Tenho tido experiências políticas
muito interessantes desde que o golpismo avançou e escancarou a face mais podre
da política brasileira em todos os espectros da esquerda à direita. O vale tudo
pelo poder sempre é visto de forma naturalizada e defendido como a dimensão
realista da ação política. Todos conhecem o argumento pragmático que orienta
discursos, ações, alianças e programas políticos. E a expressão de que num dá
para fazer omeletes sem quebrar os ovos e sua parceira de viagem de que não há
almoço grátis tem sido aplicadas com razoável disciplina e dissimulação por
muitos, senão quase todos. Os resultados estão aí. Uma parte da esquerda se
sente traída e outra parte derrotada, o eleitorado segue em grave desesperança
e os jovens ficam com aquela ousadia que lhes é tão peculiar esgrimindo
corajosamente contra isto é estão refletindo. A verdade bem redonda para mim
nesta matéria é que está dada a necessidade de mudanças de concepção, de
métodos e de práticas e que mesmo os objetivos da busca do poder precisam
mudar. Eu redefiniria mais ou menos assim: o poder e a busca do poder pode
testar, separar e dividir muito as pessoas, mas também pode unir numa mesma
compreensão da política aqueles que querem realmente mudanças com aqueles que
só querem o poder. Fiz uma fala ontem num contexto de debates políticos que eu
creio que pode dividir o mundo para nós militantes e para o outro grupo ou
categoria a qual pertenço dos educadores. A diferença mais fundamental para m
hoje está entre aqueles que querem o poder para possuir poder e aqueles que
querem o poder para compartilhar com a coletividade o poder de forma
Democrática. Os primeiros são guiados pela ambição pessoal, vaidade e em geral
agem e se comportam com muito ódio, raiva, revanchismo e disputando qualquer
espaço de poder como se fosse a coisa mais importante da vida. Nós de esquerda
não fomos buscar conhecimento nos bancos da universidade para possuir
conhecimento, mas sim para compartilhar com os demais. E com o poder temos que
ter a mesma lógica. Buscar o poder para compartilhar com aqueles que sempre
foram dominados, oprimidos e explorados. E fazer isto de modo que eles entendam
e defendam isto também. Porém, não sou pessimista, pois vejo que tal aspecto
tem ficado claro não somente para mim. Mas apesar de tudo já vejo mudanças.
Muita gente muito boa próxima da gente tem lutado contra o golpismo, militado
no sindicato e nos partidos de esquerda com a firme decisão de superar estas
ambições pessoais, superar a intolerância sectária e superar qualquer pretensão
à serem os únicos que pensam e que são sérios no debate político. Tenho mais
esperança então numa certa revolução cultural, espiritual e conceitual cuja
essência mais fundamental é sim a democracia, cujo método do diálogo, da escuta
e da formulação com respeito deve nos guiar. Vamos, então, andando nessa linha
até a eleição e provavelmente vamos ter um belo logo depois a confirmação de um
novo coletivo que vem vindo bem mais amplo de afinidades e que vem adiante se
estruturando. O poder pode sim nos testar, nos dividir, levar o caráter de
muitos à extremos, mas também pode nos provar, nos unir e equilibrar nossas
relações num novo conceito de poder para compartilhar e para libertar e não
mais para oprimir ou impor esta ou aquela forma ideal de política, proposta ou
projeto. É isto um idealismo excessivo? Ou temos sinais desta mudança já e da
sua necessidade sendo já satisfeita entre nós?
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