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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

SOBRE EXEMPLOS BONS E RUINS NA EDUCAÇÃO E O ATUAL MOMENTO DE TRANSIÇÃO

Agradeço ao Jairo Adriano de Mello que com suas provocações, opiniões e ideias foi o SPARRING mais uma vez sobre a educação aqui no meu mural...

Quando postei ontem meu texto sobre o meu orgulho de ser professor e minha esperança numa mudança de qualidade na educação, o que eu acabo designando em outros textos já por um MOMENTO DE TRANSIÇÃO NA EDUCAÇÃO ( ou seja, NEM CAOS, NEM CRISE),  um amigo meu resolveu me contestar usando um ou dois exemplos ruins do que anda acontecendo com a educação. Eu resolvi argumentar contra a opinião dele baseada em exemplos ruins listando uma série de coisas que considero argumentos e razões como as que seguem. E também resolvi dar umas bangornadas na concepção que ele esposa sem muita reflexão de fundo, em minha opinião, e faz isto baseado em suas observações e exemplos. Tomei aqui partes do texto do diálogo e debate nosso e resolvi transformar em um texto. Aliás é a segunda vez que faço isso com ele o que só indica a importância que dou para nossos debates e polêmicas.

Veja-se que trato aqui de opiniões – tanto na minha posição quanto na dele, ainda que diga que a minha opinião é forjada por certos argumentos e razões e a dele por observações – o que significa que elas não tem possibilidade ou a certeza de um conhecimento comprovadamente fatual. Elas se baseiam em observações pessoais, com uma diferença de perspectiva entre o professor que eu sou e ele que é o advogado bem observador, opinativo, polêmico, crítico e curioso. Devo reconhecer, portanto, desde já que é possível que eu esteja enganado e que de fato a educação brasileira está virando um caos, está em plena crise e decadente e que não há possibilidade de reversão deste quadro como afirmam outros observadores, como interpretam os especialistas baseados em dispositivos de avaliação e índices que não desconheço. Mas também penso que estes índices que ao meu ver não mensuram a mudanças que tenho observado, são insuficientes párea uma análise e para um desenho do desafio. As mudanças que eu vejo da minha perspectiva se apresentam em um momento de transição a partir da universalidade do acesso de uma conjuntura de evasão forçada pelo viés econômico da nossa sociedade – alto emprego e altas taxas de ocupação – e sob o impacto intenso ao meu ver das novas tecnologias (que mudam mesmo a vida e o pensamento das pessoas), somando-se a isso uma indefinição sobre os rumos de uma educação cuja universalidade é aquela que tem ainda as dificuldades e desafios do mundo inteiro numa definição de qualidade e função social da escola.

Sobre os exemplos eu diria isto que você pode colecionar comigo muitos exemplos ruins e outros podem colecionar os bons. Mas eu noto uma certa diferença entre estas coleções. Os exemplos ruins são os mesmos de 50 anos atrás, mas os bons são muito diferentes. O fato é que eu faço coleção positiva e tenho percepção disto porque trabalho com educação e vejo muito mais do que os exemplos ruins. Vejo os exemplos ruins, enfrento e encaro estes problemas de aprendizagem, déficits de aprendizagem dentro da escola. Eu vejo estas personagens que você pode selecionar para um filme sobre a tragédia na educação brasileira na escola. Mas não vejo só elas e nem vejo elas como definitivas. Até por conhecer elas vejo superações também. Mas existem outras personagens também. E a vida deles todos é bem dinâmica. Faz um bom tempo que por conta de adotar atividades e certas disposições de apoio aos jovens estudantes que eu me compadeço de muito sofrimento cotidiano na escola sobre eles, mas que também vejo que os mesmos, tem e precisam criar outras perspectivas e acabam, por isso, tendo outros desenlaces com nosso apoio. Já vi aluno problema evoluindo muito dentro e fora da escola, na vida, e já vi aluno ótimo e bom definhando no mundo. Não concordo com leituras estanques. Nem com avaliações definitivas e fechadas. Mas vejo, assim, a outra ponta deste processo também e talvez por uma necessidade de me manter alerta, afim e disposto tenho priorizado a leitura e a observação dos exemplos bons. Aos meus olhos o que pode parecer pouco para você, é grandioso para mim porque se apresenta dentro de um cenário cotidiano. Posso me perguntar, apesar disto, será que é porque vejo mais ou é porque procuro ver? Discuti isto na outra parte do ano sobre a qualidade da formação universitária tão criticada e eu lembro sempre neste debate que você e outros podem ficar olhando somente para o que quer ver.

Tenho muitos exemplos de energúmenos de diversos tempos e diplomados. Mas não creio que isto é coisa que deva ser atribuída exclusivamente às instituições. E conheço muitos gênios reprovados, incompreendidos, não assimilados e que não se adaptaram às formas dos sistemas de avaliação e às nobres expectativas dos demais sobre seus papéis neste mundo. Quando a gente começa a educar tendo consciência das diferenças entre as pessoas, dos tempos próprios de cada um, das habilidades de cada um e a pensar numa perspectiva inclusiva a gente aprende a sair do modelo de uniformidade educacional tão admirado e normalizado. Estes jovens atuais são muito diferentes e temos que cuidar para conhecer eles bem melhor antes de julgá-los ou decretar a sua falência cognitiva ou de aprendizagem. Aliás, estas são justamente duas coisas completamente irracionais tentar julgar eles a partir do nosso quadro cognitivo não ajuda e decretar alguma forma de falência, derrota ou fracasso também não ajuda. É bo ir mais devagar com o andor ai.  

Mas um gênio pode não saber pegar o ônibus também. E pode não saber fazer operações que você julga essenciais e, no entanto, vai lá e faz aquilo que você é incapaz de fazer. Assim, como um excelente profissional liberal pode não saber ter uma visão lateral, pode viver obnubilado ou bitolado pela sua perspectiva e seu cenário funcional ou operacional. E ele, também, como todos nós sabemos, pode sequer olhar para a usa própria vida com rigor e clareza precisando de um analista que o faça..calminha ai com o andor porque as pessoas precisam ser compreendidas e não espezinhadas..não importando muito se eles te lêem ou não.

O repetido e persistente gosto pela polêmica, neste tipo de debate, me parece muito arriscado e beirando ao sofista por sinal. Porque basear-se nos exemplos ruins é julgar a qualidade de uma empresa no setor de descarte, ou pelo índice de  recall que ela produz. A educação não pode ser medida assim, na minha visão. Até porque neste mundo produtivo não há descarte, pode haver desistência, abandono do processo, evasão, erro nos juízos, avaliações incorretas e fracasso, mas a vida continua igual lá no mundo. E Tudo segue porque as pessoas se adaptam a estas contingências algumas são bem resilientes e superam qualquer erro ou equívoco no sistema. Assim, para não reproduzir isto creio que é importante que se seja bem mais compreensivo neste tema. No meu caso pergunto se tens argumentos em relação ao que descrevi?

Assim, pergunto de outra forma defendes a Crise ou o Caos na educação? Com este argumento de um exemplo ou mais? Não cério que seja possível fazer isto. Não creio que vamos avaliar a qualidade da educação pelos tamanho do queixume ou da incompreensão das pessoas, mesmo daquelas que fazem parte do processo.

Acho que o exemplo é ruim, também porque eu conheci os filhinhos que concluíam o ensino médio de elite e que até hoje não sabem escrever uma linha sequer. E isto com mais de 50 anos de vantagem em relação aos teus exemplos ruins. A questão, então, não são os piores exemplos, nem os bons. Eu vejo outras coisas e não vou ficar empanando a minha realidade cotidiana por ignorância de um passado que foi muito pior que este haja vista a exclusão geral das pessoas do acesso a educação neste passado do qual alguns sentem saudade. Discuto aquilo que não é balizado pelo que você talvez tivesse que fazer uma arguição melhor sobre o que você e outros consideram os "níveis médios de conhecimento". Penso que este discurso é muito retórico, porque eu vejo os mesmos que pedem mais preparação dos profissionais fazendo esforços para contratar pessoas não qualificadas para baixarem seus custos de folha. E isso é uma bela reprodução de certo discurso ideológico que vagueia promovendo manada.

A pior parte disto é que precisamos transformar esta realidade, não somente descrevê-la e que hoje temos mais ferramentas para isto ainda que alguns se recusem em usá-las. Vim hoje comentando com minha esposa que é professora e com minha sogra que foi alfabetizadora um dia – cujos filhos todos tem curso superior e os netos estão no mesmo caminho - que temos que acabar com o ensino noturno e criar condições para o ensino integral até o terceiro ano do médio e quiçá promover condições para acabar com esta terrível educação em jornada de 16 horas (ônibus-trabalho-almoço-ônibus-universidade-ônibus-Casa) que muitos jovens universitários tem enfrentado e que foi parar com razão nas ruas em junho.

Que tal pensarmos nisto amigo? - isso não é não saber ler o ônibus, é hoje estar esgotado com a jornada semanal. Como é que você aprende algo assim?

Eu não devo e não posso avaliar os advogados a partir de minhas diversas experiências empíricas e práticas. Se bem que não posso reclamar disso. Tenho mais depoimentos ruins do que experiências ruins e tenho muitos amigos neste ofício. Quando avalias a educação parece julgar isto possível. Mas você sabe como eu que este modelo de raciocínio não é correto, nem justo, não dá para medir a qualidade pelo default. Ainda que você precise levantar uma estatística disto, ela precisa ser feita dentro de um quadro de tempo, com registros iniciais e finais e com todos os ajustamentos necessários para viabilizar uma interpretação deste processo. No nosso caso você deverá incluir novas variáveis na avaliação. E são variáveis decisivas nos últimos 30, 20, 10 anos da educação brasileira.

Há uma dissonância cognitiva ai amigo quando a gente lê a educação de forma jornalística ou opiniática. Não gosto, para dar um exemplo bem ilustrativo, de ser expressionista ou impressionista com a verdade, ou seja, não podemos avaliar a educação por nossas próprias impressões, nem pro nossa força de expressão. Estou argumentando aqui, portanto, não contra você, mas contra este método corrente e pouco correto de julgar as coisas que não observa certos detalhes e nem o quadro geral. O mesmo jornal que cita exemplos positivos na educação no dia do professor passa o ano todo dando notícias ruins e só as ruins. Não dá para julgar as coisas ao bel prazer e como lhe convém para vender jornais ou agradar o senso comum.

Vejo os problemas da educação há muito tempo, mas vejo mais soluções hoje, bem mais e coisas bem melhores no caminho hoje do que há 30, 20 ou 10 anos atrás.

Agradeço tua consideração e tuas ótimas provocações....


E peço escusas por toda esta minha retórica....

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