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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

PORQUE JOBS QUERIA FALAR COM SÓCRATES?

PORQUE STEVE JOBS QUERIA FALAR COM SÓCRATES?


“I would trade all of my technology for an afternoon with Socrates.”
Steve Jobs, CEO, Apple Computer Co. (Newsweek, Oct. 29, 2001)

Quando em 28 de outubro de 2001, foi publicada uma entrevista com Steve Jobs e outros especialistas sobre o uso das novas tecnologias na educação, provavelmente nós estávamos todos discutindo aqui no Brasil como aplicar as tecnologias da informação na produção, em governança e em sistemas de gestão e produção.

A internet existia praticamente para muito poucos. Banda larga estava longe de ser pensada em caráter público. E eu ainda me lembro de uma matéria maluca sobre pontos de conexões, ou nós digitais, no Fantástico nos idos dos 90. Eles tratavam – ora essa - de determinados locais que permitiam na cidade, a gente se conectar a uma grande e misteriosa rede de computadores.

A SALA DE AULA DO FUTURO

Numa entrevista de 2001, inserida em uma matéria especial da revista Newsweek, sobre a Sala de Aula do Futuro (The classroom of the future), com diversas opiniões sobre como seriam as salas de aula do futuro ele disse a frase que vamos usar aqui em nossa análise exploratória e inventiva.

"Trocaria, se pudesse, toda minha tecnologia por uma tarde com Sócrates."
Steve Jobs em entrevista à Newsweek (2001).

Esta expressão de Steve Jobs me fez gerar uma pergunta intrigante aos alunos e alunas e para mim mesmo. Logo após a greve, optamos por retomar as aulas fazendo uma certa problematização - ainda que introdutória e em esboço ainda - sobre a relação entre novas tecnologias e educação e, em especial, filosofia. Usamos como guia para esta reflexão a expressão de Steve Jobs em que ele afirma que “Daria toda a minha tecnologia em troca de passar uma tarde conversando com Sócrates.” Interrogamos o porque disto e aproveitamos esta deixa para valorizar e fazer pontes entre tecnologias e ciências humanas.

E esta foi, ao meu ver, a pergunta mais intrigante que eu apresentei neste ano aos meus alunos e que não foi provocada pela filosofia, nem por um filósofo, nem mesmo por uma investigação filosófica, mas sim por uma expressão de Steve Jobs que merece nossa reflexão e interrogação. Porque ele gostaria, afinal, de passar uma tarde com Sócrates? Ou porque ele gostaria de conversar com Sócrates? E porque daria toda a sua tecnologia em troca disto?

É um conjunto de perguntas que fazem frente a uma explicitação de Steve Jobs de porque ele dedicava parte do seu tempo a desenvolver tecnologias e porque ele acreditava - de uma forma bem otimista - que as novas tecnologias e equipamentos que ele estava desenvolvendo iriam revolucionar e transformar a educação.

Vejamos o texto integral da resposta otimista de Steve Jobs sobre o uso educativo das novas tecnologias à entrevistadora onde se insere no final este apelo à uma conversa com Sócrates:

"Um dos nossos problemas como sociedade daqui para frente é ensinar as crianças desta geração a se expressarem nas mídias atuais. Durante a maior parte do século passado, a mídia era a página impressa, seja um jornal ou um romance. Hoje as pessoas não podem somente consumir; elas podem ser autoras Quando as pessoas lêem romances, elas escrevem cartas. A principal mídia do nosso tempo é o vídeo e a fotografia, mas a maioria de nós ainda é de consumidores em vez de serem autores...”

“Nós estamos vendo as coisas mudarem. Estamos fazendo mais e mais coisas com filmes e DVDs. (…) Achamos que isto é um poder tremendo. Você deveria ver os filmes que as crianças e os professores estão fazendo agora. Eles fazem filmes para vender uma ideia e liderar um time. Eu posso mostrar a você um filme feito por uma professora de 6ª série e os seus alunos sobre como aprender os princípios da geometria de uma maneira que você nunca vai se esquecer. (…) Quando os próprios alunos estão criando, eles acabam aprendendo. E os professores serão o epicentro disto. Qualquer um que pensa diferente disto nunca teve um bom professor. Eu trocaria toda a minha tecnologia por uma tarde com Sócrates”.

Neste texto ele apresenta o seguinte problema: como educar os jovens para usar as novas mídias? E a resposta dele, apesar de oculta no texto, parece ser simples ai: usando as novas tecnologias sem medo. E diz que basta dar se aos alunos autonomia para que eles criem por si mesmos as coisas, porque assim, eles acabam aprendendo. E ele diz claramente, ao contrário do que circula como opinião sobre isto – de que os professores perdem seu papel com as novas tecnologias; para ele é o caso que eles serão “o epicentro disto”. E ele diz ao fim que, para pensar isto, “basta ter tido um bom professor”. E daí surge a chave da questão dele que é passar uma tarde com Sócrates, haja visto que, para ele, Sócrates representa o bom professor, que é capaz de ser e manter-se como epicentro mesmo que em uma circunstância como esta, em que se dá aos meninos e meninas, meios avançados para buscarem, por si mesmos o conhecimento. (Vou, sendo assim, me preparar para levar as pedradas agora).

Para constar e ir estendendo a prosa um pouco, vou citar aqui Marcelo Doro (UPF) que se dedicou também tentar responder esta questão de porque Jobs quer falar com Sócrates. Vejamos suas teses e anotações para começar aqui.

Por ELITISMO? Porque, na visão de Doro, ele se cercava de pessoas excepcionais e Sócrates é uma pessoa excepcional, logo..

Tendo a discordar disso, porque a atração por Sócrates se deve muito mais a capacidade interrogativa e investigativa dele do que propriamente a ele poder ser mais uma criatura excepcional no seu círculo de colaboradores. E também temos que levar em conta o valor de vivências  e experiências iluminadoras e místicas para Steve Jobs. E ele acreditava pelo visto na capacidade inovadora de Sócrates também.

Por causa da FINITUDE E MORTALIDADE?

“Nascemos, vivemos por um momento breve e morremos. Tem sido assim há muito tempo. A tecnologia não está mudando muito este cenário”, observou Jobs em fevereiro de 1996.

Esta seria uma boa razão, mas ela me parece mostrar mais o limite do valor das tecnologias e talvez um valor superior na sabedoria de Sócrates. O que para nós agora, mostra o valor do bom professor ou boa professora socrática frente a estas tecnologias limitadas perante as questões da vida.

Pelos FATOS DA VIDA?

O trecho do discurso que Jobs fez em 2005 aos formandos da Universidade de Stanford, sobre “não deixar o barulho das opiniões abafar a voz interior” é um equivalente à resposta de Sócrates de porque seguia seu Daimon. O que isso haveria de explicar aqui sobre o bom professor. Provavelmente porque para ele o bom professor deve estimular a confiança dos jovens alunos e alunas em suas capacidades. Este professor quer inspirar e ser inspirador dos seus alunos. Carmine Gallo comenta em uma entrevista sobre seu outro livro sobre Jobs, assim:

“Steve Jobs nos deu um dos discursos mais inspiradores na história contemporânea quando se dirigiu aos alunos da Universidade de Stanford em 2005. Ele disse: “Seu tempo é limitado. Portanto, não o desperdicem vivendo a vida de alguém. Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior. E o mais importante: tenha coragem de seguir seu coração e intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar.” Acho isso incrivelmente inspirador.”

Então estamos aqui agora na questão da liberdade de pensamento e a questão da nossa capacidade de pensarmos por nós mesmos parece ser a chave no núcleo da expressão de Jobs sob re Sócrates. Ora, é muito isso que Sócrates procurava desenvolver em seus alunos, ou seja, a capacidade de encontrarem em si mesmo as respostas. Para ele “uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida” também por conta disto. De que aquele que não reflete, vive a vida dos outros ou vive a vida a partir da cabeça dos outros.  

PENSE DIFERENTE

Steve Jobs fez também uma proeza no mundo dos negócios e das novas tecnologias ao voltar para a Apple. Boa parte do seu êxito se deve posterior em reerguer a empresa – além do esforço e do novo foco de desenvolvimento tecnológico que ele implementou e das novas alianças da empresa - se mostrou em algo aparentemente simples, uma solução de marketing. E ela foi resumida como um slogan de uma grande campanha que apresentado em um comercial da Apple em 1997: Think different - pensar diferente.

Este slogan foi concebido de tal modo a dar a Apple uma marca que a diferenciasse de todas as demais no mercado e conseguiu. E, ao mesmo, era um símbolo da ousadia da empresa e das pessoas no mundo moderno. E o texto publicitário CRAZY ONES, que cito a seguir é representativo deste desafio e de seu foco num caráter de autonomia também. 


The Crazy Ones

Original

“Isto é para os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os que são peças redondas nos buracos quadrados.

Os que vêem as coisas de forma diferente. Eles não gostam de regras. E eles não têm nenhum respeito pelo status quo. Você pode citá-los, discorda-los, glorificá-los ou difamá-los.

A única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas.
Eles inventam. Eles imaginam. Eles curam. Eles exploram. Eles criam. Eles inspiram.
Eles empurram a raça humana para frente.

Talvez eles tenham que ser loucos.

Como você pode olhar para uma tela em branco e ver uma obra de arte? Ou sentar em silêncio e ouvir uma música jamais composta? Ou olhar para um planeta vermelho e ver um laboratório sobre rodas?

Enquanto alguns os vêem como loucos, nós vemos gênios. Porque as pessoas que são loucos o suficiente para achar que podem mudar o mundo, são as que de fato, mudam.”
  
 
AS STEVENOTES E SÓCRATES

Mas podemos ver nas técnicas de suas apresentações, que Steve Jobs aplicava também um certo traço socrático ou assinatura socrática. Ao estabelecer a que as suas apresentações – também conhecidas como Stevenotes – tivessem que ser a construção e exibição de um mocinho que antagoniza com certo inimigo para resolver um problema nosso ele faz uso da dialética, e ao gerar questões que levam a platéia a chegar a uma síntese já planejada por ele, ele produz uma maiêutica. Então é pouco provável que ele não tenha se inspirado no método socrático bem apresentado por Platão em seus diálogos socráticos para estruturar suas apresentações. A melhor obra sobre isto é de Carmine Gallo, Faça como Steve Jobs e Realize apresentações incríveis em qualquer situação.

UM TRAÇO MARCANTE DE JOBS

Cito agora o obituário de Frederico Botrell (em Adeus Mrs. Jobs. Estado de Minas, 6/10/2011) “Com todas as revoluções tecnológicas causadas pelo hippie comedor de maçãs, e mesmo com a fama de mandão, perverso e intolerante, o desejo do papo com Sócrates revela o que é mais marcante na trajetória de Jobs. Outra frase famosa do genioso e genial executivo dá a pista: “Nascemos, vivemos por um momento breve e morremos. Tem sido assim há muito tempo. A tecnologia não está mudando muito este cenário”.

A saber, ele tinha plena consciência dos limites da tecnologia perante o mundo da vida e a nossa existência.   

Mas era um homem que dedicou sua vida a desenvolver e produzir um dos maiores avanços tecnológicos da história da humanidade, a saber, não somente criar tecnologias, não somente criar novos equipamentos, mas de certa forma, colocá-los nas mãos de pessoas comuns.

Um dos traços mais marcantes de Steve Jobs foi a sua lendária capacidade de apresentar idéias. Digo isto, porque os produtos que ele criou, lançou e promoveu são em sua base idéias, são conceitos e concepções realizadas e que ganharam realidade em parte por capacidade de desenvolvimento tecnológico e de outra parte por conta de um design e de uma concepção preliminar que dirigia a sua produção e concepção.

Outra característica muito conhecida é que ele tinha uma certa capacidade de constituir em volta de si um CAMPO DE DISTORÇÃO DA REALIDADE, que produzia a proeza de convencer a todos de que possuía a razão, mesmo que houvessem muitas dúvidas a respeito disto.

Bem, talvez na cabeça dele seria um bom teste passar uma tarde com Sócrates para ver, afinal, em que pé andava, qual alcance e qual o poder ou limite de sua CDR.

Mas afinal, porque Steve queria falar com Sócrates? Responda você de novo a esta questão.

"I cannot teach anybody anything, I can only make them think." - Sócrates

Feliz Ano Novo aos Meus Alunos, Alunas, Amigos e Amigas Colegas e Parentes...toca em frente que 2013 acabou!!!!


HASTA LA VISTA BABY!!!

FONTES DE PESQUISA

COELHO, Ana Maria Magni. De Sócrates a Jobs. Lounge Empreendedor. 10/10/2011. (http://loungeempreendedor.com.br/2011/10/10/de-socrates-a-steve-jobs/)

COHEN, Otávio.
Frase da semana: “Trocaria toda a minha tecnologia por uma tarde com Sócrates” (Steve Jobs). BLOGS. SUPERINTERESSANTE. 07/10/2011 

DORO, Marcelo. Jobs e Sócrates. UPF. 2009

BOTRELL, Frederico. Adeus Mrs. Jobs. O ESTADO DE MINAS. 06/10/211. (http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2011/10/06/internas_economia,254457/adeus-mr-jobs.shtml)

RONAI, Cora. Adeus, Steve Jobs. cora rónai | internETC. uma espécie de diário. 05/10/11 

CRUZ, Patrick. Entrevista com Carmine Gallo: As Lições de Inovação de Steve Jobs – E como aprender com elas. PORTAL IG. 21/06/11. 

THE 100 GREATEST STEVE JOBS QUOTES. 
  


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