Hoje iniciei o dia decidido a tratar deste tema. Uma grande
amiga criticou o cabotinismo do texto do Marcelo Rubens Paiva, não sem pedir
desculpas e isto me motivou de vez a terçar aqui algumas idéias que eu creio
que estão na tradição mais democrata e anti dogmática do nosso mundo ocidental.
Apesar de minha formação ideológica ser de esquerda tenho forte inclinação como
muitos brasileiros, aliás, eu e muitos companheiros e companheiras de meu
partido, nos colocamos sempre a defender mais democracia, a defender a radicalização
da democracia e a expressar isto com muita convicção tanto em discurso quanto
na prática, ainda que alguns tenham muita dificuldade para entender a
importância disto é o papel conciliador de quem defende isto.
Aliás, tive este debate com muitos companheiros no último
sábado e se confirma esta posição. Nós não disputamos o poder para possuir o
poder, mas sim para compartilhar o poder com a sociedade de forma mais radical.
O orçamento participativo é uma das formas disto como os conselhos e as conferências
e existem outras formas de democracia direta e participativa também na
sociedade e nas comunidades que precisam ser mais valorizadas e não
desprezadas.
Minha amiga e, aliás, grande intelectual e tradutora
brasileira Denise Bottmann merece todo meu apreço. Não precisa se desculpar. Eu
adorei o teu comentário por várias razões. A primeira delas é que quando
compartilhei o texto do Marcelo fiquei pensando em quem iria criticar o caráter
estereotipado dos professores que ele caracteriza. Em Relação a isto eu achei
engraçado, mas também fiquei pensando na história dele e de como deve ter sido
a infância dele sem ter uma boa explicação ou uma explicação correta para o
desaparecimento do pai. E assim mudei de plano no debate para entender o quanto
devia ter sido importante na biografia dele que em parte é narrada acima este
tipo de professor. O texto é um excerto de um texto maior publicado no jornal e
que vem junto de um ataque de certa forma ao projeto escola sem partido.
Eu tenho pensado muito sobre isto. Lido muita coisa. Desde
defesas solenes até ataques rebaixados e, também, ontem apareceu o primeiro
texto derrotista dando às favas contadas. Penso que o problema é que algumas
pessoas não conseguem sair do fla flu,do revanchismo eterno que se coloca hoje
no Brasil e que vem sendo cevado desde a primeira vitória do Lula. Tudo na
lógica de que a democracia só serve se eu vencer. E é um sinal claro do grande
conservadorismo da elite ou pseudo elite brasileira, o que inclui um montão de
gente que tem fantasias de classe e ilusões de consciência.
Sou professor a mais de 20 anos e nunca fiz proselitismo
político. Faço a crítica econômica, a crítica política, a crítica cultural, a
crítica também religiosa e, também, a crítica esportiva e não creio mesmo que
tenha mudado a cabeça de algum aluno, salvo ter atenuado suas crenças e
convicções, do mesmo modo que muitos alunos e alunas também tem feito isto
comigo.
Creio que a nossa sociedade, a escola e os professores
precisam mesmo é serem democráticos, liberar à crítica e sem culpa para todo e
qualquer tema. E isto é o contrário da censura. Já tive colegas professores de
direita que faziam proselitismo em sala de aula e os alunos vinham me denunciar
que eles faziam ataques pessoais e eu só respondia que eles são livres para
pensar o que quiserem e que eu gostaria de ver este debate aberto na escola com
cada professor defendendo suas posições perante todos e suportando o
contraditório. É isto que eu acho que o pessoal da escola sem partido não
aceita. Eles não aceitam que o contraditório às suas crenças e convicções seja
posto na escola. Eles tem aversão ao debate e tentam apenas ser a voz oficial
da verdade.
Do meu ponto de vista podemos transformar este debate num
belo pretexto para questionar os meios de comunicação, não para impedir eles de
terem partido, mas para garantir que todos os partidos e todas as formas de
pensamento tenham espaço também. O que o escola sem partido acaba trazendo à
baila é também a intolerância atávica e a paranóia de controle típica daqueles
que querem dominar a sociedade e os cidadãos de forma absoluta. É o velho impulso autoritário do senhor feudal
sobre as crenças e convicções dos seus servos e vassalos, o velho impulso
autoritário do colonizador sobre o colonizado, como o impulso autoritário do
rei sobre seus súditos, o impulso autoritário do senhor sobre o escravo e,
também, por último o velho impulso autoritário e sobejo de militares sobre civis,
dos poderosos sobre os oprimidos. E todos
sabem da intensa aversão que isto provoca em qualquer cidadão livre.
Eles, só para variar, não se contentam em ter o poder
político, eles querem ter também o poder intelectual, moral, cultural sobre os
pensamentos e as vidas das pessoas e é isto que nos não podemos aceitar. Porque
está autoridade é excessiva e um abuso para o qual eles não somente não tem
nossa autorização quanto sequer tem a competência intelectual, moral e cultural
para reivindicar isto. Até porque tal competência não está na cachola de
ninguém, de nenhum partido e de nenhum indivíduo.
Ora, eles precisam aceitar a democracia, a disputa de
hegemonia e deixar em aberto para cada cidadão que adote, critique, mude ou
conceba com sua própria reflexão a sua autonomia moral, cultural e intelectual.
Para mim a coisa mais absurda do escola sem partido é pretender atacar uma
suposta tentativa de tutela moral, cultural, intelectual, política e espiritual
através da instauração de uma grande tutela sobre todos aqueles que são
preparados para evitar justamente isto. É o big brother do Orwell em ação. E
por isto mesmo é um projeto que se for aprovado estará fadado no Brasil ao
descrédito e à superação. Já tentaram censurar tudo que é tipo de coisa no
Brasil e nunca deu certo. O escola sem partido não terá vez simplesmente porque
os cidadãos não vão aceitar serem tutelados!
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