Me sinto um trabalhador, mas
creio que sou ou pertenço à classe média baixa desde 1970-1980. Me esfolei todo
– o que inclui minha família inteira - para sobreviver aos anos 80, lutando por
democracia e fim da inflação, mas consegui obter um diploma universitário nos
90 e tive ganhos reais e significativos para todos os lados de minha família
(casa própria, emprego, educação, etc), só nos últimos doze anos.
Penso que esta classe média que
agora reclama o tempo todo, bota defeito em tudo e é intolerante ao problemas
dos outros, tem simplesmente investido seus ganhos de "capital" e
culturais, no lugar errado e nos ideais errados. Não tenho a menor ideia se são
assinantes da Veja ou se assistem o Manhattan Connection. Mas eu não tenho a
menor dúvida de que de economia não entendem nada, não sabem nada sobre gestão
pública, não tem compromisso nenhum, nem em detalhe e nem no todo, com qualquer
tipo de projeto de sociedade e são individualistas ao externo (vejo isso de
forma gritante no trânsito e no cotidiano) dando pouco dos eu tempo para
qualquer assunto coletivo ou social e para terminar - pela forma como assistem
e aplaudem certos espetáculos de indignidade e perversão, aplaudindo e se
ufanando ou se vangloriando com certas barbaridades - com certeza não tem
nenhum conceito mais largo de justiça.
Não defendem igualdade em assunto
nenhum e desdenham claramente da democracia e seus desafios. Eles estão
prontinhos para um Governo Recessivo do PSDB ou autoritário de qualquer jaez
que navegará culpando o Governo do PT anterior pelos ônus e dramas que vão
criar a partir de suas próprias medidas, simplesmente farão isto para voltar a
concentrar mais renda em cima e para os de cima e para garantir um novo trunfo
no sistema de exploração na relação capital e trabalho.
Esta classe média irá para as
ruas somente quando estiver completamente esfarrapada e seguindo uma liderança
de ultra direita para fazer a faxina geral da nação - o que inclui a extinção
seja pela guerra, seja pela violência generalizada entre classes, de si mesma.
Esta classe média adora soluções
absolutas e completas. Cultiva uma ilusão de infalibilidade e passa 90% do seu
tempo falando mal do Brasil. Não se trata somente de um complexo de vira-latas
não. São cidadãos muito honestos e probos que não litigam por direitos que não
lhes cabem, não abusam de privilégio algum e jamais tentam tirar vantagem sobre
os outros.
Mas se você perguntar onde é
melhor viver e para onde ela iria vai descobrir que ela não aceitaria certas
obrigações que lá se impõe para a vida boa e a qualidade de vida. Dai é o fim.
Ou não....ou ela amadurece, cresce histórica e politicamente e assume seu papel político e cultural nesta
história e pára de se acomodar e ficar reclamando dos outros sem definir seu
próprio papel....o que ela realmente precisa mesmo é TRABALHAR, TRABALHAR E
TRABALHAR, mas sem alienação e achismo...e fazer política ora essa, para não
sofrer a política dos outros...
Penso também que esta classe
média...ou esta elite quer arriscar...virou apocalíptica e tem tido a suas
recaídas (faço referência aqui à metade da entrevista do filósofo Paulo Eduardo
Arantes sobre o fim da polarização e os novos apocalípticos)...começou a
acreditar de novo em papai noel...eles estão precisando de uma recessão....é
basicamente isto...para voltar a ter gosto pela vida e serem sacrificados de
novo...estão vivendo no maior conforto das suas vidas, mas...projetam suas
insatisfações vitais na sociedade e querem resolver seus problemas subjetivos
nela....
Já fui vendedor de espelhinhos na
estação rodoviária de São Leopoldo...e é basicamente isso que esta classe média
precisa: UM ESPELHINHO DE PEÃO PARA SE ENXERGAR POR INTEIRA!
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