Após uma espécie de caçada
adquiri finalmente esta obra que foi minha primeira indicação favorável à leitura
de Walter Benjamin, já nos anos 80 em uma estante da Biblioteca do Instituto
Goethe, mas que tem mais do que isso dentro e que me anda provocando desde
então muito sobre o tema e que me mantém como que mergulhado nela – se soma a ela
para mim Sob o signo de Saturno, e suas outras obras e ensaios, mas agrega um
questionamento crítico e de limite que bloqueou de certa forma meu ímpeto compreensivo,
interpretativo, explicativo e racionalizante no último período. (Se não
suportares esta lista de habitus em progressão e com diferenças: Uive!) Deste
ímpeto restam em aberto pelo menos uns cinco ensaios sobre obras de arte diferentes.
Não porque tenha abandonado a função
ou desanimado neste hábito ou nestes projetos, mas porque resolvi repensar o meu
próprio pensar sobre a obra de arte (ou melhor dizer minha “interpretação” e
seus targets sobre as obras), além de começar a olhar também com outros olhos
tanto as obras filosóficas, quanto aos obras técnicas e científicas. Ainda que
muitos resistam a isto tendo a olhar muita coisa como objeto cultural,
produzido por um sujeito cultural, envolvido por uma história, métodos e
teorias, paradigmas e influências, que fazem a partir de seu existir sua auto-realização
ou ganha pão nessas obras.
Uma pequena citação que consta da
contra capa da edição da L&PM de 1987, na tradução da Ana Maria Capovilla,
e também com mais um acréscimo de parágrafo do item 4 na página 16 que vou
citar aqui do Primeiro Ensaio Contra a Interpretação que dá título à obra. Para
pensar, e para lembrar de Kant, Schopenhauer e Husserl numa tacada só:
“O nosso é um tempo em que o
projeto da interpretação é em grande parte reacionário, asfixiante. Como os
gases expelidos pelo automóvel e pela indústria pesada que empestam a atmosfera
das cidades, a efusão das interpretações da arte hoje envenena nossa
sensibilidade. Numa cultura cujo dilema já clássico é a hipertrofia do
intelecto em detrimento da energia e da capacidade sensorial, a interpretação é
a vingança do intelecto sobre a arte.
Mais do que isso. É a vingança do
intelecto sobre o mundo. Interpretar é empobrecer, esvaziar o mundo — para
erguer, edificar um mundo fantasmagórico de "significados". É transformar
o mundo nesse mundo. (Esse mundo! Corno, se houvesse algum outro.) O mundo,
nosso mundo, já está suficientemente exaurido, empobrecido. Chega de imitações,
até que voltemos a experimentar de maneira mais imediata aquele que temos.
(...)
O que importa agora é recuperamos
nossos sentidos. Devemos aprender a ver mais, ouvir mais, sentir mais.
Nossa tarefa não é descobrir o maior
conteúdo possível numa obra de arte, muito menos extrair de uma obra de arte um
conteúdo maior do que já possui. Nossa tarefa é reduzir o conteúdo para que
possamos vera coisa em si. (...) A função da crítica deveria ser mostrar como é
que é, até mesmo que é que é, e não mostrar o que significa.”
E eu tenho mesmo pensado neste
desafio de superação do intelectual ou de domínio dele a partir de certa exposição
ou direção do sensível e do que ainda não é um significado, mas que bordeja e
parteja o sentido e o significado da obra de arte. Sobre o limite do impensável
vejo a construção e produção da obra. Mas vamos com calma...
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