MEU CARO Renato Janine Ribeiro,
tens razão ao dizer o que diz, que para mim é como que uma moeda corrente falar
mal da educação brasileira e que isto é uma tolice muito reproduzida por um
certo senso comum preguiçoso, superficial e simplório. Parece uma versão do
viralatismo. Boa parte dos que falam somente da dimensão negativa do quadro
educacional brasileiro parecem negligenciar os trabalhos, esforços e dedicação
de outros.
Tem muita gente trabalhando de
forma extremamente determinada e não porque há uma competição, mas sim porque
colocam a sua vida neste trabalho. Aqui vale a mesma coisa que se diz sobre a
escolha da filosofia ou do estudo da filosofia. Quando se escolhe algo assim se
faz uma opção por certa forma de vida e muitos educadores que resistem à
neurose auto infligida ou sofrida, ao desestímulo e ao desprestígio, à falta de
valorização e reconhecimento, sem desistir e sem se entregar ao desânimo, devem
pensar algo assim.
Minha filha de 16 anos decidiu
ser Bióloga, não quer ser professora como a mãe, a madrasta e o pai, quer ser
pesquisadora e cientista, e eu fiquei feliz como um velho aristotélico que Olha
para a vida, a natureza e o mundo e cada vez encontra maus gosto em conhecer e
saber dela e dos seus seres e coisas. Mas a vida da ciência também não é fácil
no Brasil e, no entanto, muitos que escolhem este caminho sabem disto ou
descobrem e persistem porque escolhem isto como forma e sentido de viver.
Quem olha de fora pode julgar,
tripudiar e até mesmo erguer em voz alta sua opinião, preconceito ou presunção,
podem até alguns fazer um discurso depressivo e depreciativo, mas porque
haveria menos dignidade nestes trabalhos do que em qualquer outro? Não há! Eu e
minha esposa estávamos nos dirigindo para a escola em meio a uma tempestade
estes dias e falei para ela: é bem assim que é a educação hoje uma caminhada em
meio a tempestade e veja quão digno e importante é fazer isto para nós.
Quanto mais difícil o quadro,
mais nos empenhamos em levar a sério nosso trabalho, mais valorizamos os
esforços dos outros e dos nossos alunos, mais compreendemos o sentido
transcendente ou seminal do que fazemos. E eu tento sim seduzir, estimular e
apoiar os alunos e alunas a fazerem as mesmas escolhas que nós, porque é uma
vida difícil como qualquer outra mas que possui um sentido, uma compaixão e
paixão que parece redimir e superar todo sacrifício, problema ou dificuldade.
Cada vez tenho uma crença mais forte nisto.
E ontem quando pela manhã uma
aluna do séquito de alunas mais queridas e afetuosas que possuo me disse que
queria ser professora de biologia fiquei feliz e então ela me olhou com seus
olhos miudinhos e disse que, porém, nenhuma pessoa na família dela valorizava isto
w eu fiquei quieto pensando até agora sobre isto para dizer que não importa,
pois algumas coisas e sentidos de nossas ações e escolhas só ganham sentido por
e com aqueles que fazem as mesmas escolhas e que tem os mesmos gostos e
paixões. Sei que ela vai ler meu comentário aqui e sei que seus olhos vão
brilhar e que ela vai seguir seu sonho, pois tem prazer em conhecer e em
descobrir o conhecimento e obtém prazer ao ver este mesmo prazer nos outros.
Como eu e você e todos aqueles
que escolheram este estranho caminho do conhecimento e das dúvidas, da educação
e da cultura. Que a Tamara s leia isso e se sinta abraçada e apoiada! A
educação tem futuro e enquanto a cachorrada late a caravana passa.
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