotadas por dois sábios escritores americanos que não eram Beats
mas andavam perto de Beats e que viveram de forma suficiente para considerá-los
sábios e não somente relâmpagos no céu das letras.
Bill Burroughs recomenda, em seu
clássico trilema ao nosso ver e pensar, uma tal medida prudencial, que se
resumia nas palavras dele a “uma droga de cada vez”. Agora se você já está mais
para Bukowski, então, a desmedida e a imprudência tomam conta de ti e vais te jogar de tal modo
que pode ser tudo ao mesmo tempo, agora. Esta é, em certa medida, apenas uma
forma suave de te precaver sobre um conjunto grandioso de riscos e aventuras a
que fica exposta, quando nisto incorre...então pelo sim e pelo a melhor medida
agora frente a estes dois trilemas é...pensar diferente e pensar bem
mais...antes de....
Também ousaria comparar as nossas
habituais e honrosas medidas às medidas francesas que serviram de paradigma e
modelo para a correção das coisas. O metro de Paris foi algo que resolver pelo
menos a questão da medida dos corpos humanos e que por fim, por força do êxito
acabou se generalizando em toda – ou quase toda a humanidade fazendo isso. Não temos muitas pistas
concretas, mas parece que já na época de sua criação alguns delírios foram
afastados removidos deste mundo ou...não sei bem.
Bem, mas voltando ao assunto
inicial se pode imaginar facilmente o que tem acontecido como conseqüência
destas medidas corretivas, pois eis que passamos a nos entender sobre o tamanho
dos corpos das pessoas, pessoinhas e pessoonas e também sobre as medidas das
coisas. Eu tive hoje mesmo uma intuição ou uma certa percepção ao parara ao
lado de uma pessoa que gosto por demais sobre as mazelas da tantativa de se
criar correspond~encia e entendimento entre pessoas diferentes, de tamanhos
diferentes e de muitos atributos cujas medidas são ou opostas, ou incomparáveis
ou muito distantes, e pensei numa medida, que por medida, faria justiça a todas
estas diferenças e equalizasse na nossa procura de entendimento e compreensão
aquilo que todos queremos sempre. Num dia como hoje você sai de casa para
trabalhar, passa num lugar cheio de pessoas e vê como as medidas são diferentes
e como pouco pode ser muito e como muito pode ser pouco mais uma vez. Você pode
procurar muitas coisas, muitas pessoas e muitas idéias e ao fazer isto, pode
descobrir mais uma vez outra vez que você deve ficar mais atento ainda para
entender o mundo em que vive, as diferenças de medidas, contramedidas e
desmedidas de norte a sul. Às vezes acontece comigo muito isso e, então, eu
simplesmente saio de onde estou para encontrar alguém que me explique tal dificuldade
melhor do que eu mesmo. Saio para encontrar alguém e encontro uma bela idéia
que não possuía. E saio vagando para procurar uma idéia de medida e encontro
algo que representa toda a medida que eu precisava.
Deve ser algo relativo a isso que
fazia Shakespeare pensar que “estava cansado de ver tanta e tão estranha sorte”
e a pensar que no fundo não sabia de nada. Porque sempre que procurava uma
solução que o tirasse de um buraco profundo de ignorância, desespero, dor e
sofrimento não sabia para onde levar este ser que o conhecimento encontrara.
Sua própria consciência o abalava ao olhar para si memso no espelho e ver
aquilo que ele um dia reconhecerá, ransformado em outra coisa e as medidas que
de cor ele contava,s erem agora, passados tanto tempo e dias,s erem de outro
modo e outro tamanho. Ele, como eu e você, era
alguém que achava que sabia de algo, mas que não sabia de tudo e isso
talvez explique porque ele tentou até o fim escrever e escrever e escrever,
procurando uma medida certa para medir a alma de cada um de seus personagens e
lhes dar o peso exato, como gratidão de sua vida, ao poder – neste vale de
lágrimas que é o mundo – ainda compreendê-los e sondá-los em sua imaginação.
Bem, ele devia estar muito satisfeito em alguns dias de sua vida e em certa
medida isso explica porque suas comédias tem a medida exata da alegria que
compensa a medida e o peso exato do sofrimento que ele postou em suas
tragédias. Talvez uma idéia clara de uma coisa e de uma pessoa seja nele a
medida exata do humor, do amor e da dor necessária nesta vida para continuarmos
andando sobre nossos pés e assim seguir em frente e, entender que, então, cada
um foi embora na sua hora devida...
Então, medida por medida, não há
melhor parâmetro para entendermos o que ele faz do que um bom sonho e uma boa emoção ao
amanhecer, ao despertar de uma vida que por força de sua inteligência e muita
diligência, aproveita o dia e ao chegar
da noite está pronta para um entardecer do dia que aqui no sul é mais tarde no
verão, como está provado agora, ou melhor pode acontecer ainda já na primavera
mesmo...
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