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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

MEDIDA POR MEDIDA NO HEMISFÉRIO SUL É DIFERENTE

“Medida por medida” no hemisfério sul também não rola. Mas rola uma outra coisa meio que parecida com a que rolava na Inglaterra elizabetana de Shakespeare. Aquela coisinha fofa de unidade imperial de medida que era baseada, toda ela, nas medidas dos corpos dos reis. Assim, medida por medida, dá no mesmo.

Porque aqui – e um pouco mais ao sul ainda – todas as medidas são extremas. E a justificativa para isto parece ser um regime diferente de pesos, padrões e uma certa tabela numérica muito própria que torna certas coisas incomparável e incomensuráveis. Nossas balanças, nossas réguas, metros, pesos e medidas são todos diferentes entre nós mesmos e do resto do país e do universo. Nossas medidas aqui também tem contra-medidas e é freqüente – se você ainda não prestou atenção, te sugiro que preste, porque num sabe o que está perdendo – que as coisas recebam outros nomes também. Por exemplo, já ouvi a expressão um dedo de prosa várias vezes, sem muita cerimônia, ser antecedida de uma longa conferência e de um longo e prazeroso diálogo. Diria-te que é uma arte dos mais velhos e de alguns sábios locais prometer pouco e dar muito e também de alguns sabidinhos prometer muito e dar pouco em troca. Mas isso tudo depende é claro da perspectiva que se usa. Sub specie aternitatis, tudo é relativo a certa perspectiva divina e nem tudo mede exatamente aquilo que nós imaginamos sub specie humanitatis

Mas aqui no sul existe algo como um efeito de distorção, um efeito de desmedidas, semelhante a hübris grega, que torna tudo mais complicado entre nós, mas que é aplicado a todas as medidas possíveis. A gente percebe uma forte perturbação das medidas em que tudo que é pouco é mais e tudo que é mais é menos e a gente fica assim, como um libriano desolado curvado à desmedida e ao desequilíbrio nos pratos de nossas relações. Assim, tal efeito DISTORTION, nos abala, nos desaba e altera até nosso peso físico e de consciência moral e espiritual. E parece mesmo até que é só isso que faz a nossa imaginação mudar de registro da noite para o dia e passar a tentar medir melhor em certo desespero nossas palavras, gestos e ações.

E é meio a uma constatação destas que por esta distorção que a gente vê as pessoas delirando por aqui. Basta dar uma voltinha na cidades pequenas, médias e grandes e vemos as pessoas medindo tudo de uma forma estranha e pesando tudo com medidas estranhas. Eu me assusto muito com isso tudo, porque nem a liberdade tem um preço exato e nem o amor tem uma medida exata e alguns parecem medir com regra e peso cada coisa por ai, dai que você percebe que é no hemisfério sul que o impulso agrimensor inventado pelos primeiros escribas e matemáticos egípcios, se transfere para o homem comum também, mas com uma certa distorção e erro de aplicação.

Deve ser recomendável também – ou talvez só plausível – fazer uma comparação imprecisa com aqueles mesopotâmios que gostavam de contar a história e situar as coisas fazendo referências aos seus dois rios. Ou as coisas estavam para lá do Tigre ou as coisas estavam para lá do Eufrates. De tal modo que se sabia que se estavam para o Tigre eram grandes e se estavam para o Eufrates eram mais pequenas. E a média era o meso: tudo aquilo que ficava entre os dois.

Eu tenderia a dizer sempre em relação a todas as medidas, desmedidas, contra-medidas e estes difíceis procedimentos de comparação: vai com calma. Faça uma coisa de cada vez. Porque a gente tenta fazer uma coisa de cada vez orientado pela diferença de medidas fundamentais adotadas por dois sábios escritores americanos que não eram Beats mas andavam perto de Beats e que viveram de forma suficiente para considerá-los sábios e não somente relâmpagos no céu das letras.

Bill Burroughs recomenda, em seu clássico trilema ao nosso ver e pensar, uma tal medida prudencial, que se resumia nas palavras dele a “uma droga de cada vez”. Agora se você já está mais para Bukowski, então, a desmedida e a imprudência  tomam conta de ti e vais te jogar de tal modo que pode ser tudo ao mesmo tempo, agora. Esta é, em certa medida, apenas uma forma suave de te precaver sobre um conjunto grandioso de riscos e aventuras a que fica exposta, quando nisto incorre...então pelo sim e pelo a melhor medida agora frente a estes dois trilemas é...pensar diferente e pensar bem mais...antes de.... 

Também ousaria comparar as nossas habituais e honrosas medidas às medidas francesas que serviram de paradigma e modelo para a correção das coisas. O metro de Paris foi algo que resolver pelo menos a questão da medida dos corpos humanos e que por fim, por força do êxito acabou se generalizando em toda – ou quase toda a humanidade  fazendo isso. Não temos muitas pistas concretas, mas parece que já na época de sua criação alguns delírios foram afastados removidos deste mundo ou...não sei bem.

Bem, mas voltando ao assunto inicial se pode imaginar facilmente o que tem acontecido como conseqüência destas medidas corretivas, pois eis que passamos a nos entender sobre o tamanho dos corpos das pessoas, pessoinhas e pessoonas e também sobre as medidas das coisas. Eu tive hoje mesmo uma intuição ou uma certa percepção ao parara ao lado de uma pessoa que gosto por demais sobre as mazelas da tantativa de se criar correspond~encia e entendimento entre pessoas diferentes, de tamanhos diferentes e de muitos atributos cujas medidas são ou opostas, ou incomparáveis ou muito distantes, e pensei numa medida, que por medida, faria justiça a todas estas diferenças e equalizasse na nossa procura de entendimento e compreensão aquilo que todos queremos sempre. Num dia como hoje você sai de casa para trabalhar, passa num lugar cheio de pessoas e vê como as medidas são diferentes e como pouco pode ser muito e como muito pode ser pouco mais uma vez. Você pode procurar muitas coisas, muitas pessoas e muitas idéias e ao fazer isto, pode descobrir mais uma vez outra vez que você deve ficar mais atento ainda para entender o mundo em que vive, as diferenças de medidas, contramedidas e desmedidas de norte a sul. Às vezes acontece comigo muito isso e, então, eu simplesmente saio de onde estou para encontrar alguém que me explique tal dificuldade melhor do que eu mesmo. Saio para encontrar alguém e encontro uma bela idéia que não possuía. E saio vagando para procurar uma idéia de medida e encontro algo que representa toda a medida que eu precisava.

Deve ser algo relativo a isso que fazia Shakespeare pensar que “estava cansado de ver tanta e tão estranha sorte” e a pensar que no fundo não sabia de nada. Porque sempre que procurava uma solução que o tirasse de um buraco profundo de ignorância, desespero, dor e sofrimento não sabia para onde levar este ser que o conhecimento encontrara. Sua própria consciência o abalava ao olhar para si memso no espelho e ver aquilo que ele um dia reconhecerá, ransformado em outra coisa e as medidas que de cor ele contava,s erem agora, passados tanto tempo e dias,s erem de outro modo e outro tamanho. Ele, como eu e você, era  alguém que achava que sabia de algo, mas que não sabia de tudo e isso talvez explique porque ele tentou até o fim escrever e escrever e escrever, procurando uma medida certa para medir a alma de cada um de seus personagens e lhes dar o peso exato, como gratidão de sua vida, ao poder – neste vale de lágrimas que é o mundo – ainda compreendê-los e sondá-los em sua imaginação. Bem, ele devia estar muito satisfeito em alguns dias de sua vida e em certa medida isso explica porque suas comédias tem a medida exata da alegria que compensa a medida e o peso exato do sofrimento que ele postou em suas tragédias. Talvez uma idéia clara de uma coisa e de uma pessoa seja nele a medida exata do humor, do amor e da dor necessária nesta vida para continuarmos andando sobre nossos pés e assim seguir em frente e, entender que, então, cada um  foi embora na sua hora devida...


Então, medida por medida, não há melhor parâmetro para entendermos o que ele faz  do que um bom sonho e uma boa emoção ao amanhecer, ao despertar de uma vida que por força de sua inteligência e muita diligência,  aproveita o dia e ao chegar da noite está pronta para um entardecer do dia que aqui no sul é mais tarde no verão, como está provado agora, ou melhor pode acontecer ainda já na primavera mesmo...   

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