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domingo, 19 de abril de 2015

JEAN-JAQUES ROUSSEAU - NON SIMPLICITER

"(...) Quem quer que se recuse a obedecer a vontade geral deve ser compelido pelos seus concidadãos a obedecê-la. O que nada mais é do que dizer que pode ser necessário obrigar um homem a ser livre (...)"
Do Contrato Social.

Estes dias usei esta citação contra-intuitiva, após uma citação típica de intelectual no contexto de um debate político, para alertar que em alguns momentos precisamos libertar as pessoas de suas próprias idéias que as aprisionam e as privam de uma verdadeira liberdade e de uma vida autônoma. E também para alertar que persistir de um modo quixotesco em pensar sozinho e fazer discurso solitário também é uma forma de prisão subjetiva. A analogia é dolorosa, mas pode ser repetida aqui: as vezes precisamos libertar as pessoas de si mesmas. Sei que isso é de uma tremenda arrogância intelectual, pretender libertar alguém de seu próprio pensamento, portanto, daquilo que ele julga ser justamente o fundamento de sua liberdade. Sei bem que a resistência individual a uma expressão destas é bem razoável, pois envolve a tentativa de ser insubordinado, livre, pensar por si mesmo, mas há ai também a possibilidade de se manter numa grande odisséia de auto-engano.

Porém, passados já meus quase trinta anos do primeiro contato com esta expressão (“obrigar a ser livre”), passados também meu assombro ao comentário feito sobre ela por outros contra a vontade individual que a embasa - o que inclui aqui pelo menos dois mestres meus - hoje devo dizer que não, que esta expressão não é mesmo uma bobagem.

Que de fato alguns são prisioneiros de seus delírios intelectuais, convicções políticas, paixões materiais, crenças religiosas e carências morais e mesmo com muita erudição - e às vezes o excesso de erudição acrítica promove um aprisionamento maior do que a ignorância singela - não conseguem libertar a si mesmo das cadeias de um pensamento que jamais, no conceito de Rousseau, poderá ser aceito como vontade geral. Bem, só para complicar um pouco a interpretação lanço mão de um problema dominical - que depois da missa e de todos os votos de caridade, bondade e perdão possíveis - como é possível que a REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL seja de alguma forma a expressão da vontade geral?

O comentário e a problematização do Francisco Ferraz, citado no Blog O VERMELHO, pode ajudar a abrir esta picada com o que segue :

"A ideia articula a liberdade individual com a vontade geral. Quando ambas coincidem, o indivíduo é plenamente livre. Quando divergem, as pessoas devem ser obrigadas a aceitar o ditame da vontade geral, porque somente assim serão livres."

Mas ainda assim proponho o problema e o deixo em aberto para quem quiser resolver.

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