Quando eu li pela primeira vez
sobre aquelas brigas estúpidas com Moore e Russell que permeiam a elaboração
dos Notebooks e On Logic – isto é, de 1911 a 1914, já saquei que o bicho era
tinhoso. Mas convenhamos que todos nós temos amigos assim, muitos que se enchem
de manias para chegar em lugar algum e apenas diminuir ou até encobrir o valor
do que conseguem pensar e elaborar.
Mesmo assim continuei lendo ele e
tenho mais prazer ao ler ele hoje do que tinha na época da graduação – de 1989
a 1993. Um aluno em sala de aula sobre filosofia analítica, Bertrand Russell e
Ludwig Wittgenstein, quando perguntado porque Russell criticava a segunda
filosofia de Wittgenstein comentou ontem
(Daniel Freitas) com precisão. Ora, sobre a segunda filosofia de Wittgentein,
no vácuo de Russell e provocado pela questão do livro didático, que na real
Wittgentein abandonou os "verdadeiros problemas da filosofia" porque
não conseguia resolver eles e criou problemas novos que acreditava poder
resolver.
E eu ri comigo pensando que
talvez ele tenha criado bem problemas piores do que os já existentes e que suas
elucidações aumentavam o grau dos problemas seja por simplificação seja por
excesso em direções antes não divisadas e que, enfim, pelo menos agora tínhamos
problemas maiores para continuar filosofando.
Na vida, algumas pessoas não tem
casa, outras tem, algumas constroem casas, outras reformam casas e outras
destroem casas para construírem casas novas. Se todo destruidor da filosofia
tivesse que destruir a si mesmo, como parece evidente com alguns, então parece
que teríamos uma ideia do que Wittgentein fazia consigo mesmo sistemática e
repetidamente o que no círculo interno parecia exigir uma certa paranóia de
controle e domínio absoluto sobre os seus próximos.
Em todos os relatos que li da
vida dele a tal profunda contrariedade e desconforto aparece repetidamente. E a
auto punição também. O flagelo e a culpa pelo pensar e pelo viver que ele
impingia a si mesmo era algo. Eu só lamento...não foi uma vida desperdiçada,
mas que em muitos momentos ele vivia em frangalhos me parece que sim.
Dá para compreender todas as
aflições neste quadro e pensar o tipo de piedade ou curiosidade que movia seus
discípulos nisto tudo. Parece até que todos testemunhavam a possibilidade
iminente de que um pintassilgo explodir. Sempre à beira de um ataque de nervos
e com suas manias...E os amigos?
Aqui abre-se um capítulo muito
singelo de quem ele queria ter sido...(Ray Monk é alguém que deve saber bem
mais disto do que publicou em sua biografia de Wittgenstein.)
Mas continuo lendo ele e pensando nele, em especial em Da
Certeza, Uber Gewissheit ou On Certainty!
Valeu Renato Duarte Fonseca pela citação do artigo
lastimável e terrível!
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