Um colega da filosofia muito caro
meu, afirma ao linkar este que “Muitos colegas da filosofia torcem o nariz pra
ele, consideram-no algo como um impostor, que se mete onde não devia e tal
("que fique com os romances"). Bernard Williams o admirava. Pra mim,
um exemplo simpático de lucidez.” (Renato Duarte Fonseca) e outro ao comentá-lo
lembra Deleuze “que tinha medo de Eco, dada a erudição dele.”
Muitos filósofos torcem o nariz
para qualquer coisa que não faça parte da sua dieta confortável e previsível
até de problemas e soluções, métodos e teorias. Porém, isso não é uma refutação
do que ele ou outros pensam, nem mesmo chega a ser uma negação cujos termos
sejam claros é apenas uma questão de gosto, de hábitos e de preferências e nem
justificações nem demonstrações são apresentadas. Eco tem muitas virtudes, uma
delas é de ótimo escritor a outra é de realizar uma reflexão própria que muitas
vezes nos surpreende "porque nunca pensei nisso?", mas também tem a
erudição e a leitura, a interpretação e a capacidade de transmissão e síntese
que poucos possuem. Todos nós devemos
temer a erudição, pois quem tem erudição possui uma mais larga fonte de onde
podem vir coisas velhas ou novas por afirmação, negação, correção ou superação.
E só o manejo deste acervo ou arquivo cultural requer muita lucidez mesmo.
Então, tem razão sobre a lucidez dele Renato e eu creio que ele faz algo que
alguns filósofos julgam que não é mais tarefa deles produzir um olhar crítico
ou uma perspectiva crítica sobre o mundo, sobre a vida e sobre o modo como
olhamos para isso.
E, só para pegar o texto, creio
que sim, que a Internet - ou certa produção de informação e debates via internet
- vai não somente tomar o posto do jornalismo mau, mas vai calhar por
destruí-lo porque junto disso eu creio que vai ocorrendo também uma depuração
das informações e se ampliando o debate sobre tudo que é veiculado de forma
inconteste ou pouco rigorosa nas mídias. E isso envolve o jornalismo e a
internet numa luta por sobrevivência entre qualidade e instantaneidade.
Lendo a entrevista dele (EL PAIS - "A INTERNET VAI TOMAR O LUGAR DO JORNALISMO MAU" UMBERTO ECO.) eu creio que ele já cumpre o
papel de apontar a necessidade de mais discernimento e senso crítico na leitura
de tudo, o que aliás é sempre recomendado, independente da fonte, da erudição
da fonte e de sua lucidez, da autoridade do jornal, da tradição ou da simpatia
do novo emissor de notícias. A distinção dele entre fatos relevantes e pura
lama deveria depurar o conteúdo de muitos juízos por ai e talvez poderia
melhorar os debates também e quem sabe salvar o jornalismo do seu fim. E a
única forma do jornalismo se salvar será justamente ele voltar a ser um orgão
confiável de produção e difusão de
notícias, informações e opiniões sobre fatos. Ou seja, ou se acaba com a
máquina de lama ou o jornalismo não sobrevive mesmo. Parece um imperativo e o
problema de todos os imperativos é justamente o mesmo de sempre: quem terá
juízo para reconhecê-lo e lavá-lo até as últimas conseqüências? Com a palavra
os jornais que ainda querem sobreviver, nem que para isso virem semanários mais
depurados e façam a crítica com qualidade das notícias divulgadas na
imediatidade da internet e dos noticiários de teve. Creio que isso envolve um
movimento de slow devolvendo ao
jornalismo de qualidade o ritmo e a profundidade semelhante ao dos anos
60 e 70. Quando tinha dez anos certas
notícias chegavam com uma semana de atraso, mas chegavam, mais tratadas e bem
informadas. Isso também significa que a notícia instantânea deveria exigir mais
critério em sua edição e formatação. O que me lembra aquela serie NEWSROOM...
Por fim, não dá para ter uma
perspectiva nem positiva nem negativa a priori, pois a síntese temporal disso ainda aguarda um
outro futuro cuja descrição ainda não possuímos. Isso é então um juízo
acompanhado de uma conjectura, mas vem de Eco que justamente se dedica a
refletir sobre isto e que sabe bem conjecturar. Vamos ver....
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