A palavra filosofia
é sempre e geralmente cunhada e analisada etimologicamente pelas expressões
amor (em grego filia) e sabedoria (em grego sofia), o filósofo seria um amigo
ou amante da sabedoria. Sempre preferi dizer que o filósofo é o amante da
sabedoria ou aquele que tem amor pela sabedoria e sei já que para alguns isso
tem um significado ultrapassado ou não corresponde às suas preferências ou
predileções conceituais e lógicas. Pois eu continuo neste caminho de procurar
dar sentido afetivo a esta atividade e não tenho me afastado de um encontro com
ela em que além do estranhamento e admiração, o espanto – me foi dado gosto
pela atividade, o qual a medida que fui desenvolvendo e praticando se pode chamar
também de um certo amor.
Aristóteles
abre curiosamente uma de suas diversas lições sobre o conhecimento afirmando
que “todos os homens tem desejo de conhecimento” e que “uma prova disto é o
prazer das sensações”. Já gastei e vou ocupar ainda algumas aulas abordando
esta pequena passagem e procurando mostrar o quanto é preciso que esta
expressão de Aristóteles seja entendida não como uma esperteza de professor que
procura cativar ou capturar a curiosidade de seus alunos e a atenção deles. Mas
sim porque devemos atentar como uma gigantesca e muito severa solução para o
problema de demonstrar como nossa alma intelectiva se ocupa com os objetos dos
sentidos, com as coisas, e tem algum prazer ao conhecê-las. E como, em uma
pequena anotação agora, de uma pequena curiosidade ou admiração nós ascendemos
ao conhecimento das causas últimas e primeiras e contemplamos a verdade
conquistando a sabedoria. No caso aqui conquistar sabedoria só é possível com
gosto, com atenção, com perseverança e se realiza sim como uma forma de amor.
Com um único senão de que precisamos diferenciar o gosto pelo conhecimento do
amor à sabedoria no sentido de que este último é um fim em si mesmo e que o
primeiro se realiza também tendo em vista outras coisas, ainda que para aqueles
que o produzem seja também um fim em si mesmo. É assim que posso diferenciar o
desejo de conhecimento tendo em vista sua aplicação do desejo de conhecimento
que se realiza em si mesmo, per si.
Assim, digo a filosofia, não é somente um
processo de obtenção de conhecimento per si, mas que é um processo recíproco de
conquista da sabedoria em que ocorre uma certa sedução mútua entre o sujeito e
seu próprio objeto de conhecimento, ainda que este objeto não tenha vontade própria,
ressalvada a hipótese de que o pensamento possa ser um grande coletivo de idéias
que ao longo da história se materializam ou se instanciam neste mundo.
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