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domingo, 4 de outubro de 2015

SAL DA TERRA - HUMANO E SALGADO


Assisti ontem O Sal da Terra de Win Wenders sobre o extraordinário fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado até onde consegui ficar acordado. Mas foi muito bom ver o que vi e ouvir a compreensão dele do outro. Dá para entender porque a fotografia de Salgado é tão reveladora do outro. As imersões dele no meio dos animais, na natureza e nas culturas são praticamente um tratado de antropologia compreensiva. Se olhássemos  para os nossos semelhantes do cotidiano com a mesma atenção e cuidado iríamos nos surpreender com o que descobriríamos  deles e de nós mesmos. É um tratado de humanização do humano. E aqui não dá para esquecer um Eduardo Coutinho que também tinha um approach particular e sensível com o outro, com o próximo ou o distante, com o estranho e o familiar. Salgado faz isso através de fotos e o texto ou sub texto que imaginamos ao ver suas fotos fica ali nos mostrando o que há de latente e singular na natureza, nas coisas, nos seres vivos e nas gentes. É impressionante para mim que tenhamos tal sensibilidade profunda no nosso tempo e que ainda convivamos com seus opostos em relação a tudo que há neste mundo. Num tempo de destruição cultural, massacre violento e não aceitação das diferenças. Num tempo de padronização da vida. Tal padronização produz até mesmo a Vaidade Negativa, ou seja, aquela Vaidade tão mesquinha que nega até mesmo a Vaidade do outro e a beleza do outro. Esta vaidade se mostra na crítica aos selfies ou às exposições dos outros. O sujeito só pode aparecer se for impessoal, indiferente ou padronizado. Também fiquei olhando aquelas gentes mexicanas com as quais ele se envolveu no início da carreira me perguntando como estariam hoje. E lembrei que parte disto nos desafia no tempo e em nossa dimensão transcendental. As fotos de Sebastião são para mim uma espécie de testemunho. Emocionante sim, mas moralmente e humanamente desafiador. Wenders deixa ele falar em sua plenitude...

P.S. reescrevi e acrescentei algo aqui, em especial, sobre a tal vaidade negativa cuja base é negar a vaidade do outro e se preocupar muito coma exposição do outro. Com um viés crítico, mas que expõe a si mesmo como censor moral ou vigilante do que pode ou não pode aparecer neste mundo. .

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