Proposições que descrevem estados
de coisas podem ser verdadeiras ou falsas. O fato da compreensão de uma
proposição ser anterior ao seu valor de verdade, permite que a compreendamos
perfeitamente, não somente as proposições verdadeiras, mas também o sentido das
proposições falsas e que, de certa forma, estas últimas, inclusive, se encaixem
em nossas formas de ver as coisas. E isso combina de um modo tão condizente com
nossas preferências, nossas perspectivas próprias que elas parecerão até verdadeiras
e bem judiciosas aos nossos olhos. E assim caminha a humanidade e nossos
sentimentos, expectativas, preferências, nosso background de informação e opiniões
biográficas, nos ajudam a adquirir certas crenças como verdadeiras, tomar verdades
como falsas e resistir bravamente a reconhecer que podemos estar enganados sobre
aquilo que julgamos com tanta força em nossas crenças sobre fatos. O problema da
verdade surge e se avoluma, então, quando às proposições que descrevem ou
versam sobre estados de coisas cuja complexidade, elementos e relações internas,
ganham uma dimensão que ultrapassa o alcance das nossas informações, dos nossos
conhecimentos, das nossas opiniões próprias e da nossa experiência pessoal. Todos
nós em algum momento de nossas vidas nos damos conta de como é difícil julgar,
explicar e compreender certas coisas, acontecimentos e circunstâncias. Assim,
quando se impõem juízos de valor cuja validade, legalidade ou qualidade
dependem não mais de elementos puramente descritivos, quantitativos ou minimais,
temos que desconfiar mais dos nossos julgamentos confortáveis, das nossas
saborosas convicções e daquelas crenças que nos habituamos a adotar como
verdadeiras, justificadas e corretas. Pretendo aqui mostrar que nem tudo é
exatamente como parece e que talvez seja desejável e razoável adotar certas
perspectivas intermediarias na interpretação de fatos e de acontecimentos cuja
dimensão explicativa foge com todos os seus elementos, relações e condições de
verdade do alcance habitual e cotidiano de nossa compreensão.
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