Meu admirável contemporâneo na
UFRGS, Eduardo Vicentini de Medeiros merece congratulações, pois se lançou com
a audácia necessária para conquistar o saber em uma nova aventura filosófica e
relata sua boa lição colhida na empreitada, assim:
“Me arrisquei em tema novo:
"Contrafactuais e moralidade" no XVIII Colóquio de Filosofia Unisinos
- Filosofia e Cognição.
Um belíssimo evento, com a
seguinte lição: você é filósofo e quer falar de neurociência? então aprenda a
ler EEG e fMRI, saiba o que está sendo medido e como...”
E eu creio ser bem importante
destacar isto neste momento em que a filosofia parece sair da caverna e ver a
luz do dia em sociedade neste pais. Porque não são tão somente as medidas de
EEG e fMRI, os métodos para fazer isto, os métodos para interpretar e as
consequências destas interpretações que se apresentam para nós hoje nos
domínios da nova epistemologia ou das ciências cognitivas, mas também os
debates sobre ética em nossa sociedade, sobre diferenças sociais e relações
sociais, sobre desigualdade e violência, sobre democracia e política e ainda
mais sobre amor, qualidade de vida e como vivemos - tudo isso que faz parte da
nossa grande experiência humana - que nos chama à reflexão tanto científica
como filosófica, que nos chama ao debate em sociedade para alargar a
compreensão sobre estes temas e mudar comportamentos sobre eles.
As provas do Enem neste final de
semana, não seriam o que foram - creio eu - sem
a bela passagem do Renato Janine Ribeiro e sua equipe, que inclui o menino
prodígio Alexey Dodsworth Magnavita, que devem ter pautado, com certeza com a
anuência e o conhecimento da presidenta Dilma Rousseff a questão da mulher. E
eu saúdo isto porque traduz exatamente aquilo que é o maior desafio da
filosofia numa democracia jovem como a brasileira que é estabelecer um diálogo
franco e aberto com toda a sociedade, reflexivo, provocativo e humanizador e
que também tenha escuta, que aprenda com a sociedade e descubra seus anseios. E
o tema da mulher com a devida referência cruzada a Simone de Beauvoir e á
realidade da mulher brasileira foi um
golaço de placa que precisa ser agora mais explorado por professores de boa
vontade e incluído nos debates. É a deixa que faltava para muitos que
consideravam o tema lateral ou externo ao afazer filosófico. Assim, como alguns
olham para a questão do negro pensando que é um tema de sociologia e esquecendo
que é justamente ai que o desafio prático de construção de igualdade na
diversidade se apresenta, como a questão da pobreza e também das outras ditas
"minorias" que não são.
Muitos outros debates, com o
auxílio das redes sociais são possíveis hoje. Mais acesso a informação,
bibliografia e referências, relatos e reflexões são possíveis hoje. E vejo,
então uma dialética fina sendo produzida aqui. Meus demais colegas que vejo
participarem deste processo cultural e de pensamento, ao seu modo. De poesia à
política, de arte à música, de teatro à dança, da sociedade á filosofia e da
filosofia ou das artes e humanidades à sociedade. Disse um dia que apostava em
uma superação da técnica por saturação tecnológica e cada dia me convenço mais
disto que o que será top de linha nos próximos anos são as letras, as artes e
as humanidades e suas novas relações com as demais ciências e com a nossa vida.
Comparto aqui, citando meus
colegas de formação ativistas mais próximos e novas relações e considero afins:
Alexandre Noronha Machado, César Dos Santos, Benedito Tadeu César, Gustavo
De Mello, Paulo Faria, Renato Duarte Fonseca, Roberto Horácio Sá Pereira,
Gregory Gaboardi, Marcia Tiburi, Elenilton Neukamp, Janio Alves, Rogerio P
Severo, Rogerio Saucedo, Rogério Lopes, Vanessa Marocco, Flavio Williges, Noé
Oliveira, Vinicius Wu, Jackson Raymundo,
Suzana Guerra Albornoz, Francisco Xarão, Simone Ferreira, e muitos
outros.
Creio que a história da filosofia
no Brasil teve apenas três momentos o primeiro foi predominantemente
escolástico, o segundo foi existencial ou continental e é bem recente e convive
ainda com a escolástica e este último é analítico e pós analítico. Ainda que
nem a filosofia analítica e nem o que é chamado de pós analítica esteja à
margem de preconceito, porque ocorre nele a superação e a inclusão de uma
temática mais existencial sob certa predominância de um método mais analítico.
Gosto muito do termo analítica existencial porque indica a superação da fase
crítica e internalizada da filosofia e a coloca de volta ao contato com as
ciências e a sociedade, ou, como alguns preferem, em contato com o nosso mundo
da vida e nossos afazeres existenciais e sociais.
Assim, eu fiquei pensando sobre
isto tudo ao ver as postagens de diversos colegas e ao ler também o programa
deste grande encontro que houve na Unisinos sobre Cognição e Neurociências e
sobre temas que, ao fim e ao cabo, tratam de interpretar ou revisar
interpretações da nossa experiência. E sempre lembro de Aristóteles e de
diversos outros filósofos que mantiveram um pé na "lógica" e outro na
"experiência". E muita filosofia boa saiu disto. Então, isto deve ser
uma nova onda experimental na filosofia de fato o que, entretanto, vai acabar
por nos trazer também uma nova metafísica destas novas experiências.
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