“Quando o poder da síntese desaparece da vida dos homens e quando as antíteses perdem sua relação vital e seu poder de interação e conquistam a independência, e então que a filosofia se torna uma necessidade sentida.” G.W.F. Hegel
As vezes custa muito para os que eu tendo a chamar de cognitivistas e epistemólogos entenderem que o método revela mais o sujeito do que o objeto. Alguns prefeririam que o método revelasse apenas a situação do sujeito, mas eu penso que revela mais.
Quando falo de um custo aqui fico pensando mesmo no preço, no custo, no prejuízo e em alguma vantagem possível que eles tenham em se manter renitentes em suas leituras do mundo que resumem tudo a experiências de um simples sei ou num sei, penso ou num penso, provo ou não provo e assim sucessivamente. Não digo isto porque prefiro as incertezas ou a insegurança da ignorância, ou mesmo as vantagens da ignorância que envolvem não ter que pensar muito em coisas aborrecedoras, injustas, trágicas ou pesadas. Talvez isto lhes dê o conforto da assepsia perante uma política ou um mundo dividido exclusivamente num certo e errado em ilusões ou clarezas.
Entendo e chamo por cognitivistas e epistemólogos aqui aqueles que reduzem tudo a uma relação de conhecimento e que por força da neutralidade cognitiva se esquecem que há ai mesmo, nesta relação cognitiva, explicativa, expositiva e compreensiva, também uma relação de poder, de controle e de supremacia.
Quando falo de um custo aqui fico pensando mesmo no preço, no custo, no prejuízo e em alguma vantagem possível que eles tenham em se manter renitentes em suas leituras do mundo que resumem tudo a experiências de um simples sei ou num sei, penso ou num penso, provo ou não provo e assim sucessivamente. Não digo isto porque prefiro as incertezas ou a insegurança da ignorância, ou mesmo as vantagens da ignorância que envolvem não ter que pensar muito em coisas aborrecedoras, injustas, trágicas ou pesadas. Talvez isto lhes dê o conforto da assepsia perante uma política ou um mundo dividido exclusivamente num certo e errado em ilusões ou clarezas.
Entendo e chamo por cognitivistas e epistemólogos aqui aqueles que reduzem tudo a uma relação de conhecimento e que por força da neutralidade cognitiva se esquecem que há ai mesmo, nesta relação cognitiva, explicativa, expositiva e compreensiva, também uma relação de poder, de controle e de supremacia.
Na sua tentativa de completude o método diz muito também sobre você mesmo. O método expõe e mostra todas as tuas prioridades, exibe tua agenda e, também, para além da tua formação, a direção que pretendes tomar ao conhecer o objeto, ao ensaiar a crítica ao esboçar um discurso, ao proferir, avaliar, sopesar e também ponderar sobre algo. Aliás, uma das observações mais incríveis é a da transformação de outros métodos e outros sujeitos também em objetos, de tal modo que teu controle, tua agenda e tua vontade de poder se façam justificadas, racionalizadas e se realizem com menos conflito e atrito.
Revela também este método uma forma de auto-compreensão do sujeito, de suas escolhas teóricas e a natureza de sua empreitada. Quando penso nisso - e isso ocorre com muita frequência ultimamente - me dou conta que mesmo o discurso é um similar que exibe ou somente uma expressão secundária do método, ou seja, para analisar realmente uma contradição precisamos ir para além do objeto, pois o método de seu reconhecimento tem sua origem no sujeito.
Assim, tanto uma escolha lógica quanto uma escolha dialética expressa mais o sujeito e suas disposições que o próprio objeto de conhecimento. Nem eu entendo ainda muito bem isso, mas tendo a ficar cada vez mais desconfiado de mim mesmo quando penso nisto e, não creio mesmo, que seja eu o único a perceber isso.
Assim, tanto uma escolha lógica quanto uma escolha dialética expressa mais o sujeito e suas disposições que o próprio objeto de conhecimento. Nem eu entendo ainda muito bem isso, mas tendo a ficar cada vez mais desconfiado de mim mesmo quando penso nisto e, não creio mesmo, que seja eu o único a perceber isso.
A pessoa que mais me chamou
atenção para isto, para esta espécie de ignorância cognoscente e superciente – foi
um grande professor de história aposentado - afirmou em um debate mais ligado a
história cultural e ao horizonte cultural de uma cidade como a minha que se
tratava de uma situação pré-crítica. Pré-crítica para ele é a mesma cosia que
dizer pré-kantiana. Uma situação anterior ao esclarecimento e a emancipação do
homem de sua menoridade servil e tutelada por outras consciências. Uma situação
que ainda não compreendeu os limites da razão, nem a divisão entre estado e
igreja e muito menos os limites de todo o conhecimento possível.
Devemos observar ai um sujeito que assimila crenças de forma acrítica, aceita opiniões de forma acrítica e as reproduz com uma tranquilidade assustadora para mim. Em um outro contexto ela me dizia que nossa cidade tinha uma condição política e cultural pré-crítica e que isto se manifestava nas formas como as escolhas políticas eram construídas, se consolidavam e se faziam representar na Câmara de Vereadores e em vários outros espaços de poder, participação ou gestão. Ele me apontava com sua perspicácia para os métodos, objetivos, meios e valores que eram dominantes nestes processos. E também me dizia para prestar atenção nos discursos legitimadores que acompanhavam as decisões, as opções e as manifestações de prioridades.
Devemos observar ai um sujeito que assimila crenças de forma acrítica, aceita opiniões de forma acrítica e as reproduz com uma tranquilidade assustadora para mim. Em um outro contexto ela me dizia que nossa cidade tinha uma condição política e cultural pré-crítica e que isto se manifestava nas formas como as escolhas políticas eram construídas, se consolidavam e se faziam representar na Câmara de Vereadores e em vários outros espaços de poder, participação ou gestão. Ele me apontava com sua perspicácia para os métodos, objetivos, meios e valores que eram dominantes nestes processos. E também me dizia para prestar atenção nos discursos legitimadores que acompanhavam as decisões, as opções e as manifestações de prioridades.
E eu fiquei pensando muito nisto
por uns dois anos e me dei conta de uma grande contradição sistêmica muito
interessante, porque devemos chamar assim o fato de que toda a nossa cidade é
povoada por muitos cidadãos, professores, professoras, profissionais liberais e
que é uma cidade com uma grande e maravilhosa instituição universitária que
possui intelectuais de diversas graduações e qualificações e que, no entanto,
em volta do Castelo Medieval, as coisas se encontram assim, deste modo
pré-crítico e atrasado. Uma cidade com uma ampla estrutura educacional, uma
ampla tradição cultural e que ao mesmo tempo possui uma história econômica
também muito interessante e proeminente no cenário regional e estadual.
Lembrar aqui do Nome da Rosa e das dificuldades para compreender um tempo cheios de fantasmas e mistérios em que até a lógica deve lutar arduamente para sobreviver frente ao poder e ao preconceito, frente à dogmas e a disposições violentas, é um bom paralelo para mim agora. Ora, como poderia uma cidade destas, com esta tradição escolar de quase dois séculos, com esta forte e intensa atividade de produção, prestação de serviços e de desenvolvimento de novas tecnologias ser divisada e governada por uma perspectiva pré-crítica.
Lembrar aqui do Nome da Rosa e das dificuldades para compreender um tempo cheios de fantasmas e mistérios em que até a lógica deve lutar arduamente para sobreviver frente ao poder e ao preconceito, frente à dogmas e a disposições violentas, é um bom paralelo para mim agora. Ora, como poderia uma cidade destas, com esta tradição escolar de quase dois séculos, com esta forte e intensa atividade de produção, prestação de serviços e de desenvolvimento de novas tecnologias ser divisada e governada por uma perspectiva pré-crítica.
Pois, não é que ouvindo os
discursos mais correntes em vários temas e pautas atuais, me dou conta que esta
transição não se completou mesmo, nem entre nós os “racionalistas, críticos e
esclarecidos”. Vejo que houve mesmo um grande retrocesso na racionalidade de
1781 para cá. De tal modo que aquilo que chamamos de modernidade é somente o
retorno da supremacia de uma objetificação acrítica através de um método e de
uma linguagem encobridoras.
Continuo, apesar do que possa
parecer uma crítica a outros aqui, desconfiando muito de mim mesmo também e vou
perseverar na insatisfação perante o método e a linguagem...Desconfio sempre do
meu método e da minha abordagem e confesso que para escrever tenho que lidar
com certas insatisfações de estilo, de metro, de forma, de vocabulário que me
deixam tocado, mas mesmo assim publico, exponho o que penso e divulgo coisas
inacabadas, nem sempre bem pensadas e muitas vezes precipitadas até, por isto peço
escusas também pela linguagem truncada aqui para tratar disto e pela miscelânea
conceitual também....porque me tem sido bem difícil ser mais claro neste tema
ou em temas a ele relacionados...e me aborreço mais com isso do que você pode
imaginar...
Immanuel Kant e Karl Marx talvez
sejam os dois autores que mais peso tiveram em toda a minha iniciação
filosófica e formação e aos quais mais tempo dediquei e que de certa forma mais
presença possuem em todas as minhas vãs e débeis tentativas de pensamento
político, filosófico, ético e lógico...e, assim, também seriam como que meus
orientadores fundamentais em meu trabalho de educador. Kant desde a minah
leitura precoce do Que é esclarecimento? (Was is Aufklãrung?) até a graduaçao e
monografia em tema da Crítica da Razão Pura, assim pela abordagem crítica, pela
aversão à indiscernibilidade, pela tentativa corrente de emancipação do pensamento
e também pelo ideário iluminista dele que para mim faz sentido e esta em meu
horizonte de pensamento e ação. Marx
pelas primeiras leituras do Manifesto Comunista, o Capital e muitos
outros textos, que incluem também os diversos textos de juventude em especial
seus Manuscritos Filosóficos.
A questão do Enem 2012, aliás,
era bem fácil sobre a seguinte passagem do texto do que é o esclarecimento, tão
caro a mim quanto a Marx provavelmente:
Mas tudo começou com a questão de
Kant ou Marx na prova do ENEM da minha amiga e camarada Ediana – que cursa
história e precisa passar no Enem para encaminhar sua formação, com menos
sacrifícios e mais possibilidades a si e ao seu filho.
A citação dela de Marx na prova
do Enem 2013 foi a seguinte:
"Na produção social que os
homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e
independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio
definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade
dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade - fundamento real,
sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual
correspondem determinadas formas de consciência social." MARX, K. Prefácio
à Crítica da economia política. In: MARX, K.; ENGELS, F.
E daí ela argumentou ou apontou
que ficava feliz porque MAIS MARX & MENOS KANT, lhe facilitavam a prova. Na
postagem dela se seguiu comentários sobre um Kant isso e aquilo. Bem, pensei
com meus botões nananinanão. E então isso foi o que me levou a escrever sobre
isto neste domingo e a passar a minha pequena e doente manhã de segunda-feira
pensando nisto também.
Importante é que tanto Marx
quanto Kant são partes integrantes e dinâmicas daquilo que trabalho em aula com
meus alunos de filosofia e sociologia. E mesmo agora, ao afunilar o ano em
Platão e no tema geral de mudança social, suas bases são claramente, de um
lado, uma crítica e uma desconfiança profunda quanto ao tema da diferença entre
opinião e conhecimento e, ainda em Platão, uma relação disto com a sua
concepção e fundamentação do poder na República, em Kant poderíamos pensar
tranquilamente na relação entre Sujeito Transcendental e a práxis, bem como, em
Marx no desaparecimento deste sujeito justamente na alienação e na ausência de
autoconsciência deste sujeito inserido no processo produtivo.
A questão do ENEM que a Ediana
gostou é a seguinte: "Para o autor, a relação entre economia e política
estabelecida no SISTEMA CAPITALISTA faz com que..." E torço mesmo que ela
consiga ter ido bem a partir disto.
Há sim uma analogia e
possível...para mim a Crítica da Razão Pura é o modelo sim para um esboço de
uma Crítica Possível da Racionalidade Econômica e Política também...Zizek chamou
isso que chamo de impulso de completude - vim saber agora ao rever o estado da
arte - de visão em paralaxe o
deslocamento aparente do objeto quando se muda o ponto de observação...
Me surpreendi muito positivamente
com isto...não conhecia esta abordagem de Zizek e me surpreendi mais ainda com
o texto dele. Além disso, a referência que me levou ao texto de Kojin Kuratani. Transcritique:
on Kant and Marx. Cambridge: Massachusetts, 2003. E a breve leitura que fiz
dele hoje das passagens disponíveis na rede, me deixaram muito alegre com esta
descoberta propiciada por este debate sobre o Enem 2012 e 2013, que calhou de
me levar a uma velha intuição que por absurda a alguns avança na análise ao meu
ver.
Então fico nesta posição...
Até que as coisas melhorem...
Agradeço a Adorno na crítica ou
metacrítica do sujeito e objeto...
Mas também fico aqui...
Numa grande provocação e em umas poucas
pistas somente...
a melhor análise da função de uma
contradição na teoria crítica de Kant (as antinomias da razão) me basta para
apontar que a análise de Marx das contradições humanas (má-consciência e
alienação) necessárias para a satisfação do capital tem paralelo...
Sempre acabo pensando que a gente
precisa sempre é de mais filosofia e não de menos...e tanto Kant como Marx são
para mim sempre mais filosofia...
Quem diria que isso seja pensar
diferente, mas pensar de novo é sempre pensar diferente...
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