"Há alguns raros escritores
que se abrem para qualquer pessoa de qualquer idade e em qualquer momento de
vida - Homero, Shakespeare, Goethe, Balzac, Tolstói. E há outros que somente em
um determinado momento se revelam em todo o seu significado. Montaigne é um
deles. Não se pode ser muito jovem, virgem de experiências e decepções, para
reconhecer adequadamente seus méritos, e o seu pensamento livre e imperturbável
será de especial valia para uma geração que, como a nossa, foi lançada pelo
destino em um alvoroço turbilhonante do mundo. Somente quem precisa viver na
própria alma abalada uma época que, com a guerra, violência e ideologias
tirânicas, ameaça a vida do indivíduo é, dentro de sua vida, a substância mais
valiosa, a liberdade individual , pode saber quanta coragem, quanta retidão e
determinação são necessárias para continuar fiel ao eu mais profundo nesses
tempos de manadas ensandecidos. Só ele pode saber que nada no mundo é mais
difícil é problemático do que conservar imaculada a própria independência
espiritual e moral em meio à uma catástrofe de massa. É preciso haver duvidado
e desesperado até da razão, da dignidade do homem, para poder tecer loas a quem
se mantém exemplarmente ereto em meio ao caos do mundo."
Stefan Zweig, Montaigne e a
liberdade espiritual. Tradução Kristina Michahelles. In: O Mundo Insone e
outros ensaios. Rio de Janeiro: Zahar, 2013, p. 16. (Lembra muito o
"somente quem apesar de tudo" de Max Weber em Política como vocação.)
Para a crítica da Desorganização
do Mundo.
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