"Em 1532, o conquistador
Pizarro aprisionou o inca Atahualpa, em Cajamarca. Pizarro prometeu-lhe a
liberdade se o inca enchesse de ouro um grande quarto. Desde os quatro cantos
do Império, o ouro chegou e abarrotou o quarto até o teto. Assim mesmo, Pizarro
mandou matar o prisioneiro. Desde quando as primeiras caravelas apontaram no
horizonte, até nossos dias, a história das Américas é uma história de traição à
palavra: promessas quebradas, pactos descumpridos, documentos assinados e
esquecidos, enganos, ciladas. “Te dou minha palavra” pouco mais quer dizer do
que... nada! Não teríamos que aprender com os índios? Os primeiros habitantes
das Américas – derrotados pela pólvora, pelos vírus, pelas bactérias e pela
mentira – compartilham a certeza de que a palavra é sagrada. Um indígena
mapuche, ao sul do Chile, diz: “para nós, ainda hoje, a palavra continua sendo
o maior dos monumentos”. Um indígena avá-guarani, no Paraguai, diz: “a palavra
vale porque é nossa alma. Não precisamos colocá-la no papel para que nos creiam.
Na Guatemala, em 1995, já no período que chamam “democrático”, militares
executaram a matança da comunidade indígena de Xamán. Havia uma montanha de
provas que condenavam os assassinos. A secretária que transcreveu o auto
processual cometeu um erro ortográfico na qualificação penal: escreveu
“ejecusión” com “s” em vez de “c”. Os advogados do exército sustentaram que
esse delito, escrito assim, com “s”, não existe. O promotor protestou: foi
ameaçado de morte e partiu para o exílio."
Autor: Eduardo Galeano
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