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terça-feira, 28 de abril de 2015

SOBRE CONTRA A INTERPRETAÇÃO - SUSAN SONTAG: BREVE ANOTAÇÃO



Após uma espécie de caçada adquiri finalmente esta obra que foi minha primeira indicação favorável à leitura de Walter Benjamin, já nos anos 80 em uma estante da Biblioteca do Instituto Goethe, mas que tem mais do que isso dentro e que me anda provocando desde então muito sobre o tema e que me mantém como que mergulhado nela – se soma a ela para mim Sob o signo de Saturno, e suas outras obras e ensaios, mas agrega um questionamento crítico e de limite que bloqueou de certa forma meu ímpeto compreensivo, interpretativo, explicativo e racionalizante no último período. (Se não suportares esta lista de habitus em progressão e com diferenças: Uive!) Deste ímpeto restam em aberto pelo menos uns cinco ensaios sobre obras de arte diferentes.

Não porque tenha abandonado a função ou desanimado neste hábito ou nestes projetos, mas porque resolvi repensar o meu próprio pensar sobre a obra de arte (ou melhor dizer minha “interpretação” e seus targets sobre as obras), além de começar a olhar também com outros olhos tanto as obras filosóficas, quanto aos obras técnicas e científicas. Ainda que muitos resistam a isto tendo a olhar muita coisa como objeto cultural, produzido por um sujeito cultural, envolvido por uma história, métodos e teorias, paradigmas e influências, que fazem a partir de seu existir sua auto-realização ou ganha pão nessas obras.

Uma pequena citação que consta da contra capa da edição da L&PM de 1987, na tradução da Ana Maria Capovilla, e também com mais um acréscimo de parágrafo do item 4 na página 16 que vou citar aqui do Primeiro Ensaio Contra a Interpretação que dá título à obra. Para pensar, e para lembrar de Kant, Schopenhauer e Husserl numa tacada só:     

“O nosso é um tempo em que o projeto da interpretação é em grande parte reacionário, asfixiante. Como os gases expelidos pelo automóvel e pela indústria pesada que empestam a atmosfera das cidades, a efusão das interpretações da arte hoje envenena nossa sensibilidade. Numa cultura cujo dilema já clássico é a hipertrofia do intelecto em detrimento da energia e da capacidade sensorial, a interpretação é a vingança do intelecto sobre a arte.
Mais do que isso. É a vingança do intelecto sobre o mundo. Interpretar é empobrecer, esvaziar o mundo — para erguer, edificar um mundo fantasmagórico de "significados". É transformar o mundo nesse mundo. (Esse mundo! Corno, se houvesse algum outro.) O mundo, nosso mundo, já está suficientemente exaurido, empobrecido. Chega de imitações, até que voltemos a experimentar de maneira mais imediata aquele que temos.
(...)

O que importa agora é recuperamos nossos sentidos. Devemos aprender a ver mais, ouvir mais, sentir mais.

Nossa tarefa não é descobrir o maior conteúdo possível numa obra de arte, muito menos extrair de uma obra de arte um conteúdo maior do que já possui. Nossa tarefa é reduzir o conteúdo para que possamos vera coisa em si. (...) A função da crítica deveria ser mostrar como é que é, até mesmo que é que é, e não mostrar o que significa.”

E eu tenho mesmo pensado neste desafio de superação do intelectual ou de domínio dele a partir de certa exposição ou direção do sensível e do que ainda não é um significado, mas que bordeja e parteja o sentido e o significado da obra de arte. Sobre o limite do impensável vejo a construção e produção da obra. Mas vamos com calma...      


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