"(...) Quem quer que se recuse a
obedecer a vontade geral deve ser compelido pelos seus concidadãos a
obedecê-la. O que nada mais é do que dizer que pode ser necessário obrigar um
homem a ser livre (...)"
Do Contrato Social.
Estes dias usei esta citação contra-intuitiva,
após uma citação típica de intelectual no contexto de um debate político, para
alertar que em alguns momentos precisamos libertar as pessoas de suas próprias
idéias que as aprisionam e as privam de uma verdadeira liberdade e de uma vida
autônoma. E também para alertar que persistir de um modo quixotesco em pensar
sozinho e fazer discurso solitário também é uma forma de prisão subjetiva. A
analogia é dolorosa, mas pode ser repetida aqui: as vezes precisamos libertar
as pessoas de si mesmas. Sei que isso é de uma tremenda arrogância intelectual,
pretender libertar alguém de seu próprio pensamento, portanto, daquilo que ele
julga ser justamente o fundamento de sua liberdade. Sei bem que a resistência
individual a uma expressão destas é bem razoável, pois envolve a tentativa de
ser insubordinado, livre, pensar por si mesmo, mas há ai também a possibilidade
de se manter numa grande odisséia de auto-engano.
Porém, passados já meus quase
trinta anos do primeiro contato com esta expressão (“obrigar a ser livre”),
passados também meu assombro ao comentário feito sobre ela por outros contra a
vontade individual que a embasa - o que inclui aqui pelo menos dois mestres
meus - hoje devo dizer que não, que esta expressão não é mesmo uma bobagem.
Que de fato alguns são
prisioneiros de seus delírios intelectuais, convicções políticas, paixões
materiais, crenças religiosas e carências morais e mesmo com muita erudição - e
às vezes o excesso de erudição acrítica promove um aprisionamento maior do que
a ignorância singela - não conseguem libertar a si mesmo das cadeias de um
pensamento que jamais, no conceito de Rousseau, poderá ser aceito como vontade
geral. Bem, só para complicar um pouco a interpretação lanço mão de um problema
dominical - que depois da missa e de todos os votos de caridade, bondade e
perdão possíveis - como é possível que a REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL seja de
alguma forma a expressão da vontade geral?
O comentário e a problematização
do Francisco Ferraz, citado no Blog O VERMELHO, pode ajudar a abrir esta picada
com o que segue :
"A ideia articula a
liberdade individual com a vontade geral. Quando ambas coincidem, o indivíduo é
plenamente livre. Quando divergem, as pessoas devem ser obrigadas a aceitar o
ditame da vontade geral, porque somente assim serão livres."
Mas ainda assim proponho o
problema e o deixo em aberto para quem quiser resolver.
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