“Gostaria de me insinuar sub-repticiamente
no discurso que devo pronunciar hoje, e nos que deverei pronunciar aqui, talvez
durante anos. Ao invés de tomar a palavra, gostaria de ser envolvido por ela e levado bem além de todo o começo
possível. Gostaria de perceber que no momento de falar uma voz sem nome me
precedia há muito tempo: bastaria, então, que eu encadeasse, prosseguisse a
frase, me alojasse, sem ser percebido, em seus interstícios, como se ela me
houvesse dado um sinal, mantendo-se, por um instante, suspensa. Não haveria, portanto,
começo; e em vez de ser aquele de quem parte o discurso, eu seria antes ao acaso
do seu desenrolar, uma estreita lacuna, o ponto do seu desaparecimento
possível.”
MICHEL FOUCAULT – A ORDEM DO DISCURSO
– Discurso de posse no COLLEGE DE FRANCE, 02/12/1970.
Não consigo, e não é somente
neste texto, cujo exemplo me assombra agora, não me impressionar e não ficar intrigado
com esta prosa, deste homem, desta forma e com estas palavras em cadeia. E, ao conhecer Ian Hacking, o qual soma-se,
então, impertinentemente e abruptamente a outros, me ocorreu que é bem a hora
de volver a los 17....
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