"(...) podemos distinguir,
grosso modo, três tipos de objeções: as que negam a capacidade do espírito de
penetrar as aparências (o ceticismo), as que negam a "realidade" (o
niilismo), e as que afirmam a impossibilidade de articular e comunicar a
penetração (o misticismo). (..) Embora vindo de direções diferentes, cada um
desses tipos de objeção faz periclitar o edifício da civilização e ameaça o
mergulho no caos. O caos, sendo insuportável, as objeções são praticamente
inaceitáveis. O ceticismo epistemológico, o niilismo ontológico e o misticismo
religioso são ensinamentos impraticáveis. São refutados, praticamente, pela
continuação da vida, isto é, pela vivência que temos do conhecimento, da
realidade e da revelação comunicável da verdade. São posições que podem ser
assumidas, precariamente, por instantes fugazes, por espíritos isolados.
Entretanto, essa refutação não diminui a vitalidade teórica das objeções
levantadas. A mera possibilidade dessas objeções mergulha todo o esforço do
espírito, portanto toda a civilização, num clima de pragmatismo superficial,
num clima de frustração e inautenticidade."
(Vilém Flusser, Língua e Realidade).
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