Sou professor com muito orgulho
apesar dos percalços, dos cavacos do ofício, das intensas lutas, da incompreensão
de muitos que olham para nós com uma visão utilitária e muitas vezes tacanha. Uma
coisa que aprendi a perceber com discrição e sem me revoltar tanto pelo fato de
possuir algum conhecimento e domínio de certas técnicas e métodos é que os ignóbeis
ou expertos não possuem e que tentam usurpar, sem reconhecer ou retribuir para a
gente em diversas circunstâncias. Sou professor de filosofia com muito orgulho
também porque é matéria de natureza difícil ao ensino e também que sofre
preconceito e que é considerada pelos néscios somente como um lustre ou uma espécie
de luxo na galeria das disciplinas escolares.
Apesar, também, de todas as
dificuldades do começo da minha carreira, penso que elas valeram à pena e sou
muito feliz nesta escolha. Entre 1989-1993, não haviam muitos lugares para se
lecionar filosofia, e isso foi ser regulamentado apenas recentemente, mas eu
acreditei que haveriam.
Apesar de não receber um salário
à altura do estudo e da responsabilidade que sinto possuir, com outros
educadores e, também, do desaforo de ver outras profissões com menos formação e
que no serviço público – por estarem vinculadas a outros poderes e outros níveis
da União – que são privilegiadas e mais
valorizadas por seus lobbys e sua força corporativa - o que eu ainda espero vou
ver mudar e ajudar a mudar - eu me sinto muito bem.
Eu vejo, ao contrário de certos
colegas que respeito, mas frente os quais tenho entendimento diferente, que as
coisas vão em geral melhorando aos meus olhos a cada dia que passa. E vejo neste momento um momento de transição muito dilatado em que muitas mudanças vão ocorrendo e nos surpreendendo e de forma tão intensa e cotidiana que mal percebemos seus efeitos, causas e dispositivos.
Percebo nisto que ocorre hoje, não
o Caos, nem a Crise, mas uma profunda e decisiva mudança. Mudança esta trazida à
tona pelas novas tecnologias. Uma mudança que ainda nem é bem qualificada pelos
educadores, nem muito percebida porque ocorre todos os dias em nosso cotidiano.
Sim, as coisas estão mudando de uma forma tão impressionante que muitos
envolvidos em seu cotidiano não a percebem. Parece que não foram educados para
perceberem isto. Resumidamente com as novas tecnologias mudaram e estão mudando
todas as formas de comunicação, as formas de relacionamento, as formas de produção, de divulgação, mudou e
está mudando a forma de aprendizagem, de
ensino, de transmissão do conhecimento de discussão das opiniões, vai mudando –
mais lentamente do que gostaríamos – os procedimentos de tomada de decisão e
avaliação, os dispositivos democráticos e de consulta popular, pesquisas de
opinião e também as formas de levantar-se as reais necessidades das pessoas, e eu penso que se não é supor demais que me
parece que mudará também as formas de pensar. E não se trata aqui da lógica
pura não. Quando falo em mudança do pensamento, trata-se de incrementos em
diversas operações cognitivas e também de uma espécie de regulagem no
saturamento do excesso de informações o que percebo nos jovens de hoje. E devo
dizer que isto atinge também aqueles que não estão conectados ainda que de
forma indireta. Para além da técnica, eu creio num renascimento das
humanidades. Ainda que seja difícil perceber algo de qualitativo nisto. E
entendo que inclusive as questões de autoria sofrerão revisão e mais
qualificação. Mas isto não é instantâneo, é um processo.
Tenho muita esperança e sinto que
a educação brasileira está sofrendo uma grande revolução e transformação aparentemente
imperceptível para alguns. E em 10 anos, tudo será diferente e eu rezo para não
estar aposentado ou disfuncional e pode viver o que hoje parece somente um
sonho, uma fantasia, uma ilusão ou um delírio de filósofo.
Aposto em educação democrática,
aposto em educação inclusiva e emancipatória e percebo transformações necessárias em toda a
parte. E estas transformações se inciaram pela universalização do acesso e passam por mudanças nos métodos e meios de ensino e, ainda, por uma concepção nova do espaço escolar não mais como espaço exclusivo de transmissão de conteúdo, conhecimento ou de socialização de regras, mas também como um espaço de lazer, espaço lúdico e um espaço do cuidado e da saúde. E isto não depende tanto da opinião dos donos da escola, mas sim do uso que a comunidade através dos alunos vai dando para este espaço. E não vejo nisto uma deturpação da função escolar, vejo apenas uma transformação que também é decorrente de uma nova dinâmica social entre os jovens e mudanças na interação entre professores e alunos, e entre a escola e a comunidade. Mas note-se que esta mudança não é linear.
Para concluir, estive em Santa Catarina até
hoje à tarde e descobri que em 2015 o Diretores de escolas estaduais deixaram
de ser indicados pelo partido ou pelos partidos do governador do estado e dou
meus parabéns, mas ergo aqui meu orgulho de que no RS, tanto o CPERS quanto a
escola em que leciono hoje, Olindo Flores da Silva foram da vanguarda desta
luta lá em 1983-1984-1985...AVANTE EDUCADORES DE PÉ, UNIDOS PELA EDUCAÇÃO!
e quero agradecer a todos os meus
colegas, alunos e alunas, ex-alunas e ex-alunas, amigos e amigas que tem me
dado muitas alegrias e belas surpresas nesta caminhada....
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