Assisti ontem O Sal da Terra de
Win Wenders sobre o extraordinário fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado até
onde consegui ficar acordado. Mas foi muito bom ver o que vi e ouvir a
compreensão dele do outro. Dá para entender porque a fotografia de Salgado é
tão reveladora do outro. As imersões dele no meio dos animais, na natureza e
nas culturas são praticamente um tratado de antropologia compreensiva. Se olhássemos
para os nossos semelhantes do cotidiano
com a mesma atenção e cuidado iríamos nos surpreender com o que descobriríamos deles e de nós mesmos. É um tratado de
humanização do humano. E aqui não dá para esquecer um Eduardo Coutinho que
também tinha um approach particular e sensível com o outro, com o próximo ou o
distante, com o estranho e o familiar. Salgado faz isso através de fotos e o
texto ou sub texto que imaginamos ao ver suas fotos fica ali nos mostrando o
que há de latente e singular na natureza, nas coisas, nos seres vivos e nas
gentes. É impressionante para mim que tenhamos tal sensibilidade profunda no
nosso tempo e que ainda convivamos com seus opostos em relação a tudo que há
neste mundo. Num tempo de destruição cultural, massacre violento e não
aceitação das diferenças. Num tempo de padronização da vida. Tal padronização
produz até mesmo a Vaidade Negativa, ou seja, aquela Vaidade tão mesquinha que
nega até mesmo a Vaidade do outro e a beleza do outro. Esta vaidade se mostra
na crítica aos selfies ou às exposições dos outros. O sujeito só pode aparecer
se for impessoal, indiferente ou padronizado. Também fiquei olhando aquelas
gentes mexicanas com as quais ele se envolveu no início da carreira me
perguntando como estariam hoje. E lembrei que parte disto nos desafia no tempo
e em nossa dimensão transcendental. As fotos de Sebastião são para mim uma
espécie de testemunho. Emocionante sim, mas moralmente e humanamente
desafiador. Wenders deixa ele falar em sua plenitude...
P.S. reescrevi e acrescentei algo
aqui, em especial, sobre a tal vaidade negativa cuja base é negar a vaidade do
outro e se preocupar muito coma exposição do outro. Com um viés crítico, mas
que expõe a si mesmo como censor moral ou vigilante do que pode ou não pode
aparecer neste mundo. .
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